A receita sustentável

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As receitas de marketing dos clubes crescem exponencialmente a cada ano. Novos contratos bilionários de direitos de TV são assinados, patrocínios vultuosos batem recordes, estádios com ingressos esgotados durante toda a temporada são comemorados nas principais ligas, produtos licenciados dos grandes clubes fazem sucesso pelos quatro cantos do mundo. Sem contar os valores obtidos com as transferências de jogadores que não entram na conta de receitas oriundas de marketing. Esses fatores dão a falsa ilusão que o futebol é hoje um produto economicamente saudável, mas a realidade ainda é bem diferente.

Ao mesmo tempo que o dinheiro que entra é cada vez maior, as exigências para manter os grandes craques no clube também aumentam. Ao contrário de uma empresa tradicional em qualquer setor, as instituições esportivas são movidas por um lado passional muito forte, onde a pressão da torcida, para que seu clube ganhe títulos, faz com que os seus gestores, por muitas vezes, cometam verdadeiras loucuras para contratar e manter um elenco recheado de estrelas. Historicamente, o importante para o torcedor é que o seu time vença em campo.

Segundo o estudo “Club Licensing Benchmark Report” referente à temporada 2015 publicado pela UEFA, a receita dos clubes europeus alcançou as maiores cifras da história, com o total de € 16,9 bilhões, sendo € 7,3 bilhões com os direitos de TV, € 5,6 bilhões com patrocínios e € 2,6 bilhões com a venda de ingressos.

Esses números crescerão muito nas próximas publicações da UEFA. Prova disso é que, somente a Premier League, a liga mais rica da Europa, passou a ter uma receita sobre a venda de direitos de TV de € 15,6 bilhões por 3 temporadas, entre 2016 e 2019, com média de € 5,2 bilhões por ano.

No meio de tanta riqueza, também vemos dívidas assustadoras. Clubes tradicionais como Manchester United, Benfica e Internazionale de Milão possuem dívidas que ultrapassam a casa de R$ 1 bilhão. E estamos falando de clubes com história e marcas muito relevantes que conseguirão inverter essa lógica se fizerem um trabalho austero de contenção de despesas. Imagine então clubes de médio porte como o Queens Park Rangers, que possui dívida superior a R$ 900 milhões sem que possa vislumbrar receitas compatíveis a isso.

No texto publicado há duas semanas sobre a expansão do futebol chinês, mencionei alguns casos de contratações confirmadas ou sondagens a grandes estrelas do futebol mundial, sendo esse o fator principal para o aumento da inflação no mercado (https://universidadedofutebol.com.br/o-exercito-chines/). Na semana passada, o governo chinês sinalizou que pensa em instituir um controle de gastos para evitar um colapso nos próximos anos.

No Brasil, a dívida dos clubes também é imensa. O Botafogo do Rio lidera esse ranking com dívida total superior a R$ 700 milhões, somadas aqui as dívidas bancárias, tributárias e operacionais. Os maiores clubes do Brasil possuem dívidas acima de R$ 100 milhões.

No meio desse bolo, há casos que merecem destaque por mostrarem que é possível conquistar o equilíbrio entre uma estrutura competitiva e um resultado financeiro positivo.

A Bundesliga e, consequentemente, os clubes alemães, seguem uma cartilha de manter as suas contas em dia, muito em virtude dos clubes serem empresas de capital aberto que devem gerar dividendos aos seus acionistas.

A MLS vem crescendo de forma orgânica e planejada ano após ano, com o teto de gastos existentes para todas as franquias (veja texto publicado na semana passada sobre o modelo de expansão americana: https://universidadedofutebol.com.br/o-futebol-na-maior-economia-do-mundo/).

No Brasil, até poucos anos atrás, o Flamengo liderava o ranking de dívida com valor superior a R$ 600 milhões e vem reduzindo esses valores de forma gradual com base na capacidade do clube em gerar receita com a sua marca.

Medidas adotadas como o Fair Play Financeiro da UEFA e até mesmo o Profut no Brasil são modelos que podem transformar as finanças dos clubes em algo mais sustentável.

No caso da UEFA, os clubes que participam das competições europeias, têm que provar que não tem dívidas novas em atraso com outros clubes. A partir de 2013, os clubes passaram a respeitar a gestão equilibrada de “break-even”, ou seja, não podem gastar mais do que ganham, criando um controle para que as dívidas existentes não aumentem.

Já o Profut é uma lei sancionada em 2015 para ajudar os clubes brasileiros a quitar suas dívidas tributárias com a União. Em contrapartida, os clubes são obrigados a seguir regras como gastar o máximo de 80% de suas receitas com o futebol profissional, não atrasar salários, não antecipar verbas e restringir mandatos dos presidentes.

Apesar da necessidade de ter atenção e cuidado para que medidas desse caráter não se percam, é nítida a preocupação para que o futebol consiga ser minimamente sustentável. O marketing possui as ferramentas em mãos para gerar receita suficiente para atender um modelo justo e atrativo.

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