As mudanças na Libertadores e a comunicação

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A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) anunciou na última semana uma série de mudanças na próxima edição da Copa Libertadores, principal torneio de clubes no continente. A competição será distribuída em toda a temporada, de fevereiro a novembro, contará com um número maior de clubes e “conversará” com a Copa Sul-Americana – as equipes eliminadas na fase de grupos de um certame entrarão no outro. Além disso, existe a possibilidade de a decisão ser disputada em jogo único e campo neutro. Todas as medidas propostas aproximam o modelo do que é feito na Liga dos Campeões da Uefa, que hoje é a competição mais relevante do calendário mundial. No início, pelo menos, os sul-americanos já falharam em emular algo fundamental para o sucesso no Velho Continente: a comunicação.

O primeiro e mais preocupante exemplo disso é como a informação foi distribuída. A ampliação da Libertadores foi ratificada no último domingo (02) e confirmada pela Conmebol horas depois, mas não teve qualquer celeridade nos canais oficiais da entidade. Durante todo o processo, a única informação relevante que partiu de uma mídia que deveria ser controlada pela instituição foi um post do presidente Alejandro Dominguez na rede social Twitter: “Amigos do Brasil: o novo calendário da Libertadores e Sul-Americana é compatível com o calendário do futebol brasileiro”.

De resto, a despeito de estar fazendo um processo para aumentar a popularidade e a relevância de sua principal competição, a Conmebol já começou com falhas nevrálgicas de promoção e de comunicação. Se a ideia da entidade é que a Libertadores repercuta mais, o início passa necessariamente por mais transparência e organização.

Também tem a ver com isso o período escolhido pela entidade para as alterações. Ao fechar em outubro a proposta para a Libertadores que começa em fevereiro, a Conmebol alterou um sistema de classificação que já está em curso. No Brasil, por exemplo, o número de vagas foi ampliado sensivelmente (de cinco para até oito em 2017). A dez rodadas do término, o Campeonato Brasileiro, que antes podia mandar apenas os três primeiros para o torneio sul-americano, agora enviará os seis melhores (o campeão da Copa do Brasil também se classificará, e o país terá mais um lugar no certame se um time local vencer a Copa Sul-Americana – anteriormente, isso limava uma vaga do Nacional).

Ao fazer isso, a Conmebol ofereceu pouco tempo para que as equipes montem projetos voltados à Libertadores de 2017. Além disso, mudou as regras do jogo com um processo de classificação em curso e favoreceu os clubes que investiram menos na atual temporada. Faltou lisura e faltou planejamento.

Também foi deficiente o processo da Conmebol para definir a ampliação da Libertadores. A entidade distribuiu mais vagas aos países mais fortes, não foi plenamente eficiente na articulação com a Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte e da América Central) e tampouco encontrou uma justificativa plausível para algo que debela o nível técnico da competição. Na Uefa, a Liga dos Campeões foi aumentada para incluir mais países (e mais mercados) no jogo. Havia uma explicação clara em pontos de vista como política e economia.

A questão do jogo único na decisão passa pela mesma lógica. É um modelo eficiente em grandes competições do planeta, ainda que seja discutível do ponto de vista técnico. Pode não ser exatamente justo, mas cria um espetáculo melhor para a TV, que é quem paga grande parte da conta, e muda o perfil dos espectadores. As torcidas dos times classificados perdem espaço para o público local, e isso transforma o ambiente. A decisão da Liga dos Campeões da Uefa é vendida como um espetáculo que se sustenta sozinho, independentemente dos times classificados. A Libertadores tem chance de colocar representantes de mercados pequenos na disputa do título, e essa transição seria benéfica para o todo do torneio.

O que a Conmebol fez para explicar isso, contudo? O que a entidade fez para mostrar que a decisão em jogo único pode ter antecipação de receita, incremento de faturamento do jogo e a possibilidade estratégica de auxiliar na consolidação da Libertadores em mercados específicos? Sim, a resposta é um gigantesco nada.

As mudanças realizadas na Libertadores são fruto de uma análise da consultoria McKinsey sobre o produto. Chamada pela Conmebol para estudar a Libertadores e propor mudanças, a empresa se baseou justamente no modelo da Liga dos Campeões da Uefa. Isso explica em parte a direção de algumas das decisões dos sul-americanos.

Do jeito que foi apresentado, entretanto, o pacote mostra apenas a fragilidade da atual cúpula da Conmebol. O processo de reformulação da Libertadores decorre de pressão de clubes sobre a diretoria, no fim do ano passado, depois de o FBI ter listado contratados e dirigentes da entidade num processo de investigação sobre fraudes no futebol mundial.

A Conmebol escolheu um caminho com várias possibilidades positivas ao decidir ampliar a Libertadores. O caminho, porém, é apenas parte do processo. Se a entidade se alicerçar apenas nisso e não conseguir desenvolver um plano de comunicação eficiente e organizado, nenhuma das medidas vai ter a eficiência desejada.

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