Goleiro, modelo de jogo e o passe

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Em conversa com meu amigo Vinícius Ziegler Bandeira, treinador de goleiros da categoria Sub-15 da Chapecoense, pegamos algumas ideias do artigo anterior para falar um pouco sobre o uso dos pés do goleiro. No artigo passado discorri sobre o “movimentar por movimentar”, que automaticamente ocasiona um “correr por correr”, e até mesmo um “treinar por treinar” (ações feitas somente por fazer, sem um objetivo ou motivo concreto). Essa tendência tem influenciando muito no ato de “passar por passar”, e nesse caso interfere também na intervenção dos goleiros com os pés.

Mas qual o objetivo de colocar o goleiro a usar os pés? É fazer dele um décimo primeiro jogador de linha? É para iniciar a construção das jogadas ofensivas? É desmistificar que o goleiro é apenas o último defensor e que pode ser o primeiro atacante? Serve como um apoio para manter a posse de bola para equipe? Para retirar da pressão? Ou apenas transporta a ideia do treinador sair por aí dizendo que o goleiro está trabalhando de uma forma “moderna”?

Para inserir o goleiro no jogar pretendido, alguns aspectos devem ser respeitados. O primeiro requisito básico é entender a fluidez do jogo em seus momentos, ou seja, o goleiro deve participar de todos os momentos do jogo (organização ofensiva, organização defensiva, transição ofensiva, transição defensiva e bolas paradas). Isso já escancara uma situação bem comum, como, por exemplo, quando a equipe está no seu campo de ataque, alta, submetendo o adversário, e o goleiro situado na marca do pênalti longe da última linha, na grande maioria das vezes ele fica sem capacidade de intervenção ativa próxima da linha, tanto para ser utilizado como um apoio desequilibrante e equilibrante, assim restringindo a possibilidade de realizar coberturas ofensivas como apoio e defensivas como defensor dos espaços atrás da última linha.

O segundo é a identificação do pouco uso do goleiro através de passes com objetivos específicos, que geram ganho de tempo-espaço ou disponibilizam tempo-espaço para futuros receptores através de sua temporização ou aceleração. Nessa questão, enxergam-se muitas equipes com o domínio da posse, sem sofrer pressão e com oportunidade de achar passes para romper as linhas adversárias, voltando a bola até o goleiro sem critério algum.

Entendendo isso, o goleiro pode ser usado para manter a posse de bola especialmente em um momento de pressão coletiva ou individual de algum jogador das primeiras linhas de construção também em zonas mais altas, com passes em qualquer direção e distância (saindo um pouco daquela premissa mecanizada, na qual o goleiro só pode efetuar passes curtos ou passes curtos laterais). Além de ser um possível receptor para retiradas da pressão após a recuperação.

Terceiro, entendendo isso acima, o goleiro é usado para criar uma situação de superioridade ofensiva e defensiva com a intenção tática de sua equipe e do adversário. Ele participa das interações coletivas, lendo trajetórias, probabilidades e bolas de perigo por falta de interação ou interpretações erradas dos outros jogadores e pressões bem-sucedidas do adversário. Por vezes, por pragmatismo, poucos usam essa ideia do goleiro como décimo primeiro homem de linha, deixando a equipe mais desequilibrada que equilibrada, por incrível que pareça.

Claro, nada substitui o caráter defensivo do goleiro de defender a baliza, mas é interessante evoluir o posto do goleiro como um  “décimo primeiro jogador com possibilidade de usar o pé eficazmente”. Não é a toa que Guardiola se candidata mais uma vez ao título das principais competições que sua equipe jogará. Ederson, hoje seu titular, não baixa de 85% no aproveitamento de passes (em alguns jogos chega a 100%), enquanto Joe Hart, preterido pelo treinador, chega a uma média de apenas 45% de aproveitamento no West Ham. Porém, Ederson mantém esse aproveitamento em um modelo de jogo claro e definido, treinado e estimulado para isso, com passes variando trajetória e direção, objetivos e com um propósito muito claro: chegar à meta adversária através da localização escalonada dos outros jogadores e a identificação de receptores com melhor condição de seguir a progressão do ataque.

Por aqui, tem inquietado muito o não uso dos goleiros, principalmente na elite do futebol nacional, mas também inquieta o uso deles sem necessidade particular. “Usar por usar”. Ele só será bem-sucedido com os pés quando for plantado realmente nas dinâmicas de treinos diárias e no jogo. E, essa participação nos treinos deve ser feita de forma clara e não apenas com rondos que supostamente melhoram os pés. Então, qual o objetivo de passar a bola para goleiro?

Fica o questionamento: os pés dos goleiros são utilizados de uma forma efetiva no contexto coletivo ou estão servindo apenas para os modismos de plantão?

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