Uma breve análise da Copa São Paulo

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Na última quarta-feira (25/01), encerrou a maior e mais tradicional competição do futebol de base do nosso país, com o Corinthians sagrando-se campeão. O antagonismo, a diversidade e a visibilidade que a Copa São Paulo proporciona aos jogadores, equipes e integrantes das comissões técnicas, move uma miscelânea de oportunidades distintas para todos. Sem sombra de dúvidas, cada vez mais, a Copa São Paulo é uma grande vitrine.

Foto: Marcos Ribolli/ Fonte: Globo Esporte
Foto: Marcos Ribolli/ Fonte: Globo Esporte

Muitas equipes entraram na competição com objetivos distintos, mas sempre com o foco de procurar ir o mais longe possível, aspirando posições mais avançadas, onde a visibilidade geral aumenta. Evidentemente, quando uma competição abrange diferentes níveis, tanto de objetivos, qualidade de jogadores, estrutura, divisão jogada e competições a disputar durante o ano, há possibilidade de surgir distintos níveis de jogos e resultados. Ao mesmo tempo também, surpresas agradáveis pelo pico de motivação que essa competição representa. E todo ano várias surpresas acontecem. Essa também é uma das facetas da Copa São Paulo.

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Além desses vários perfis, que podem estar relacionados na construção dos objetivos da equipe para a competição, e por vezes modificados a cada ano, devido às particularidades exclusivas, nessa edição, um dos aspectos mais relevantes foi o entorno. Estádios cheios, incentivos extras, imaginário coletivo, enfim, intervenções do público modificando o comportamento anímico do jogo em grande escala, fortalecendo algumas equipes. Esses fatores, ao lado do pouco tempo de descanso entre os jogos, mudam prognósticos e tornam a Copinha muito mais atraente e imprevisível que outras competições de formação pelo Brasil.

Foto: Thiago Batista/ Fonte: Esporte Jundiaí
Foto: Thiago Batista/ Fonte: Esporte Jundiaí

Além disso, a quantidade de equipes participantes apontou significativamente diferenças culturais de jogo, seja ela intencional ou não consciente, demarcada pela preferência de um conjunto de ideias de jogo, por vezes como catalisador positivo ou negativo devido aos conhecimentos específicos da relação treinador-jogador e da qualidade dos jogadores.

Nas mais variadas ideias de jogo vistas, não se prendendo apenas a estrutura que atua como um suporte numérico-geométrico, e partindo para relações dinâmicas-funcionais, que podem ser consideradas como a coerência da estrutura com o entendimento do espaço-tempo, movimentos e interações dos jogadores nos momentos do jogo, percebeu-se uma melhora dos conceitos defensivos, algumas dificuldades dos outros momentos do jogo e na fluidez complexa do jogo. No geral, melhoras consideráveis vêm ocorrendo ao nível de organização de jogo nas equipes de base, e a Copa São Paulo foi um bom indicativo.

Corinthians

A equipe manteve a estrutura base em quase toda competição, tendo ideias eficazes, flexíveis, preparadas para todos os momentos do jogo, com predomínio na estruturação de pressão e no pós-recuperação. E dentro dessa relação foi muito mais eficaz que seus adversários.

Uma característica muito particular da equipe foi à agressividade, sobretudo sem bola, criando zonas de pressão altas-médias e retomando a bola com muita eficácia. A partir daí, também era muito agressiva, aproveitando as vantagens das recuperações da bola, buscando ataque rápido, com aproximações verticais para a definição das jogadas. Estruturou-se com o vértice do triângulo dos médios à frente e dois extremos com o pé oposto, agressivos todo tempo e, quando estavam no 1×1 com vantagens ou situações de enfrentamento em inferioridade, buscavam sempre a verticalidade com desequilíbrio ou não. Nas bolas paradas, usou variantes em jogadas curtas e longas, em faltas e escanteios, obtendo sucesso e fazendo gols.

Chapecoense 

Devido ao que aconteceu com a equipe Profissional, e por ser a primeira competição depois do episódio, virou a sensação, tendo a torcida de todos. A equipe se superou muito durante a competição e apresentou traços da cultura Oestina de Santa Catarina.

Sua estruturação base modificou bastante durante a competição, sendo extremamente reativa aos adversários, realizando planejamentos espelhados. Com a preocupação voltada mais para fechar o espaço individual dos jogadores adversários, do que propriamente o coletivo, não se via uma equipe compacta em poucos metros do campo. Mesmo assim, mostrou-se eficaz no que estava disposta a fazer, com ideias muito claras: uma marcação individual por setor em alguns jogos e marcação individual campo todo em outros, especialmente contra o São Paulo. Como os ajustes defensivos desestruturavam os momentos ofensivos, apostou no ataque rápido individual para atacar, acarretando pouca densidade ofensiva e muito dependente de vantagem pessoal nos confrontos individuais. Quando teve a posse de bola maior que o oponente, e necessitava buscar o resultado que estava adverso, usou poucos recursos de interação ofensiva, explorando o jogo de bolas paralelas no fundo e cruzamentos. Também a equipe teve dificuldade de compactação com posse de bola, pois o bloco não andava junto. Por não serem eficazes na compactação ofensiva, sofreram contra-ataques perigosos, já que estavam habituados a jogar em bloco baixo e ataque rápido como recurso principal.

Foto: Miguel Pessoa/ Fonte: Futura Press
Foto: Miguel Pessoa/ Fonte: Futura Press

Paulista 

A equipe do Paulista, primeiramente, teve méritos, pois saiu de uma chave complicada. Fez uma campanha marcada pela gloria e euforia, contrastando com a decepção do jogador que jogou de maneira irregular. As irregularidades ou alterações de documento no futebol diminuíram, mas ainda acontecem, infelizmente. Utilizou-se positivamente do seu estádio Jayme Cintra, que virou um verdadeiro caldeirão, numa atmosfera favorável. Com isso a equipe foi ganhando confiança.

Apresentou a melhor defesa da Copinha, com uma organização defensiva individual por setor em bloco médio-baixo. Partia de um 4-4-2 e variava para 4-5-1 conforme as interações ofensivas do oponente. Apostava na qualidade individual de alguns jogadores nas suas transições ofensivas. A equipe, quando estava em processo defensivo, colocava seus 11 jogadores atrás da linha da bola. Em muitos instantes, principalmente no segundo tempo, a compactação se tornava uma aglomeração espacial. Dentro do seu propósito, se tornava eficiente. Mostrou uma boa estruturação de segundas e terceiras bolas no corredor central onde iniciava boa parte de seus contra ataques que geravam perigos para os adversários.

Batatais

Com seu goleiro Gerson se tornando xodó e sua equipe sensação, o Batatais foi inesperadamente avançando na disputa. Gerson foi reverenciado por defender penalidades e classificar sua equipe.

A equipe, em termos de jogo, não fazia questão de ter a posse de bola para seus domínios. Se organizava em uma marcação individual e tinha suas variações de subida e descida de bloco. Muitas vezes uma audácia, que muitos não esperavam. Ofensivamente se caracterizou pelos ataques rápidos, com jogadas individuais. Num apanhado geral, uma equipe com espírito de entrega, vontade e motivação. A sua maneira de jogar era dar o máximo animicamente para fazer história, ir cada vez mais longe. E chegaram a final, presenteados pela eliminação do Paulista.

Internacional 

Uma das equipes, se não a que mais valorizou a posse de bola. Tentou gerar um jogo posicional, com uma boa dinâmica, estruturada em saída de três. Mas quando enfrentou adversários mais fortes, com uma estruturação do espaço defensivo mais organizado, sentiu dificuldade pela falta de domínio, ganho de espaços e movimentos específicos.

Usou o goleiro com grande frequência, tanto em cobertura defensiva quanto em apoio para posse. Essa é uma tendência das equipes Tops e o jogo atual pede que, em primeiro momento de saídas, se use o goleiro. Entretanto, se ficar um jogo muito para trás, estéril, horizontal, se perde as maiores vantagens: aquelas encontradas em passes verticais, sobre as costas da linha que pressiona. Em alguns momentos isso aconteceu com o time do Internacional. No cruzamento contra o Corinthians, a equipe não conseguiu impor seu jogo posicional, e ficou claro que contra uma equipe do mesmo nível técnico, necessitava de outras dinâmicas posicionais para ir mais longe. Mas foi uma equipe interessante de ver jogar.

Esse processo construído para ganhar, é que distingue uma equipe da outra. E nessa competição constituída por 130 equipes, o que se percebeu foram preceitos anárquicos, resultado exacerbado, aspectos formativos seguindo manuais do clube e gestão do frenetismo do resultado aliado com boa dinâmica.

Independentemente da categoria, o futebol antes de tudo, é jogado com ideias, e está em constante formação. Se os jogadores forem preparados para jogar na ambivalência de não perderem a ambição de ganhar, procurando ativamente o resultado, mas sem perder a ideia, a tranquilidade e o seu equilíbrio mental, posicional e funcional, a fluidez geral, o jogo e a formação ficam atrativos.

O grande equilíbrio de tudo isso, é encontrar o processo ideal, em que o jogador não seja feito apenas para um modelo de jogo ou não seja um andante anárquico ou robótico dentro do jogo. Que seja desenvolvido através da potencialização, evolução e interação de suas capacidades, num processo adaptável, mutável e rico de probabilidades. A Copa São Paulo é um grande teste final ou inicial para fomentar isso. Aos poucos estamos evoluindo. Esperemos a próxima Copa São Paulo.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

Observação – O treinador Willian Batista de Almeida da categoria Sub 17 do Sport Clube Atibaia ajudou na análise das equipes.

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