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Videocoluna: debate sobre novas tecnologias no futebol em Portugal

Olá amigos,

Hoje retomaremos um apanhado de discussão acerca da tecnologia no futebol. Mas, ao invés de fazê-los acompanhar meu raciocínio ou minhas opiniões, permito-me tentar junto a vocês uma vídeocoluna. Utilizaremos, por meio dos recursos disponíveis, o auxilio de um vídeo para completar esta coluna. Da mesma forma, tentaremos enriquecer o debate com opiniões diversas.

Para tanto, utilizo o vídeo do programa “Aqui Agora”, não o nosso popular e famoso do SBT, mas o do veículo de comunicação SIC de Portugal, que fez um programa com foco no debate sobre as novas tecnologias no futebol.

O material tem várias partes, quem tiver oportunidade de se aprofundar no tema, fica a indicação de acompanhar as outras. Aqui colocamos apenas a parte I.

Nesse programa português com o tema “Verdade Esportiva”, observamos o eixo central da questão na fala do apresentador: “Para alcançar toda a verdade desportiva, o futebol deve aderir às novas tecnologias? Será mesmo por ai que deve caminhar o futebol? Há quem entenda que sem uma boa polêmica, deixará de ser futebol”.

Participam do debate, Rui Santos (jornalista, idealizador da causa verdade esportiva), Rui Costa (ex-jogador e atual diretor do Benfica), Vitor Pereira (presidente da comissão de árbitros), José Guilherme Aguiar (comentarista, ex-dirigente do Porto e membro da Uefa), além da participação de telespectadores e entrevistas com personalidades, dentre elas, Luis Felipe Scolari.

Eis o vídeo:

Em síntese, seguem algumas partes interessantes:

“O grande problema é definir o que compete ao homem e o que compete à máquina” (comentário de uma telespectadora).

Luis Felipe Scolari fica em cima do muro dizendo que algumas coisas ele usaria e outras não, acreditando na aceitação do erro humano.

Rui Santos defende a fiscalização sem a robotização, valorizando a parte técnica e tática, ressaltando os talentos, e defende essencialmente atuar sobre a suspeição da indústria do futebol, agindo como ferramentas de apoio para reduzir a margem de erro, meios auxiliares e não substitutivos.

Rui Costa diz que se deve refletir sobre “quais as tecnologias podem beneficiar o árbitro e quais tecnologias podem prejudicar o futebol?”.

Vitor Pereira julga que o debate é nulo, pois não surtirá efeito uma vez que a Fifa não tem predisposição em mudar os fatos, mas ressalta que as novas tecnologias não devem ser centradas na arbitragem, mas no futebol como um todo, lembrando o exemplo da adoção das caneleiras que geraram custos não previstos e polêmicas na época.

Enfim pessoal, o vídeo pode ser uma pouco longo, sobretudo se quisermos assistir todas as partes. Mas vale a pena para ouvirmos e refletirmos sobre diferentes pontos de vistas.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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As vencedoras

Neste 2009 que se aproxima do fim, antes do balanção de final de ano, vale um momento de reflexão. Qual foi a categoria do futebol que mais evoluiu neste ano? Seria o futebol masculino, principalmente o da Série A do Brasileirão, que chutou qualquer crise financeira, bateu recorde de patrocínios, repatriações de atletas e afins? Ou seria o das mulheres?

Sinceramente, tendo a acreditar que o futebol feminino foi o grande vencedor neste ano.

Nem tanto pelo show de Marta e Cristiane, que levaram o Santos ao primeiro título da primeira edição da Copa Libertadores. Ou pelos jogos da seleção brasileira, que mais uma vez mostrou que tem tudo para ser campeã mundial muito em breve.

O maior barato do futebol feminino foi ter mostrado que é possível se pensar no desenvolvimento do esporte sem depender do “status quo” de entidades e mídia da atualidade.

No último domingo, a seleção brasileira colocou quase 40 mil pessoas no estádio do Pacaembu (público igual ao do Corinthians na final da Copa do Brasil) para ver a vitória do time nacional no inexpressivo “Desafio Internacional” com outras três seleções (México, China e Chile). Na TV, a audiência beirou os 10 pontos na medição do Ibope.

O resultado mostra que, para uma modalidade vencer no país, não precisa necessariamente “estar na Globo“, ou ser “oficial”.

A história do vôlei nacional foi feita via TV Bandeirantes e desafios internacionais para promover o encontro do público com o esporte. Cerca de 20 anos depois, as meninas do futebol começam a reescrever essa história.

Demanda trabalho, é claro, mas o que o futebol feminino brasileiro mostra é que a mídia, quando parceira de divulgação de uma modalidade, é um dos melhores instrumentos de popularização do esporte.

As vencedoras deste 2009, definitivamente, são as mulheres da bola. E os marmanjos que se cuidem…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Mini-jogos e “preparação física” do jogador de futebol: alguns problemas

Hoje, vou escrever apresentando dados coletados por mim, faz algum tempo, com objetivo de discutir algo que parece óbvio, mas que, em conversa recente com alguns colegas treinadores, realmente não é!

Atualmente, existe uma tendência na preparação desportiva do jogador de futebol, que é a “preparação física” a partir de jogos em espaços reduzidos e com regras adaptadas.

Há muito também, se ouve falar (com “ar de crítica”), da boca de alguns de nossos treinadores que se aventuraram fora do Brasil que, na Europa, por exemplo, o trabalho com os tais “mini-jogos” é o que predomina no desenvolvimento “físico” do atleta.

Pois bem. Algumas vezes, nesse mesmo espaço, defendi a preparação do jogador de futebol subordinada ao jogo, mas isso não quer dizer simplesmente treinar o “jogo pelo jogo”.

Treinar o jogo pelo jogo significa introduzir os tais “mini-jogos” nas sessões de treinamento sem preocupação com uma organização lógica de cargas, desenvolvimento da maneira de jogar, ou processo pedagógico.

Quando o “mini-jogo” aparece nos treinos como parte desconexa de um modelo de jogo, ou seja, sem ter preocupações com o desenvolvimento da identidade da equipe e sem ter objetivo de fortalecer o jogo que se quer jogar, ele, o “mini-jogo”, se afasta totalmente da ideia que defendo há tanto tempo.

Para que haja sentido, um trabalho que se utilize de jogos diversos, em espaços variados e com regras adaptadas, é necessário realmente que a preparação esteja subordinada, de fato, ao jogo, e isso quer dizer, em outras palavras, à construção de um jogar, de um saber fazer, individual e coletivo.

Para esclarecer o que estou dizendo, apresento na sequência alguns dados interessantes:
 

  MOMENTO 1
pós 20 sessões de treinos Exemplo de variação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de posse de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 20% Melhora de 6%
GRUPO 2 Melhora de 3% Melhora de 6%

No quadro do momento 1, temos um grupo de jogadores de futebol de base dividido em dois outros grupos submetidos a 20 sessões de treinos, a partir de jogos. Nesse momento (momento 1), o grupo 1 foi aquele submetido a treinos subordinados ao jogo, com objetivo planejado de construção de um modelo de jogo. O grupo 2, no momento 1, também foi submetido aos mesmos exercícios (jogos) do grupo 1, mas sem respeitar uma sequência pedagógica condizente com o objetivo de construção de um modelo de jogo (ou seja, treinou por meio do “jogo pelo jogo”).

Notemos que ambos melhoraram igualmente no teste de resistência de sprints, mas foram especialmente diferentes na evolução do tempo de recuperação da posse da bola nas transições defensivas. O grupo 1, treinado de acordo com um processo definido para construção do modelo de jogo teve melhora muito superior ao grupo 2.

Na sequência, temos o momento 2, quando os trabalhos foram invertidos. O grupo 1 passou a treinar “o jogo pelo jogo’ e o grupo dois objetivando a construção de um modelo de jogo.
 

  MOMENTO 2
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Decréscimo de 2% Melhora de 3%
GRUPO 2 Melhora de 30% Melhora de 2%

Após 20 sessões de treinos, mais uma vez o grupo submetido aos treinos concebidos processualmente (grupo 2) teve evolução, eu diria, absurdamente superior a do grupo submetido aos treinos a partir de jogos descontextualizados do processo.

Mais uma vez também, a evolução nos testes de resistência de sprints foi semelhante.

No momento 3, tanto grupo 1, quanto grupo 2 foram submetidos a treinos subordinados ao jogo, contextualizados, e com objetivo de melhorar o jogo que se desejava jogar.
 

  MOMENTO 3
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 15% Melhora de 1%
GRUPO 2 Melhora de 13% Melhora de 0%

Os dois grupos evoluíram de maneira parecida, e continuaram a demonstrar boa melhora no tempo de recuperação da posse da bola.

Notemos que, comparando a evolução percentual dos tempos de recuperação da posse da bola, somando os três momentos, que o grupo 1, no momento 3 poderia ter maior potencial para evolução, quando comparado ao grupo 2, mas que os treinos subordinados ao jogo, de certa forma, homogeneizaram os ganhos percentuais no mesmo momento.

O fato é que, é notório, que os treinos a partir de jogos desvinculados de um processo definido de construção de modelo de jogo, não propiciam ganhos satisfatórios na evolução do jogar.

Ressalto, mais uma vez, que os mesmos exercícios foram empregados aos dois grupos. A ordem dos mesmos é que foi diferente. Nos grupos em que os treinos estavam contextualizados com o jogar, respeitou-se uma ordem pedagógica de “sobrecarga” (e entenda-se aqui, sobrecarga, como algo que integra as dimensões tática, física, técnica e psicológica). Nos grupos em que os treinos foram no formato “jogo descontextualizado”, os exercícios (os jogos) foram alocados nos treinos e semanas de trabalho, em ordem aleatória.

Não tenho objetivo, aqui nesse espaço, de descrever minuciosamente aspectos referentes à metodologia para coleta de dados ou análises estatísticas. Isso é coisa para outro fórum de discussões – e já foi, outrora, bem discutido.

Espero, porém, ter contribuído para avançarmos com algumas ideias e esclarecer certas dúvidas.

Acho que é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

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Mini-jogos e "preparação física" do jogador de futebol: alguns problemas

Hoje, vou escrever apresentando dados coletados por mim, faz algum tempo, com objetivo de discutir algo que parece óbvio, mas que, em conversa recente com alguns colegas treinadores, realmente não é!

Atualmente, existe uma tendência na preparação desportiva do jogador de futebol, que é a “preparação física” a partir de jogos em espaços reduzidos e com regras adaptadas.

Há muito também, se ouve falar (com “ar de crítica”), da boca de alguns de nossos treinadores que se aventuraram fora do Brasil que, na Europa, por exemplo, o trabalho com os tais “mini-jogos” é o que predomina no desenvolvimento “físico” do atleta.

Pois bem. Algumas vezes, nesse mesmo espaço, defendi a preparação do jogador de futebol subordinada ao jogo, mas isso não quer dizer simplesmente treinar o “jogo pelo jogo”.

Treinar o jogo pelo jogo significa introduzir os tais “mini-jogos” nas sessões de treinamento sem preocupação com uma organização lógica de cargas, desenvolvimento da maneira de jogar, ou processo pedagógico.

Quando o “mini-jogo” aparece nos treinos como parte desconexa de um modelo de jogo, ou seja, sem ter preocupações com o desenvolvimento da identidade da equipe e sem ter objetivo de fortalecer o jogo que se quer jogar, ele, o “mini-jogo”, se afasta totalmente da ideia que defendo há tanto tempo.

Para que haja sentido, um trabalho que se utilize de jogos diversos, em espaços variados e com regras adaptadas, é necessário realmente que a preparação esteja subordinada, de fato, ao jogo, e isso quer dizer, em outras palavras, à construção de um jogar, de um saber fazer, individual e coletivo.

Para esclarecer o que estou dizendo, apresento na sequência alguns dados interessantes:
 

  MOMENTO 1
pós 20 sessões de treinos Exemplo de variação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de posse de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 20% Melhora de 6%
GRUPO 2 Melhora de 3% Melhora de 6%

No quadro do momento 1, temos um grupo de jogadores de futebol de base dividido em dois outros grupos submetidos a 20 sessões de treinos, a partir de jogos. Nesse momento (momento 1), o grupo 1 foi aquele submetido a treinos subordinados ao jogo, com objetivo planejado de construção de um modelo de jogo. O grupo 2, no momento 1, também foi submetido aos mesmos exercícios (jogos) do grupo 1, mas sem respeitar uma sequência pedagógica condizente com o objetivo de construção de um modelo de jogo (ou seja, treinou por meio do “jogo pelo jogo”).

Notemos que ambos melhoraram igualmente no teste de resistência de sprints, mas foram especialmente diferentes na evolução do tempo de recuperação da posse da bola nas transições defensivas. O grupo 1, treinado de acordo com um processo definido para construção do modelo de jogo teve melhora muito superior ao grupo 2.

Na sequência, temos o momento 2, quando os trabalhos foram invertidos. O grupo 1 passou a treinar “o jogo pelo jogo’ e o grupo dois objetivando a construção de um modelo de jogo.
 

  MOMENTO 2
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Decréscimo de 2% Melhora de 3%
GRUPO 2 Melhora de 30% Melhora de 2%

Após 20 sessões de treinos, mais uma vez o grupo submetido aos treinos concebidos processualmente (grupo 2) teve evolução, eu diria, absurdamente superior a do grupo submetido aos treinos a partir de jogos descontextualizados do processo.

Mais uma vez também, a evolução nos testes de resistência de sprints foi semelhante.

No momento 3, tanto grupo 1, quanto grupo 2 foram submetidos a treinos subordinados ao jogo, contextualizados, e com objetivo de melhorar o jogo que se desejava jogar.
 

  MOMENTO 3
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 15% Melhora de 1%
GRUPO 2 Melhora de 13% Melhora de 0%

Os dois grupos evoluíram de maneira parecida, e continuaram a demonstrar boa melhora no tempo de recuperação da posse da bola.

Notemos que, comparando a evolução percentual dos tempos de recuperação da posse da bola, somando os três momentos, que o grupo 1, no momento 3 poderia ter maior potencial para evolução, quando comparado ao grupo 2, mas que os treinos subordinados ao jogo, de certa forma, homogeneizaram os ganhos percentuais no mesmo momento.

O fato é que, é notório, que os treinos a partir de jogos desvi
nculados de um processo definido de construção de modelo de jogo, não propiciam ganhos satisfatórios na evolução do jogar.

Ressalto, mais uma vez, que os mesmos exercícios foram empregados aos dois grupos. A ordem dos mesmos é que foi diferente. Nos grupos em que os treinos estavam contextualizados com o jogar, respeitou-se uma ordem pedagógica de “sobrecarga” (e entenda-se aqui, sobrecarga, como algo que integra as dimensões tática, física, técnica e psicológica). Nos grupos em que os treinos foram no formato “jogo descontextualizado”, os exercícios (os jogos) foram alocados nos treinos e semanas de trabalho, em ordem aleatória.

Não tenho objetivo, aqui nesse espaço, de descrever minuciosamente aspectos referentes à metodologia para coleta de dados ou análises estatísticas. Isso é coisa para outro fórum de discussões – e já foi, outrora, bem discutido.

Espero, porém, ter contribuído para avançarmos com algumas ideias e esclarecer certas dúvidas.

Acho que é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A luta contra a fome

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Estamos chegando próximo das festas de final de ano, e com elas, o sentimento de solidariedade e de esperança de termos um mundo melhor.

O futebol é parte integrante da luta por esse ideal. Falamos muito aqui na função social desse esporte, que é o mais popular do mundo e movimenta uma riqueza inestimável todos os anos.

Não só o povo precisa do futebol, como também o futebol precisa do povo. E, portanto, um deve cuidar do outro. As entidades que governam o futebol têm enorme responsabilidade por exercer a função social do esporte e promover, por meio dele, dentre outras coisas, a inclusão social, a luta contra a pobreza, e a luta contra a fome.

A FAO, agência da ONU para o alimento e agricultura, divulgou recente número que atesta que mais de um bilhão de pessoas sofrem de fome e desnutrição ao redor do mundo. Muitas vezes, é difícil de visualizar uma forma de ajudarmos essas pessoas (é mais fácil entender que a responsabilidade são dos governantes, ou como dizia o compositor baiano Raul Seixas, “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”).

É nessa medida que as entidades do futebol podem promover ações coletivas, grandes parcerias para que um simples jogo de futebol profissional possa representar, também, um prato a mais de alimento para uma pessoa carente.

Vamos nos unir no espírito natalino e pensar em grandes projetos contra a fome para o próximo ano.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Lavagem de dinheiro

Sempre me preocupa barulho de água na caverna, por causa do Arnaldo, meu amigo bagre cego. Todas as vezes que ele se irrita, ou se excita além da conta, agita-se a tal ponto que acaba caindo fora do lago. Já o recolhi diversas vezes estrebuchando no chão de pedra. Eu e Oto vivemos de olho nele. Por isso, abandonei a contemplação do mormaço da tarde e corri ver o que se passava. Eufórico, o bagre nadava em círculos dentro do lago.

– Vencemos! – ele disse, depois de se acalmar um pouco, mas em lágrimas. – As Olimpíadas, Bernardo, vencemos as Olimpíadas.

Demorei a perceber. Afinal, de quais Olimpíadas éramos campeões? Arnaldo falava da escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016. Passou-me despercebido. Que lapso! O país inteiro em festa e eu contemplando poeira, não mais que poeira no meio de uma tarde quente e ensolarada.

– Foi a vitória da competência, da insistência, da perseverança. Calamos os detratores, os maus brasileiros – enfatizou o bagre.

– E você confia que as verbas para 2016 serão bem utilizadas, Arnaldo? Lembra do Pan?

– Claro que sim, Bernardo. Você se deixa influenciar muito pela imprensa brasileira, principalmente por aqueles jornalistas que pedem a queda dos nossos maiores dirigentes. Onde já se viu dizer que homens como Ricardo Teixeira e Carlos Nuzman deveriam deixar os cargos. Antes, que caia o presidente da república.

– Mas, no que o Rio de Janeiro será beneficiado com as Olimpíadas?

– Será outro, Bernardo, após os jogos. Acabaremos com o tráfico de drogas, despoluiremos a Baía de Guanabara, disciplinaremos o trânsito, não cuspiremos mais nas ruas, urbanizaremos as favelas. Até medalhas ganharemos, aos montes, mas isso é o de menos. Você acha que nossos dirigentes já não pensaram em tudo?

Poderíamos ter esticado esse assunto por muito tempo, não fosse minha atenção ter sido chamada por um papel que boiava nas águas do lago. Aproximei-me e peguei-o: uma nota de cinquenta reais.

– O que é isso? – perguntei.

O bagre era cego, portanto, não podia saber do que eu falava. Expliquei que me referia ao dinheiro no lago.

– A notícia das Olimpíadas me distraiu – disse o bagre. – Até me esqueci do dinheiro. Eu estava lavando essa nota.

– Lavando dinheiro, Arnaldo! Por quê?

– Ora, parece que lavar dinheiro é um grande negócio. A coisa funciona assim: eu pego uma nota de cinquenta, lavo, lavo, e ela fica valendo muito mais.

A inocência do bagre me comovia.

– Arnaldo, meu amigo, não é assim que se lava dinheiro.

– Então, como é? – ele perguntou.

– Vou dizer o que li sobre isso. Mas antes quero saber o que um bagre quer com tanto dinheiro.

Ele me explicou, um tanto por cima, e eu não entendi nada, que tinha uns planos para o futuro. Só mais tarde, tempos mais tarde, pude entender a que se referiam tais planos.

– Para lavar dinheiro, Arnaldo, primeiro a pessoa tem que abrir uma conta num paraíso fiscal. Sabe aqueles lugares que recebem depósitos de dinheiro sem perguntar de onde ele veio?

– E de onde vem esse dinheiro? – perguntou o bagre.

– De muitas fontes – expliquei. – Do tráfico de drogas, vendas de armas, corrupção, compra e venda de jogadores e clubes de futebol, entre outras.

– Jura, Bernardo? Tem gente no futebol que faz isso? Mas não os nossos grandes dirigentes!

Eu disse que não sabia quem fazia isso, mas era o que eu tinha lido sobre o assunto.

– Arnaldo, se você tem um jogador que vale quinhentos mil dólares e ele é negociado por dois milhões, sobram aí um milhão e quinhentos mil dólares. Ora, se você fez um negócio sujo qualquer que lhe rendeu essa enorme quantia, ela pode ser lavada nessa transação. Faz de conta que você recebeu dois milhões pelo jogador quando, na verdade, um milhão e meio foi dinheiro sujo de outra transação lavado na venda do jogador.

O bagre arregalava os olhos à medida que eu descrevia o caso. Pediu detalhes. Contei que o dinheiro seguia uma rota. Abria-se, por exemplo, uma conta em Liechtenstein, um conhecido paraíso fiscal. Lá poderia ser depositado todo o dinheiro ganho nessas transações sujas. Mas, para ele entrar no Brasil, era preciso ter um esquema qualquer. Aí era só abrir uma empresa fantasma em alguma cidade brasileira e essa empresa poderia receber o dinheiro de Liechtenstein como se fosse um empréstimo, empréstimo esse que nunca seria pago.

– E as pessoas que fazem isso não são presas, Bernardo?

– Depende – eu respondi. – Se você for uma pessoa importante, poderosa, mesmo havendo investigações, não dará em nada. Ainda mais se você for um dirigente muito bem sucedido, cheio de títulos. As vitórias fazem o povo esquecer os crimes e os políticos fecharem os olhos.

– Você está de brincadeira, Bernardo. Anda assistindo muita televisão e ouvindo muito aqueles programas de esporte subversivos. Lavar dinheiro é lavar dinheiro, ora. Basta pegar uma nota e esfregar na água, quem sabe com um pouquinho de sabão.

Deixei-o com sua distração. Ele que lavasse à vontade sua nota de cinquenta reais. Mal não faria. Não é fácil diminuir a solidão. Quando me sinto muito só, é ao Arnaldo que recorro, quando não a Aurora ou Oto.

Na semana seguinte encontrei-o eufórico. Oto, meu morcego correio, encontrara uma nota de um dólar, caída de algum bolso distraído, e a trouxe para o bagre. Se lavar real é bom negócio, imagine o que não se faz com dólares.

*Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br  

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Retorno indesejado

Eu achei que o assunto tinha morrido.
De verdade. Mas me enganei profundamente.

É o tipo de assunto que não morre.
Fica, no máximo, colocado no cantinho. Quieto. Escondidinho.
Até que aparece alguma coisa que o coloca de novo sob os holofotes.

A tal da bendita carteirinha de identificação do torcedor.

Eu, sinceramente, não entendo porque algumas pessoas gostam tanto de uma carteirinha.
Confesso que não sou muito chegado. E olha que tenho muitas carteirinhas, entre outros documentos.
Identidade, CPF, habilitação, carteira de trabalho, passaporte, plano de saúde, academia, supermercado, universidade, hostels, banco, clube, jornal e por aí vai.
Tudo pra provar que eu sou eu mesmo.
Como se ninguém acreditasse nisso.
Pressupõe-se, assim, que estou mentindo quando digo que eu sou eu mesmo. Porque talvez eu não seja.
Shakespeare daria piruetas filosóficas.

Como já escrevi por aqui, naquela que deve ter sido a minha coluna mais pop de todos os tempos, já que foi publicada pelo Juca Kfouri e me levou a dar uma entrevista para o Diário de Pernambuco, a ideia da carteirinha de torcedor foi rejeitada na Inglaterra.
Dias atrás, foi rejeitada na Itália.
E jurava que tinha sido rejeitada no Brasil.
Mas não foi.
O projeto continua.
Ainda que outros países não tenham adotado a ideia e que os próprios clubes brasileiros já tenham se posicionado contra.
Mas são coisas do Estado Brasileiro.
Que, na realidade, não dá “lhufas” de importância para a opinião da sociedade.

É, na verdade, uma medida populista.
Uma resposta política que se dá a uma população alarmada por uma ocorrência de violência dentro do estádio.
Como o Estado não sabe o que fazer, ele sugere o cadastramento.
Como se isso fosse a solução para alguma coisa.
É como quando um secretário de segurança anuncia que a principal medida para acabar com a violência é acabar com a torcida organizada. E só.
Como fizeram as autoridades paulistas nos anos 1990. Como fizeram outras tantas autoridades no mundo inteiro, desde que as torcidas organizadas tomaram o formato atual, nos anos 1970 e 1980.
Com fez o Secretário de Segurança do Estado do Paraná, dias atrás, para dar uma resposta imediata à sociedade curitibana, em polvorosa após os graves incidentes do jogo que decretou o rebaixamento do Coritiba.

Ao mesmo tempo, a Câmara de Vereadores votou a favor de um projeto municipal de cadastramento de torcedores.
Parece um script de resposta a acidentes em estádio: carteirinha e acabar com torcida organizada.
O empirismo mostra a eficácia das medidas.
A proposta dos vereadores curitibanos foi quase aprovada em unanimidade na primeira votação. Um único vereador, Professor Galdino, votou contra. Seu argumento contra a proposta foi a não concordância com o estabelecimento de um “Estado policialesco de violência do cidadão”. Um argumento exemplar.

Como também foi exemplar a postura das polícias e da mídia paranaense.
Que identificaram e repercutiram de modo incessante a prisão de 18 dos envolvidos na confusão.

O que mostra que é possível identificar, julgar e prender aqueles que tomaram parte do confronto.

Sem que, para isso, seja preciso você portar mais uma carteirinha.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Longe de casa

O Coritiba FC recebeu pena máxima do STJD, em primeira instância, pelo conjunto de infrações desportivas e distúrbios ocorridos dentro e nos arredores do Couto Pereira, no jogo disputado contra o Fluminense e que determinou seu rebaixamento.

Decisão unânime. Banimento do clube de sua própria casa. Trinta jogos serão disputados a mais de 100 quilômetros de distância de Curitiba. Longe da torcida, em sua maioria absoluta, pacífica e cordial, que suportará o ônus, de ter em sua composição, vândalos que mancharam a centenária história do clube.

Banimento não é um sinônimo de exílio nem de cassação de direitos, mas pode levar uma pessoa a exilar-se ou asilar-se em outro país, sem direito a permanecer na sua pátria de origem. Torcida e clube estarão distantes um do outro.

O banimento foi usado com frequência pela ditadura militar do Brasil para punir dissidentes políticos e guerrilheiros que cometessem “crimes contra a Segurança Nacional”, como seqüestro de diplomatas estrangeiros e luta armada nas cidades e em áreas rurais.

Nossa Constituição Federal em vigor proíbe a pena de banimento sob todas as suas formas.

Em que pese a linha de defesa do clube invocar a possibilidade de que o STJD decidisse aplicar, de forma draconiana, a pena máxima, transformando o Coritiba em exemplo geral de punição à violência no futebol brasileiro, e não ficar restrito a um julgamento técnico-jurídico, foi exatamente isso que ocorreu.

O banimento é uma medida jurídica pela qual um cidadão perde direito à nacionalidade de um país, passando a ser um apátrida (a não ser que previamente possua dupla-cidadania de outro país). O banimento é usado como método de repressão política.

Os auditores do STJD, portanto, sentenciaram não só o Coritiba, mas também com uma espécie de medida socioeducativa geral o nosso futebol, sinalizando, com tempo, necessidade de mudanças estruturais na organização desse esporte no Brasil – a começar por conforto, segurança nos estádios, e punição aos bandidos travestidos de torcedores.

Não se pretende, aqui, discutir a amplitude da pena aplicada, segundo critérios de justiça e equidade. A intenção é desvelar o pano de fundo dos fatos levados a julgamento e que permeiam, sim, todo o ambiente do futebol. E existem exemplos de rigor exemplar nas punições.

A final da Copa dos Campeões entre Juventus e Liverpool é lembrada como “A Tragédia de Heysel”, quando 38 torcedores morreram. A polícia não efetuou nenhuma prisão, mas os hooligans (torcedores ingleses violentos) foram responsabilizados e todos – todos – os times ingleses foram impedidos de disputar as competições europeias por cinco anos.

O conjunto destas mudanças exigidas pelo futebol no Brasil vale dinheiro para os clubes. Que ganhariam mais, num cenário civilizado e confortável – e também, deixariam de perder, pois o déficit do Coritiba será grande longe de casa.

Afinal, em pesquisa da consultoria TNS realizada recentemente, 61% dos entrevistados voltariam aos estádios de futebol se não houvessem torcidas organizadas e sensação de insegurança generalizada.

Infelizmente, não estamos acostumados a fazer com que nossas instituições passem por uma evolução gradativa. São necessários choques para fazer com que todos nós despertemos para a realidade, que exige mudanças, no país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Os números do Brasileirão-09

Olá, pessoal!

Hoje, aproveito e divulgo alguns números do Campeonato Brasileiro de 2009, ansioso para que possamos debater, no decorrer da semana, algumas dessas informações. Lembrando que o dado só transforma-se em informação depois de alguém interpretá-lo.

As tabelas são baseadas nos dados da ScoutOnline, apresentados aqui apenas em sua dimensão numérica. Os dados referem-se à série A do Brasileião-09, e estão apresentados em média.

Importante extrapolarmos o discurso comum de que números simplesmente não trazem informações. Mas sim, que possamos, a partir deles, criarmos mecanismos de especulação. Na próxima semana, definiremos o que é esse tal mecanismo. E ai, qual a sua interpretação?

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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A Universidade do Futebol, a prática do futebol, a sabedoria no futebol, o conhecimento no futebol: a saga dos treinadores inexperientes (de futebol!)

Vem acontecendo uma coisa bem interessante no futebol. Jovens e “inexperientes” treinadores têm conseguido se destacar em seus trabalhos Brasil afora.

Não tenho a intenção de citar nomes, mas seja nos grandes centros do futebol brasileiro, seja nos longínquos e interioranos campeonatos do nosso grande Brasil, ou ainda, em comentados, ou não, clubes europeus, vêm aumentando o número de treinadores que estreiam, em seus primeiros trabalhos, em grandes equipes, ou que em pouquíssimo tempo de carreira têm mostrado desempenho de dar inveja aos seus pares mais “experientes”.

Há muito, no futebol, tanto imprensa, quanto diretores de clube, gerentes de futebol ou coordenadores, encerram, com seus argumentos, qualquer possibilidade de que treinadores, jovens, ou tidos como “inexperientes”, possam assumir cargos em equipes profissionais, especialmente as de “ponta”.

Resultados recentes têm mostrado aquilo que é óbvio, mas que infelizmente demorou a se perceber: treinadores experientes e treinadores inexperientes podem realizar trabalhos bons e trabalhos ruins, podem ser vencedores, ou grandes fracassados!

A experiência, claro, pode ajudar. E muito. Afinal, aprendemos a viver melhor, vivendo; aprendemos a ser melhores treinadores, sendo treinadores.

Temos, porém, que levar em conta que cada um de nós, seres humanos, a cada novo desafio ou problema, tomamos decisões e aprendemos com elas, e que assim, portanto, tendemos a tomar cada vez mais melhores decisões. “Tendemos”!

Pois é. Quanto mais coisas aprendermos em dada circunstância, maiores as chances de encontrarmos melhores soluções para problemas futuros em circunstâncias próximas.

Não devemos nos esquecer, no entanto, que para aprendermos mais nessa “dada circunstância”, devemos nos pautar em conteúdos que adquirimos, ou com experiências anteriores semelhantes, ou com a construção do conhecimento adquirido em outros tipos de experiências.

Então, o que quero dizer, em outras palavras, é que a experiência pode ajudar e vai ajudar de diversas formas, mas que pessoas diferentes expostas a experiências iguais podem alcançar resultados totalmente diferentes, e isso está associado a vivências anteriores, mais ou menos próximas da experiência atual, e também ao conhecimento adquirido até então.

Isso significa que o conhecimento adquirido pode contribuir para melhor e mais aprofundada aprendizagem a cada nova circunstância, de maneira que dois indivíduos diferentes, em mesma situação, podem não só tomar decisões distintas, como também tomando decisões semelhantes, aprenderem coisas bem diferentes.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br