Orquestra controlada

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Imagine que você está no estádio assistindo a uma partida do seu time. O estádio é bacana, novinho, confortável. Cerveja à vontade, cantoria e pão com salsicha.

Aí seu time faz um gol.

Você grita de alegria. O gol foi do astro do seu time.

Digamos que ele se chame João da Silva e vista a camisa 10.

Aí entra um locutor que se pronuncia nos altos falantes do estádio.

Ele grita: “Goooooooooool!”.

Você se emociona.

O locutor pergunta empolgado: “E o autor do gol foi João…”.

E você, juntamente com toda a torcida, responde: “Da Silva!”.

Mais uma vez: “João…”, “Da Silva!”.

E, novamente, o locutor grita: “Número…”.

E todos, inclusive você, respondem: “Dez!”.

Mais uma vez: “Número…”. “Dez!”.

E, para finalizar, o locutor diz: “Muito obrigado”.

E você responde, em alto e bom som, junto com todo o estádio, igualzinho a quando saiu o gol: “De nada!”.

Estranho, não? Também acho.

Mas esse é o comportamento padrão da liga que é a menina dos olhos da Europa no momento, a Bundesliga. A Liga Alemã.

Então, imagine todo aquele diálogo acima em alemão. Fica ainda mais esquisito.

Mas isso acontece, pode reparar. É só sair um gol que sai tudo de acordo com o script acima. Tudo organizadinho. Assim como todo o futebol alemão. Afinal é a Alemanha.

A Bundesliga não é a liga que mais arrecada dinheiro na Europa. Perde, por uma margem significativa, para a Premier League inglesa. Mas é a que mais lucra. Disparado.

De acordo com seu relatório anual, as receitas da Primeira Divisão ficaram um pouco maiores do que 1,5 bilhão de Euros em 2007/2008, e conseguiu obter um lucro, coisa rara no futebol mundial, de cerca de 2 milhões de Euros. Dos 18 clubes que disputaram a Bundesliga na temporada passada, 15 apresentaram lucro operacional.

Por conta grande capacidade e da recente renovação dos seus estádios, a Bundesliga é a liga com maior número de torcedores de toda a Europa, tendo chegado à média de praticamente 39 mil torcedores por jogo na última temporada, sendo que a média da atual temporada é superior a 42 mil torcedores por jogo, extra-oficialmente.

A melhoria dos estádios, porém, tem um custo. A dívida total dos clubes da Bundesliga supera 500 milhões de Euros, ainda que tenha sido reduzida em cerca de 50% em três anos. Tudo isso por conta de um grande aperto fiscal e controle de custos.

E controle de custo, no futebol, significa menos salário pago a jogadores. Os clubes alemães, tirando o Bayern de Munique e uma ou outra exceção, não compram ou retém astros do futebol europeu, porque não competem com os salários pagos pelos principais clubes da Espanha, Itália e Inglaterra.

Como forma de segurar o nível de salários para baixo, o futebol alemão também aumenta a oferta de jogadores. Lá não existe cota para estrangeiros. Se um clube quiser ter um time com 22 marroquinos, ele pode. Nada impede. Dessa forma, não se criam restrições no mercado de jogadores, o que amplia a oferta e joga o valor dos salários lá para baixo. Isso leva o futebol alemão ser hoje a menina dos olhos dos empresários de futebol do mundo inteiro.

E como o futebol alemão não segura seus astros, ele sofre as conseqüências. Há tempos os clubes alemães perderam a representatividade que antigamente possuíam na Europa. Um clube alemão dificilmente vai conseguir fazer frente às outras potências continentais.

Com estádios bacanas, o espetáculo orquestrado e um campeonato competitivo, a torcida alemã aparentemente não tem dado bola para o sucesso continental. O problema pode ser na hora que ela mudar o humor e passar a exigir maiores títulos de seus clubes.

É aí que será possível ver se a Bundesliga é mesmo forte ou não.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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