Prêmio Fair-Pai

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Cheguei em casa hoje e vi enfim meu mais velho, que desde 29 de junho não beijava.

Não é como foi na volta da Copa de 2006, quando não o reconheci quando cheguei ao saguão do aeroporto. Com sete anos, naquela idade em que começam a crescer a cada 15 minutos, não reconheci aquele molecão que vira toda a Copa junto com o caçula.

Em 40 dias, o meu Luca pirara com o Mundial da Alemanha. Não apenas pelo que vira em campo. Também pelo que começara a jogar bem como goleiro. Foi o número um da escola. Do clube. Treinou na escola do Zetti de goleiros. Até ter um problema no joelho que o tirou das traves mais que a fratura em dois ossos do braço direito enquanto treinava na véspera de ganhar troféu como melhor goleiro do campeonato interno do Pinheiros. Prêmio que eu recebi por ele enquanto ele estava sendo operado no São Luiz.

Luca queria ir pro jogo mesmo assim. Hoje, o skate e outras artes ocupam mais os sonhos do meu mais velho. Ele viu pouco a Copa que eu vi toda. E via em cada lance um pouco dele e do caçula Gabriel que me acompanhou nos últimos dias de Mundial, no Rio. E que acompanhou toda a Copa o tempo todo.

Vi como todos os pais o choro de outro Luka, de 6 anos, em Itaquera. Quando ele viu o pai Robben perder nos pênaltis para a Argentina a vaga na final. Meu Luca teve uma desilusão com a Seleção de 2006 que ele ainda não recuperou. Acontece. Talvez até não volte mais. Faz parte.

Como o choro sem parar do Luka Robben no colo da mãe em Itaquera. O pai Arjen não conseguiu mais uma vez ser campeão do mundo. Mas uma vez mais ele foi muito. Foi um dos melhores da Copa. Talvez até o melhor, junto com Rodríguez e Neuer.

Além do golaço de placa de James no Maracanã, e da defesa de placa de Neuer no tiro de Benzema no mesmo palco sagrado, outra imagem emplacada é o choro do pequeno Luka.

Quando o filho viu o pai não ganhar um jogo – mas não o perder. A Holanda foi pela primeira vez invicta numa Copa. Perdeu nos pênaltis para os argentinos. Em 2010, Luka tinha dois anos. Não viu o pai perder o mundo na frente de Casillas. Em 2014, pela bola que jogou o pai, ele e o planeta podiam achar que não havia como parar o velho. O Robben tão bom e tão pilhado que, quando acabou o hino holandês em São Paulo, antes da partida, ele ficou pulando como canguru. O único. Toda a Holanda perfilada, e Robben pilhando todo o estádio.

Quando acabou o jogo, o camisa 11 tentou consolar o filho. Não deu. Mas deu uma cena que se repetiu durante toda a Copa. E vai se repetir pela vida. Eterna. Para ele e para todos os pais e filhos.

Como a história citada no post anterior. Podolski defendendo pênaltis do filho de seis anos no Maracanã, mais de uma hora depois do final da decisão contra a mesma Argentina. A torcida alemã ainda presente no estádio aplaudindo o Podolskinho que leva jeito para coisa. Chutando as bolas que Podolskão defendeu enquanto era “vaiado” pelos novos torcedores tetracampeões mundiais.

Louis Gabriel é o nome dele. Gabriel como o meu filho. Como o meu caçula, ele também bate pênaltis. Joga na linha. E Podolski, como eu, se vira para defender os chutes do filho.

Como Neymar pai tanto ensinou o Jr a bater na bola em Praia Grande e outras areias e terras. Como o pai de Willian ia depois do almoço de domingo defender os chutes do filho num campinho em Ribeirão Pires. Imaginando estar numa final de Copa no Maracanã. E Podolski pai pôde dar esse delírio ao filho.

Como tantos pais de boleiros tanto ensinaram os filhos. Ou, ainda melhor: não precisaram dar um peteleco nos pés do filho para ensinar onde bater na bola, como fazia o pai de Neymar. Muitos pais não fizeram isso por não saber onde bater direito na bola, onde ficar dentro da meta.

Não fizeram por não saber. Por não serem craques de bola.

Mas eles não sabem mesmo que o importante não é saber driblar como Robben. Não é ser campeão de campo e de simpatia como Podolski, que deu aulas de como se comportar fora de campo.

O importante é ser um pai presente para ensinar a perder como Robben. Importa é também saber ganhar como Podolski e ainda se divertir com o filho. Brincando sério sem dar pelota e colher de chá ao moleque.

É assim que se educa.

É assim que se ganha um amigo.

É assim que se vive.

Luka Robben, você é tão campeão quanto Louis Gabriel Podolski.

Arjen e Lukas, vocês ganharam o meu voto no prêmio Fair-Pai.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

Autor

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso