Osorio, o personagem de Jorge Amado

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Lançado em 1959 e adaptado ao cinema em 2010, “A morte e a morte de Quincas Berro D’Água” é um dos romances mais conhecidos do escritor brasileiro Jorge Amado. A obra conta a história de um homem devoto de festas e vadiagem e de como os amigos se recusam a assimilar a morte dele. O futebol brasileiro também tem atualmente um personagem que está morto, mas segue vivo: Juan Carlos Osorio, colombiano que treina o São Paulo.

A história de Osorio no São Paulo é uma sucessão de erros desde o início. Oriundo do Atlético Nacional (Colômbia), o treinador foi apresentado no início de junho de 2015 – Milton Cruz vinha ocupando interinamente o cargo na equipe paulista desde a saída de Muricy Ramalho. Osorio foi escolhido por causa do perfil (tem formação na Uefa, já trabalhou na Inglaterra, estuda tática e tem uma visão de futebol que chamou atenção da diretoria tricolor), mas não foi a primeira opção. Quando foi contratado, a cúpula do clube chegou a mentir sobre viagens à Colômbia e o andamento da negociação.

No São Paulo, Osorio mostrou desde a chegada uma preocupação com a adaptação. O colombiano sempre se esforçou para falar português e transferiu a família para o Brasil, por exemplo. Foram vários os sinais de que ele estava interessado em conhecer mais do novo país.

Em campo, contrapartida, Osorio tentou implantar seu estilo. O colombiano inseriu questões como rodízio de atletas, jogadores usados em posições diferentes e alterações drásticas durante as partidas, estratégias pouco usuais no futebol brasileiro. O estranhamento começou aí.

A impressão que se tem de fora é que não houve uma preparação do elenco do São Paulo a Osorio. Tampouco houve um briefing adequado ao treinador sobre o que ele encontraria no clube. Oito jogadores deixaram a equipe durante o Campeonato Brasileiro (Rafael Tolói, Denilson, Souza, Jonathan Cafu, Paulo Miranda, Boschilia, Ewandro e Dória), e a crise política interferiu sobremaneira no trabalho do colombiano.

Os erros de comunicação na escolha, na negociação, na gestão do elenco e na relação com o profissional já seriam suficientes para fazer do episódio Osorio um caso de estudo no futebol brasileiro. Contudo, a situação ficou ainda mais insólita quando o treinador recebeu uma sondagem da seleção mexicana de futebol.

Desde que o nome de Osorio começou a circular na imprensa mexicana, não houve um dia em que esse assunto tenha sido ignorado no dia a dia do São Paulo. A decisão do treinador, o pensamento da diretoria sobre isso, os planos B e C da equipe, os motivos do colombiano…. Tudo virou assunto mais relevante do que o desempenho da equipe que está nas semifinais da Copa do Brasil e ainda briga por vaga na Copa Bridgestone Libertadores do ano que vem.

Como acontece em negociações arrastadas de jogadores, chama atenção no caso Osorio a falta de transparência de todos os lados. Também é acentuado o vazamento de informações que só contribuem para que o assunto seja abordado constantemente e de forma rasa.

Com muita gente falando sobre e muitas informações desencontradas, o caso Osorio tornou-se um reflexo do atual momento político do São Paulo, um clube esfacelado por problemas internos. É difícil medir o quanto isso afeta o trabalho em campo, mas é claro que um ambiente assim não é o ideal para nenhum tipo de profissional.

Um jogador do São Paulo não sabe hoje, por exemplo, se o treinador dele terá vida longa – ou se terminará o ano no clube, pelo menos. Não sabe, tampouco, se é possível confiar nos conceitos de futebol que o colombiano apresentou – a diretoria escolheu o profissional por causa de uma ideia de futebol, e a saída de Osorio representaria também a saída dessa ideia.

O momento político do São Paulo tem a ver com a saída de uma série de jogadores e com o desgaste na relação de Osorio, profissional que hoje não mantém bom diálogo com praticamente ninguém na cúpula do clube. Mas se existe um aspecto em que a crise do clube paulista se manifesta de forma mais clara, esse aspecto é a comunicação.

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