As dietas fracassadas e o futebol brasileiro

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Publicada no livro homônimo, a crônica “Eu sei, mas não devia”, da escritora Marina Colasanti, lista uma série de concessões que as pessoas naturalizaram em suas rotinas. A gente se acostuma a morar em apartamentos com visão obstruída, a acordar sobressaltado, a ler sobre guerras, a ser conduzido, diz o texto. E por admitir que essas coisas são normais, a gente acaba mudando a visão ou o jeito de lidar com uma série de aspectos relevantes do cotidiano. É por essa sucessão de transgressões que o futebol brasileiro ainda tem dificuldade para se consolidar em diferentes âmbitos.

Vivemos numa realidade em que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) é uma caixa preta composta por federações de gestão ainda mais nebulosa. O arcabouço é sustentado por clubes igualmente afetados por práticas deletérias e por pessoas que vislumbram nessa seara apenas um caminho mais curto para o benefício próprio. A estrutura é viciada, o que naturaliza práticas absolutamente nocivas. Cria-se um ciclo interminável de malfeitos e conformismo.

Segundo pesquisa da University College London, baseada no Reino Unido, o cérebro humano se acostuma a ilícitos. O estudo acompanhou o comportamento da amígdala cerebral, estrutura envolvida na geração de respostas emocionais como angústia e medo, para constatar que existe uma tendência orientada à desinibição sobre a desonestidade quando ela traz benefício e não é punida.

O futebol brasileiro vive entre as duas realidades: o ciclo de malfeitos e conformismo e a naturalização de atitudes orientadas apenas ao benefício próprio. Falta controle, mas existe uma carência ainda maior de autoanálise (no sentido individual, mas também a avaliação de instituições pelas próprias instituições).

É por isso que o inconformismo tem de ser o primeiro passo dado pelo futebol brasileiro em 2017. Não podemos começar o ano “deixando para lá” ou simplesmente passando por cima do que ficou na temporada passada.

Que ninguém comece 2017 achando que a tragédia envolvendo o avião que levava a delegação da Chapecoense é coisa do passado. Que ninguém esqueça dos dirigentes brasileiros envolvidos em escândalos de corrupção no futebol mundial. Que ninguém pense que é normal ou que o Brasil está imune ao recente escândalo de assédio sexual de menores no futebol britânico.

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O Brasil vive um momento especialmente instável no campo político, exacerbado por uma reação de muitas pessoas ao deixar o estado de catarse. O inconformismo ainda é puro e pouco adulto – quase como uma birra de criança.

Há muito o que mudar no futebol brasileiro, e essas alterações passam necessariamente por uma revisão de postura. Que o ano novo represente para todos uma chance de olhar para dentro e iniciar essa reflexão que o mundo todo precisa – não apenas no esporte.

Que essa evolução individual seja contínua e que nos ajude a aceitar mais, mas não no sentido mais frequente do verbo atualmente. Que possamos entender que pessoas erram, mas que não sejamos passivos.

A temporada 2016 nos deu uma série de demonstrações de que pequenas mudanças de postura podem ter imensos reflexos. Vejam o que aconteceu com a seleção brasileira depois da mudança de apenas um profissional – Dunga foi substituído por Tite no comando da equipe nacional, e isso alterou toda a percepção do país sobre a equipe.

A mudança deve começar de dentro e pode até ser pequena, mas só vai acontecer quando entendermos que somos agentes desse processo. Você já começou a pensar em como fazer sua parte?

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