Gestão do padrão semanal

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Se uma equipe de futebol é uma organização brotada pela interação dos diversos companheiros de equipe, o padrão semanal das atividades deve desenvolver processos, sinergias e retroalimentações funcionais-dinâmicas harmônicas ao estado dos jogadores, da equipe, ao último jogo e ao próximo jogo.

A funcionalidade arredondada desse intercâmbio gera um estado de equilíbrio semanal, uma lógica que leva todo compêndio de conteúdos para o terreno de jogo. O papel da comissão técnica (treinador, auxiliar e preparador físico) é simplesmente facilitar, dinamizar e controlar corretamente esse processo sem exacerbar demasiadamente alguns aspectos.

E nesse processo, diferentes metodologias advindas de escolas distintas servem como referência para estruturar essa lógica semanal. Algumas com um conteúdo riquíssimo, algumas com conteúdos mais modernos, outras mais tradicionais, e algumas criadas pela mescla dessas tendências, mas todas válidas e utilizadas.

Nesse texto, o preceito da questão vai além de definir essas macro-preferências, que claro, deliberam uma identidade metodológica de cada comissão técnica, mas sim identificar um plano mais pormenorizado, ou seja, em como operacionalizar os detalhes gerais e específicos que ajudam a cimentar a equipe a ter possibilidades maiores de êxito com a correta gestão semanal dessas particularidades.

Além disso, cada equipe é formada por jogadores diferentes que condicionam planos de ação distintos em cada realidade e possíveis adaptações. Identificar isso é importante.

Também no futebol existem diferentes níveis competitivos e, mesmo no futebol formativo, nas categorias de base, o desenvolvimento do trabalho deve respeitar uma organização. No futebol formativo o ensaio-erro pode ser maior, e através do desenvolvimento semanal pode-se ir determinando o que vai bem ou o que não vai bem com maior facilidade. Alguns experimentos também podem ser realizados avaliando com maior paciência a lógica semanal. Isso enriquece o processo e a comissão técnica.

Fortalecendo essa tese com um caráter pedagógico, o preparador físico da equipe sub-15 do Palmeiras, Cyro Bueno, fala de preceitos importantes para a correta gestão do padrão semanal:

Primeiramente temos que saber que o futebol é uma modalidade essencialmente tática, o que nos faz pensar na enorme complexidade que cada decisão tomada trará do ponto de vista cognitivo. Num olhar ao viés físico, o mesmo acontecerá. Portanto, o padrão semanal deve estar atento às demandas comportamentais e físicas. 

Para correlacionar esses aspectos, devemos respeitar uma metodologia e um modelo de jogo criado e, estar sempre em consonância com o princípio da curva de supercompensação e sua adaptabilidade em semanas com um ou mais jogos. Seguir um padrão semanal dentro do processo de treino pode parecer utópico, mas não é tanto, desde que o contexto esteja fundamentalmente sustentado sob evidências e, o ambiente, rico de concepções claras, práticas e eficazes. 

E claro, independentemente da metodologia preconizada para conduzir o processo, e são muitas, o formato semanal deve levar em consideração alguns aspectos gerais que podem influenciar sua estrutura:

– O conteúdo das sessões de treino e a magnitude das cargas mentais e fisiológicas (estas sempre correlacionadas) aplicadas. Inevitavelmente, a carga interna de uma sessão afetará nas possibilidades seguintes para o decorrer da semana. Por isso, o padrão semanal muitas vezes não será padrão, mas de uma forma ou outra, deve ser o norte balizador organizacional;

– O processo ‘’estímulo-recuperação’’. Para que estejamos do ponto de vista orgânico funcionalmente aptos para as atividades, a alternância horizontal das cargas de treinamento e descanso devem estar adequadas. Além disso, deve-se respeitar as respostas individuais de cada atleta aos estímulos;

– A disposição dos conteúdos semanais na formatação geral do trabalho da equipe. Mesmo que muitas vezes seja impossível antecipar os cenários e as variáveis que inevitavelmente virão ao longo do ano, deve-se estar atento aos períodos das diferentes competições e a distribuição das cargas de treinamento.

Acredito que com uma correta gestão desses aspectos, relacionados com outros pormenores, conseguimos conduzir o processo semanal da melhor forma possível, deixando a equipe em condições ótimas para jogar o jogo, com seu maior patamar cognitivo e físico, dentro do modelo preconizado e nas adversidades que o adversário provoca. 

Já o preparador físico da equipe sub-17 da Chapecoense, Jardel Zamberlan, fala sobre o desenvolvimento de um processo mais específico:

Desenvolvemos um padrão semanal que considera as formas de fadiga. Com a correta gestão disso, conseguimos treinar corrigindo os erros cometidos pela equipe no último jogo, e ao mesmo tempo criar adaptabilidade através da análise do próximo adversário, do que não fizemos bem no jogo passado, tentando arrastar o mínimo de cansaço para o próximo jogo. 

A alternância de tempo, distâncias percorridas e recuperação nos exercícios, nos possibilita treinar controlando a fadiga periférica (física). No geral, muitas vezes o padrão semanal é pensado apenas no viés físico, negligenciando assim a fadiga central (cognitiva). Esta possui um peso muito grande quando projetamos nossa semana de trabalho.

No padrão semanal que acreditamos, o jogador deve tomar muitas decisões em alguns dias específicos da semana com trabalhos que envolvam interações intersetorais e coletivas, e também ao mesmo, em outros dias, com trabalhos de velocidade de execução (principalmente em treinos que antecedam o jogo), fazendo com que o jogador chegue à partida com um “frescor”, que o fará agir e tomar melhores decisões, de forma mais rápida, devido ao desgaste central menor.

Nosso padrão se estrutura a partir de jogos apenas nos sábados. Como quarta-feira é o dia mais distante dos jogos, treinamos com as maiores distâncias de campo e maior número de jogadores. Sendo assim a fadiga (tanto periférica como central) é similar a que terá no jogo, já que as medidas do campo e a quantidade de interações com os jogadores são parecidas. Apesar de treinarmos com a intensidade máxima relativa sempre, a segunda e terça ainda tem um caráter recuperativo, pois ainda arrasta o cansaço do último jogo. Do mesmo modo que a quinta e sexta-feira trabalhamos como uma pré-ativação para o próximo jogo, delimitando conteúdos menores, conseguindo ter aquisição, deixando os jogadores aptos para ter um desempenho máximo ou próximo do ideal no jogo. Sendo assim, essa lógica se repete semanalmente, tendo em conta a distribuição dos conteúdos em cada dia, a evolução individual dos jogadores e da equipe. 

A responsabilidade de uma comissão técnica é criar uma lógica semanal sabendo primeiramente da realidade do contexto. Isso abarca saber do clube, dos jogadores, da equipe, da categoria, para depois gerir corretamente múltiplos fatores que instituem a semana. Essa sensibilidade vai propor a comissão, no contexto que tiver, um plano adaptável para as diferentes realidades, criando pontos chaves contextuais, mesclados com a organização semanal pretendida, que vai além de chavões, métodos ou fatos prontos. Por isso, um padrão semanal balizado por uma metodologia nunca vai elevar uma equipe ao seu máximo potencial se não for aberto, funcional e prático.

Abraços e até a próxima quarta!

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