Futebol feminino e práticas de lazer: espaços de resiliência

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Nas nossas primeiras colunas apresentamos a estrutura e a organização do futebol feminino no âmbito internacional e nacional, discutindo as dificuldades ainda enfrentadas por suas praticantes. Destacamos como o baixo investimento na modalidade e a organização precária dos campeonatos nacionais não estimulam a profissionalização das atletas no nosso país. Mas, será que as mesmas dificuldades são enfrentadas quando a prática do futebol é realizada nos contextos recreativos e de lazer?

Estudos sobre as atividades físicas praticadas pelas mulheres nos momentos de lazer apontam para uma tendência de realização de atividades individuais e não institucionalizadas. Já os homens têm os esportes coletivos, em especial o futebol, como prática hegemônica. Podemos considerar que há uma questão de gosto pessoal que justifica a menor prevalência das mulheres em relação à prática do futebol? Esta equação, em muitos casos proferida, simplifica a complexa relação existente entre mulheres, futebol e práticas de lazer.

Para explorarmos essa relação, precisamos considerar a dinâmica cultural existente na nossa sociedade. Podemos facilmente listar os diversos preconceitos atribuídos às praticantes de futebol, quase todos ligados a masculinização que envolve esta prática esportiva. Além disso, esta dinâmica cultural em que estamos embebidos atribui as tarefas domésticas quase em sua totalidade às mulheres, o que também diminui seu tempo de lazer e de práticas de atividades físicas. Portanto, temos o futebol como um espaço de hegemonia masculina em vários sentidos, limitando a inserção das mulheres neste campo. Isso sugere a falta de oferecimento deste esporte enquanto prática de lazer e a menor ocupação dos espaços destinados ao futebol pelas mulheres.

Entretanto, as dinâmicas culturais estabelecidas pelas mulheres apresentam grande resiliência, ou seja, uma capacidade de transformação e de adaptação. Surgem, neste sentido, novos espaços de prática do futebol e de sociabilidades promovidas por ele, que se sobressaem a todos os problemas expostos e enfrentados pelas futebolistas.

Um bom exemplo é o Pelado Real (https://peladoreal.com.br/) grupo de mulheres que se reúne para jogar futebol society nos campos da cidade de São Paulo, promovendo a prática do futebol tanto para iniciantes quanto já praticantes da modalidade, de todas as idades. Em outras cidades do interior, esta iniciativa também vem crescendo e desenvolvendo novas adaptações dos espaços públicos e privados, como é o caso das equipes do Taquaral, Garotas Fênix, Nascanela F. C. e do Quinta Categoria F. C., iniciativas que reúnem diversas mulheres, de distintas faixas etárias, para jogar futebol na cidade de Campinas – SP.

Vemos que a transformação deste espaço que já foi outrora majoritariamente masculino contou com um aliado importante: as mídias não tradicionais. Enquanto reportagens de mídias tradicionais não abandonam o “cor de rosa” e os tons de feminilidade para abordar o assunto, novos meios de comunicação se preocupam com a técnica, a tática e, principalmente, com a visibilidade e divulgação da modalidade a diversas pessoas. As páginas Dibradoras (http://dibradoras.com.br/) e Planeta Futebol Feminino (http://planetafutebolfeminino.com.br/) são bons exemplos de canais criados para discussões sobre o futebol feminino no Brasil e no mundo, que promovem perspectivas que empoderam as mulheres não profissionais amantes e praticantes desta modalidade.

Aos poucos, esses novos espaços de discussão e de prática ultrapassam as dificuldades encontradas e ampliam o espaço da mulher no futebol. Mas será essa a única maneira de conquistarmos maiores espaços na modalidade? Na nossa próxima coluna discutiremos o papel da escola na desconstrução das desigualdades de gênero que constituem nosso país e na criação de oportunidades de experiências relacionadas ao futebol. Não deixem de acompanhar nossa última coluna do mês de Outubro.

** Esta coluna é dedicada ao Nascanela F. C. e Quinta Categoria F. C., espaços frequentados pelas autoras que também compartilham das dificuldades do estabelecimento de práticas relacionadas ao futebol feminino em espaços de lazer.

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