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E o assunto é Neymar

O assunto do momento e todas as atenções da mídia tem se centrado na figura de Neymar. A renovação de contrato com o Santos até 2014 na última semana chamou atenção não só dos meios de comunicação do Brasil como também do mundo, pela audácia, inversão de papéis pela visão de que até então os clubes tupiniquins eram meros fornecedores de “pé de obra” ao mercado europeu do futebol e a força da economia nacional, que permitiu bancar salários e imagem de craques e futuros craques do principal esporte do planeta.

Revistas de negócios e economia a falar sobre a relação de Neymar com o clube, publicações femininas e voltadas para o público a adolescente a idolatrar o craque como símbolo de uma geração e, naturalmente, a mídia especializada em esporte a abordar toda a genialidade do jogador dentro de campo.

Para pagar todo este investimento, vê-se o pool de empresas que se formou e passou a colocar o atleta como endorser de inúmeras campanhas publicitárias, todas elas articuladas pelos seus empresários e pela organização empresarial que se criou dentro do próprio clube.

A partir desta lição feita pela equipe da Vila Belmiro, chegamos a dois pontos que sempre se comentaram em apresentações de especialistas em marketing esportivo e também que aparecem em publicações da área:

1.De o clube assumir um papel que vai além da trivial contratação e pagamento de salários. O Santos assumiu o papel de co-gestor da carreira do atleta, o que trouxe não só uma tranquilidade para o clube negociar alguns contratos, como também possibilitou a geração de receitas suplementares, que até então ficavam nas mãos de empresários ou de outros agentes alheios a cadeia produtiva do futebol.

2.De que ainda temos um campo muito aberto a explorar no sentido dos fãs do futebol no Brasil. Pouco se falou, por exemplo, na questão dos produtos licenciados ou mesmo no aumento do faturamento em bilheteria/dias de jogo pela presença de Neymar em campo, em que os clubes do país do futebol estão bem distantes de seus pares do velho continente.
 

É preciso pensar em estratégias mais eficazes neste sentido. A dependência de uma única fonte de receita é sabidamente temerosa em qualquer segmento de negócios. Amanhã, pela visão das empresas, o “queridinho” pode não ser mais o Neymar, e sim o galã da novela das oito.

Para o futebol e o esporte, ele tende a render por mais 10, 20 ou 30 anos e, portanto, é preciso ser perspicaz para ampliar cada vez mais o leque de receitas com a imagem deste promissor jogador.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Puxa, fulano tem uma baita sorte, hein!?

Saudações a todos!

Vejo constantemente pessoas reclamando da sorte dos outros. “Puxa, fulano tem uma sorte de outro planeta, tudo o que ele faz dá certo”. Mas será que é só sorte? Tenho certeza de que não.

Mesmo quem ganha na loteria não teve apenas sorte – teve ao menos o trabalho de ir à casa lotérica e de fazer uma aposta. Tenho uma história bem interessante para ilustrar um caso assim:

“Um senhor vivia reclamando da sorte dos outros para Deus. Ia todas as semanas na igreja e falava para Deus: ‘puxa, fulano ganhou na loteria e eu não ganhei nada’. Na semana seguinte voltava à igreja e falava: ‘puxa, 12 ganhadores e eu nada’. E fez assim por 30 anos seguidos. Deus tem muita paciência, como sabemos, mas depois de 30 anos ele mesmo não aguentou e quando o homem, na semana seguinte voltou à igreja e repetiu a reclamação, Deus respondeu em voz alta: ‘meu filho, ouço seus pedidos há mais de 30 anos e faço um grande esforço para te ajudar, mas por favor, faço a sua parte, aposte pelo menos uma vez na vida na loteria e prometo que você ganha!'”.

É claro que se trata de um conto, mas mostra com muita clareza como as pessoas encaram os acontecimentos do dia a dia. Seja nas empresas, nos clubes ou mesmo no convívio familiar, todos querem ter sorte, mas poucos criam alternativas, comandam seus objetivos e principalmente trabalham para tê-la e conquistá-la. Sinto que é mais energia gasta para reclamar da sorte dos outros.

Além do caso que contei, tenho outros exemplos mais próximos da nossa realidade e, ao lerem, vocês com certeza se recordarão de outros vivenciados em suas rotinas. Vejam alguns deles:

Em um de meus negócios – uma de nossas empresas é um site de empregos – e sou constantemente procurado por profissionais de idades, cidades, níveis hierárquicos diversos, como uma pergunta em comum: “tenho meu currículo cadastrado em seu site há X meses e nunca arrumei um emprego, mas meu primo, meu vizinho ou meu amigo arrumou emprego rápido. Ele tem muita sorte, né?”.

Eu escuto e esclareço algumas questões para a pessoa ter uma dimensão de onde está inserida e em seguida volto a fazer algumas perguntas. O esclarecimento é simples: nosso sistema tem mais de 11 milhões de candidatos cadastrados e os mais de quatro mil clientes oferecem mais de 25.000 vagas para profissionais de todos os níveis em todo o Brasil e até no exterior.

Então, vejamos:

1.Será que seu primo tem só sorte ou fez algo a mais?

2.O que você tem feito para se destacar dos outros candidatos?

Passada a etapa do não sei e não sei!

Agora que esta pessoa tem ideia de em qual contexto está inserida, e a consciência de que está deixando de fazer algo, eu faço as seguintes perguntas (todas as ações abaixo podem ser feitas no sistema gratuitamente):

1.Seu currículo está completo e sem erros gramaticais?

2.Você fez uma carta de apresentação específica para as empresas que deseja trabalhar?

3.Gravou um vídeo currículo?

4.Pediu referências pelo sistema aos seus conhecidos e ex-empregadores?

5.Tem visto as vagas dentro do seu perfil e se inscreveu nas de seu interesse?

Acreditem, as respostas são sempre “não, não fiz nada disso” e invariavelmente a justificativa é a de que “não tive tempo”. E em seguida, após esse choque de realidade, eu peço que faça uma atualização do currículo com base no que falamos, separe as vagas que deseja participar e me mande o currículo pelo site, para eu avaliar e dar dicas específicas, focadas no perfil. E mais uma vez, acreditem, de cada 100 pedidos, eu recebo um de volta, e esse um que seguiu as dicas, atualizou o currículo e está mandando para eu avaliar. Os outros 99 que não me enviaram os currículos continuarão a achar que são só seus os primos, amigos ou vizinho que têm sorte, eles não!

Vocês já devem ter ouvido que o Michael Schumacher é um cara de muita sorte. Essa expressão é muito comum aqui no Brasil. Gostamos de falar dele, que ele tem sorte, pois foi sete vezes campeão da principal categoria do automobilismo. Além disso, Schumacher tem um acordo com o site oficial da Fórmula 1, e é estatisticamente o maior piloto de todos os tempos, que detém inúmeros recordes, incluindo voltas mais rápidas, maior número de campeonatos, vitórias, Pole Position, pontos marcados e o maior número de corridas ganhas em uma única temporada. É ainda o único piloto na história da F-1 a terminar entre os três primeiros em cada corrida de que participou. Muita sorte mesmo, né?

Mas o que ninguém fala, e o que nem se contabiliza, é o número de voltas que ele já deu em treinos, o número de horas em academias para manter a forma física, o tempo longe da família, as restrições alimentares, etc. Todos continuam achando, inclusive muitos companheiros de grid, que Schumacher é um sortudo e que os demais não têm a mesma sorte.

Sorte é necessária. Tenho certeza de que os primos, amigos e vizinhos dos candidatos que reclamam a falta emprego, tiveram sorte também. Não tenho dúvidas de que o Schumacher é um cara de sorte, mas acima de tudo tenho absoluta certeza de que em ambas as situações houve muito trabalho. Sorte, como diz Milton Neves, é o encontro da competência, com a oportunidade. E acrescento que além de competência para ter sorte, é necessário trabalhar como um Escravo.

É isso, pessoal!

Reflitam sobre isso e façam a sua sorte: ela pode estar bem mais perto do que vocês imaginam. Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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Formação, o mercado europeu e a Bola de Ouro

“A ambição do homem é tão grande que para satisfazer a uma vontade presente, ele não pensa no mal que dentro em breve daí pode resultar”

Henry Ford

 

Peço licença aos meus leitores para, nesta coluna, abordar um tema que foge um pouco do campo, mas que vejo como pertinente para nossa reflexão.

Há alguns meses venho ouvido falar sobre uma possível transferência de dois de nossos maiores craques na atualidade.

Em meio a um turbilhão de informações, alguns “especialistas da bola” alertaram sobre o fato de que outros atletas jovens saíram de nosso país como novos “Pelés” e não tiveram o mesmo sucesso lá fora.

Ouvi ainda que os jogadores obtêm destaque no Brasil, pois nosso futebol não tem um nível técnico tão elevado, fato que nos leva a um “complexo de vira lata moderno” e que o mundo inteiro vê isso, por isso que até este ano não tínhamos nenhum indicado entre os melhores jogadores do mundo ao prêmio Bola de Ouro da Fifa.

Fiz uma profunda reflexão sobre tudo isso que foi dito e gostaria de compartilhar com vocês minhas inquietações.

Primeiro, nosso jogadores passam de seis a oito anos nas categorias de base de nossos clubes. Nesse ambiente, os garotos são submetidos a inúmeras competições que reproduzem proporcionalmente as exigências do futebol profissional. Essa reprodução vai além das quatro linhas do campo e se expande para a organização, nível de cobrança, busca pelo êxito, etc.

Todo esse ambiente “forma” o jogador para atuar em nosso futebol.

Esse fato me fez pensar: como um jogador com 18 anos, que passa quase metade de sua vida na base dentro da cultura de nosso país, pode se adaptar rapidamente e obter êxito em uma cultura de futebol totalmente diferente em um país totalmente diferente?

O fato é que alguns se adaptam, sim! Mas como?

Pelo caráter continental de nosso país, temos em nossas bases jogadores de milhares de quilômetros, onde cada um deles pode ser de uma região do país, que tem seus próprios costumes, os quais são muitas vezes diferentes da cultura onde o clube tem sua sede. Muitos desses garotos têm que se “virar” longe da família e se adaptar muito cedo a uma nova realidade.

Esse fato pode ajudar nas transferências internacionais, mas é tudo?

Acredito que não!

Não tenho todas as respostas, mas acredito que devemos preparar nossos jogadores para entender o jogo de uma maneira complexa para além do modelo, de olho na parte esportiva. Já para prepará-lo para se adaptar a uma cultura totalmente diferente, é preciso um trabalho transdisciplinar, onde a vivência de outra cultura precisa existir, seja por intercâmbio, seja por oficinas, ou alguma outra estratégia (alguns clubes que tem por objetivo negociar jogadores com o exterior já fazem isso).

Outro ponto importante e que somos agentes é que nosso futebol precisa sair desse “complexo de vira lata” e assumir uma postura de vanguarda dentro do cenário mundial. Para isso não podemos apenas nos focar em trazer grandes jogadores, mas sim em buscar a excelência em todas as áreas, criando uma identidade forte e respeitada de nossos clubes lá fora!

Se fortalecermos nosso futebol, podemos ter um dia sete indicados entre os melhores jogadores do mundo à Bola de Ouro da Fifa, assim com a Espanha tem neste ano. Além disso, não ficaremos brigando tanto para manter nossos craques em nosso futebol.

Vejo nosso futebol com muita esperança e noto, dia a dia, que as coisas estão mudando, para melhor. Então, tenhamos paciência, que essa mudança não ocorrerá do dia para a noite.

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 
 

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Entrevista Tática: Nei, lateral-direito do Internacional

Está aberta a entrevista tática!

“Ouvir” os jogadores de futebol brasileiro traduzirá um pouco da visão que os mesmos têm sobre a modalidade e auxiliará a prática de todos os membros da comissão técnica. Para complementar as perguntas-padrão divulgadas na coluna de apresentação, a Universidade do Futebol agradece as contribuições de todos os leitores e insere as perguntas elaboradas por Douglas Soares (aluno de graduação da UNISA/ pergunta 3), Luiz Peazê (CEO da Clínica Literária / pergunta 13) e Marcelo Padilha (aluno de graduação da UFMG / pergunta 14).

Além destas, algumas perguntas foram elaboradas ao atleta para complementar a compreensão das suas respostas.

Lembrem-se de que esta é apenas a primeira entrevista. Periodicamente, ela poderá ser aperfeiçoada, complementada ou até mesmo modificada para manter o objetivo que a mesma se propõe.

Acompanhe abaixo as respostas do Nei, lateral-direito titular da equipe do Internacional:

1-Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.

Palmeiras-SP – 12 anos / Bragantino-SP – 15 e 16 anos / Ponte Preta-SP – 18 a 20 anos e 21 anos / Corinthians – 20 anos / Atlético-PR – 21 a 23 anos / Seleção Brasileira sub-23 / Inter-RS – 24 e 25 anos.

2-Para você, o que é um atleta inteligente?

Atleta inteligente é aquele que consegue se diferenciar dos outros atletas não só dentro de uma partida, mas sim aquele que dentro e fora tem respeito dos seus companheiros. Um cara que coloque sua profissão como foco principal e que tenha uma personalidade que não muda nas horas boas ou ruins.

3-Você saberia descrever o quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?

Eu creio que são modalidades com muita diferença uma da outra, mas de onde você pode tirar aprendizado para o campo e para o profissional. Por exemplo, no futsal você pensa muito rápido por ser um espaço mais curto e você tem um passe melhor e aprimora seu drible. No futebol de areia, você praticamente fica com a bola no ar o tempo todo, pois não tem condução, então, aumenta o controle; e no futebol de rua você aprende a malandragem do brasileiro, pois não tem regras.

4-Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?

Organização tática, muita tranquilidade e treinamento. Precisa também de um líder positivo dentro de campo.

5-Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?

Acho que primeiro de tudo tem que ter uma aprendizagem de leitura tática aprimorada. Depois, um fortalecimento que o mantenha sempre em alto nível e repetição de trabalhos específicos à sua posição.

Você pode exemplificar como devem ser estes trabalhos específicos?

Os trabalhos têm que ser voltados para o que você vai usar no campo. Os meias têm que fazer uns passes com mais marcação, giros rápidos e enfiadas de bola difíceis. Os atacantes, mais finalizações, tabelas rápidas; os volantes, passes e viradas de jogo; os laterais, cruzamentos, tabelas e finalização; e os zagueiros, posicionamento e bolas aéreas.

6-Para ser um dos melhores jogadores de sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?

O lateral, primeiro de tudo, tem que saber que a sua função é marcar. Não tem tanta necessidade de apoio, só tem que descer com certeza. Hoje em dia, um lateral que guarda sua posição, que não deixa tomar gols pelo seu lado e quando sobe tem um bom passe tem tudo pra ser um dos melhores. Com a bola, além do passe, ele tem que saber se projetar, pois sempre será o desafogo da equipe; e sem a bola, saber ocupar os espaços do campo sempre se posicionando pra ajudar os zagueiros.

7-Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.

Taticamente, eu tenho uma boa leitura do jogo e consigo prever várias jogadas, assim posso antecipar um lance mais facilmente. Tecnicamente, sou um cara que me projeto muito fácil ao ataque e chego muito fácil à linha de fundo para uma jogada típica dos laterais. Fisicamente, sou privilegiado, pois tenho velocidade, sempre fui muito forte e tenho uma resistência muito boa, o que me ajuda a manter em um jogo inteiro a mesma performance.

Psicologicamente, sou muito concentrado e praticamente não escuto nada de fora. Sou blindado, isso me ajuda a não oscilar se recebo vaias ou aplausos. Sendo assim, uma qualidade puxa a outra: ser rápido, ter boa velocidade, gostar de jogadas de profundidade e encontrar espaços pra ultrapassagens mais rapidamente e não ligar quando erro. Isso ajuda.

8-Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?

(…) Um cara que taticamente posiciona o time de uma forma única e consegue ocupar todos os espaços do campo com todos os jogadores.

9-Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.

Sou conhecido por minha polivalência, então, nunca tive muita dificuldade de jogar em outras posições, mas sempre que atuo na lateral esquerda tenho um pouco de dificuldade, pois inverte totalmente o corpo pra tudo, tanto pra dominar, como pra driblar e chutar. Apesar disso, sempre joguei tranquilamente.


 

10-Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?

Pra mim, o mais importante foram os treinamentos e a preleção é mais pra relembrar.

Pra você, quanto tempo deveria durar uma preleção e o que precisa ser relembrado?

Dez minutos e relembrar as jogadas ensaiadas e bolas paradas.

11-Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo? Qual você prefere e por quê?

4-4-2 e 4-3-3, eu tenho que me posicionar e me preocupar mais com a marcação sem tanta obrigação de apoiar, já no 3-5-2 eu tenho a liberdade pra atacar e às vezes quase chegando como meia. Eu prefiro o 4-4-2, pois é uma tática mais consistente onde é muito difícil de entrar.

Um time certinho com o 4-4-2 e as peças certas tem tudo pra ser campeão.

12-Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
Com a posse de bola;
Assim que perde a posse de bola;
Sem a posse de bola;
Assim que recupera a posse de bola;
Bolas paradas ofensivas e defensivas.

Com a bola, nosso time joga no 4-5-1, onde priorizamos a posse de bola, pois temos um time muito técnico. Quando perdemos a bola, adiantamos um dos meias, vamos para o 4-4-2 e o time todo marca na linha do meio-campo. Recuperando a bola, tentamos ficar o máximo de tempo com a posse de bola por não termos jogadores de muita velocidade e tentamos acertar um passe pelo meio, então, ficamos com a bola até a hora certa.

Nas bolas paradas ofensivas sempre vamos com quatro jogadores para a área, sempre preenchendo o primeiro pau e um no segundo. Na bola parada defensiva, marcamos individual nos escanteios e nas faltas laterais marcamos por zona.

Existe alguma mudança de comportamento previamente treinada para jogos fora de casa? E com a vantagem no placar? Explique:

Não tem nenhum tipo de
treinamento pra essa situação. Eu pelo menos nunca vivenciei um treinamento assim.

13-O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?

Tento acalmar e, o mais importante, manter o posicionamento. Continuar com posse de bola e mostrar que temos condições de recuperar.

14-Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?

Eu assistia a todos os meus jogos, em casa, antigamente, mas com o tempo você vai ficando mais calejado, não precisa mais ver e sabe onde você errou. Estando mais experiente você não precisa que ninguém venha dizer que está errado ou que precisa melhorar.

15-Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?

O futebol brasileiro tem muita improvisação, já o europeu é muito tático e você nunca vê um time desorganizado por mais largo que seja o placar. Acho que essa diferença é de cultura mesmo, pois aqui é o país do futebol e achamos que nunca temos que aprender nada. Lá, o futebol evoluiu muito e enxergaram que taticamente você consegue montar um time campeão.

16-Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma comissão técnica, qual seria?

Pense sempre com a cabeça do jogador, nunca tente pensar com a tua. É bem mais fácil e assim você vai entender, poder ajudar e melhorar o time todo.

Para finalizar, dê sua opinião sobre o que achou da entrevista e como, na sua visão, a mesma pode contribuir com o futebol brasileiro:

Uma entrevista muito interessante para quem é treinador, que poderá ver o pensamento de jogadores de diferentes status, posições e divisões. Conhecendo mais os jogadores que tem, facilita o trabalho para os treinadores.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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De quem é o Mundial?

Nunca um Projeto de Lei despertou tanta polêmica quanto o que se refere à Lei Geral da Copa. A fim de participar de audiência pública da comissão especial responsável pela análise do projeto da Lei Geral da Copa, na Câmara dos Deputados, o secretário-geral da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Jérôme Valcke, esteve no Brasil esta semana.

Dentre vários temas, debateu-se a viabilidade de haver categoria especial de ingressos com preço reduzido para os jogos do Mundial de 2014, em que seriam incluídos os estudantes, idosos e pessoas de baixa renda e a questão das bebidas alcoólicas nos estádios.

A Lei Geral da Copa trata, na verdade, da positivação (transformação em texto legal) dos compromissos contratuais assumidos pelo país para receber a Copa do Mundo de Futebol. Tem-se que pensar o Brasil como um ente com personalidade jurídica que firma um contrato com outra entidade, no caso, a Fifa.

Ao se candidatar e ser escolhido como o país anfitrião da Copa do Mundo de 2014, o Brasil assumiu compromissos com a Fifa que, por sua vez assumiu compromissos contratuais com seus parceiros e colaboradores. O Brasil, ao aceitar “cláusulas” exigidas pela Fifa, não está abrindo mão de sua soberania, mas concordando em fazer alguma concessão em uma relação bilateral que trará algum benefício.

O Brasil deve esquecer a “síndrome de vira-latas” e ter a ciência que a Fifa estabelece uma série de exigências a todos os países que pretendam sediar um Mundial. Tanto que Patrick Nally, empresário responsável pelo atual modelo de negócios dos Mundiais e dos Jogos Olímpicos, afirmou, em entrevista recente, que os Estados Unidos dificilmente voltarão a receber uma Copa do Mundo ou Olimpíadas, uma vez que há proibição legal para concessão de garantias financeiras exigidas do país-sede.

Assim, devem-se avaliar três pontos: quais das exigências são pertinentes para assegurar que a Fifa honre seus compromissos, quais não representem risco nacional e quais não violem a Constituição da República Federativa do Brasil, a Lei Maior do país.

Não é necessário, portanto, aceitar todas as exigências, nem negar todas, mas avaliar, caso a caso, se estão presentes os três requisitos e qual o custo-benefício para o país. Guardadas as devidas proporções, é algo parecido com o que acontece quando qualquer cidadão vai assinar um contrato importante.

Dessa forma, se vai haver ou não meia entrada, se haverá bebidas nos estádios, etc., deve ser avaliado com cautela, mas abrir mão dos procedimentos protocolares e imigração, dos direitos do consumidor, ou se vão ser criados tribunais de exceção, são temas vedados constitucionalmente, razão pela qual, ainda que previstos na Lei Geral da Copa, estarão fulminados pela inconstitucionalidade.

Portanto, a Lei Geral da Copa deve ser amplamente discutida para permitir que o Brasil se beneficie do Mundial como o fez a Alemanha, que renasceu para o turismo e hoje possui índice de simpatia nunca alcançado desde a Segunda Guerra Mundial e, ao mesmo tempo, evitar que ocorram prejuízos como se deu na África do Sul, que acabou por não obter lucro imediato para o país.

Sobre a questão que inaugura o presente texto, a resposta é mais simples do que parece. A Copa do Mundo de Futebol não pertence à Fifa, não pertence ao país, mas ao povo brasileiro que possui o Mundial cravado em seu DNA e que vivenciará o clima envolvente da Copa do Mundo e guardará eternamente na lembrança e no coração os inesquecíveis dias de 2014.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Portuguesa: o maior amor do mundo da minha aldeia

Muita gente que saiu do Canindé na terça-feira com o título antecipado da Série B não sabia o que era ser campeã. E nem precisava disso para saber ser tão ou mais feliz e orgulhosa que alguns que torcem por best-sellers, campeões de audiência e de campo.

É fácil torcer pelo melhor ou pelo maior. Pode causar raiva em muitos, inveja em tantos, discussão sempre. Mas admitir torcer por um clube de menos títulos, torcida, dinheiro e poder é quase encerrar a discussão e iniciar a galhofa. Ou, muito pior, o que há de mais nefasto, e o que há de mais podre e pobre para o nosso coração rico de paixão: o desprezo. A comiseração.

Pior que ser gozado na derrota é não ser zoado. Melhor aturar uma segunda-feira ainda mais perdida que a partida de domingo que aquele olhar de deixa-pra-lá-que-não-vou-zoar-o-infeliz-que-não-sabe-o-que-é-ser-campeão. Algo que muitas vezes o torcedor campeão da Série B por antecipação e com imensos méritos sabe muito mal o que é.

Mas tem algo que muitos que não foram campeões na terça-feira (mas foram muito mais vezes outros tantos dias) podem não saber sentir. Ou não ter a menor ideia mesmo. Não é o prazer de ser campeão. É o prazer de ser. Simplesmente isso: ser.

Quem é Portuguesa é. Ponto final. Algumas vezes pontos ganhos. Muitas vezes pontos e partidas perdidas. Mas quem é Portuguesa quis. E quer muito mais que outros mais queridos pela bola. Quem é Portuguesa pode amaldiçoar o avô, o pai, a mãe, Madredeus, a namorada, o bairro, Portugal, a camisa rubro-verde, o caldo verde, o pastel, o fado, os fardos, o Roberto Leal, a Amália Rodrigues, o coração, o Tejo, Camões, Julinho Botelho, Djalma Santos, Ivair, Enéas, Edu Marangon, Dener, Zé Roberto, Cabral, Caminha, os caminhos, as caravelas, os caras velhos que não dão as caras, os caras pintadas que cobrem o rostos, os euros, os escudos, os brasões, os barões assinalados, os plebeus apunhalados, as armas, as almas, os Desportos, a Portuguesa, a Lusa, a luz que não acende às margens do Tietê ainda mais marginalizado no Canindé.

Mas quem viu aquela gente toda ali contra o Sport. Quem vê não tanta gente por aí neste esporte que vai muito além de ser campeão, sabe que um torcedor rubro-verde precisa se respeitar mais que o próprio clube pelo qual ele torce.

Não sou Lusa. Mas queria que mais gente no meu Palmeiras amasse tanto a Portuguesa como essa turma ótima do Jorginho. Gente de primeira linha que não importa a divisão ou multiplicação. Não importa se é primeira ou última colocada. O que importa é ser. Portuguesa!

Vamos à luta, ó, campeões!

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Meios e métodos para o treinamento de força no futebol

Sabendo que a força é uma importante capacidade motora para a prática do futebol, qual o melhor método para seu desenvolvimento?

Embora as leis da física definam a força como sendo o produto da massa pela aceleração (F=m.a), na teoria do treinamento muitos a entendem apenas como a carga que alguém consegue deslocar sem, no entanto, considerar a velocidade com que essa carga é deslocada.
Nesse sentido, a teoria do treinamento desportivo divide a força em alguns parâmetros, os quais são melhorados conforme as tipologias de treinos que são aplicadas.

Quando o sujeito desloca a máxima carga externa possível em uma única execução, por exemplo, essa capacidade é chamada de força máxima. Tradicionalmente esse tipo de treino possibilita maior ativação das unidades motoras e maior adaptação central do que muscular e geralmente é realizado por aqueles que desejam ganhar força, porém não desejam ganhar peso (como é o caso de algumas lutas onde as categorias são definidas pelo peso corporal).

Para treinar essa capacidade, o atleta deverá realizar poucas séries (1 a 3), poucas repetições (1 a 5) e cargas muito elevadas (95 a 100%). Como a adaptação neural é um ponto forte desse tipo de treino, também é recomendado que os intervalos entre as séries sejam longos (3 a 5min) para permitir recuperação metabólica completa. Apesar de extremamente vantajoso, o cuidado com esse tipo de trabalho é não deixar o sistema nervoso do atleta se acostumar com movimentos lentos.

Já para aqueles que desejam aumentar os níveis de força pelo ganho de massa muscular, devemos trabalhar a chamada resistência de força. O objetivo desse treino é permitir que o sujeito tenha hipertrofia e para isso ele deve executar séries duradouras (3 a 6), com maior número de repetições (8 a 12) e cargas moderadas/altas (>80% de 1RM). Vale lembrar que, para hipertrofia, o ideal é que a recuperação entre as séries não sejam completas e, para isso, intervalos entre 45 e 90s são suficientes.

Outra possibilidade de se treinar força é pelo trabalho de resistência muscular localizada. Embora este tipo de força seja importante como capacidade motora geral, no futebol ele é praticado como parte de um treino regenerativo ou por aqueles que necessitam melhorar o condicionamento físico ou estão em processo de reabilitação e precisam melhorar a musculatura antes de voltar para o trabalho de hipertrofia ou potência.

Esse tipo de força é treinado com altas repetições (>15), carga leve (<60% de 1 RM) e geralmente feito em circuito com alternância de grupos musculares. Nesse caso não há necessidade de intervalos entre as séries.

Quando a força é produzida na menor unidade de tempo possível, estamos nos referindo a força rápida ou força explosiva. Nesse tipo de treino a potência é o principal objetivo, sendo o número de séries e de repetições relativamente curtos. Já os intervalos entre as séries precisam ser bastante longos, pois como essa potência geralmente está associada com a técnica específica do gesto, ela deve ser realizada sem nenhuma fadiga prévia para não prejudicar a qualidade do movimento.

Agora que já definimos os tipos de força e as cargas onde cada uma pode ser treinada, podemos pensar na especificidade dos gestos para o futebol. Para muitos, a especificidade do treino está na semelhança do movimento treinado com o executado no esporte. Contudo, se pensarmos na extensão de joelhos, por exemplo, poderíamos dizer que a cadeira extensora é um treino específico para o chute, já que ambos necessitam de extensão do joelho?

Obviamente que não, pois mesmo o movimento sendo parecido (extensão de joelho) do ponto de vista neural, ele é totalmente diferente. Além disso, se a cadeira extensora for realizada para hipertrofia, se não houver transferência do aumento da massa muscular (hipertrofia) para o gesto técnico do chute (coordenação), esse tipo de trabalho pode até piorar o desempenho.

Além disso, sabendo que talvez o maior objetivo o futebol seja potência e velocidade, o treino de hipertrofia, embora permita acumular mais massa muscular e seja importantíssimo, principalmente no período de formação do atleta, caso ele não seja “transferido” para um treino de potência, o atleta até poderá ficar extremamente musculoso, porém poderá reduzir sua velocidade. Por esta razão, no passado, muitos treinadores aboliam o treino de força para os atletas, pois percebiam que ao praticarem treino de hipertrofia os jogadores ficavam mais lentos ou “duros”.

Para que isso não aconteça, duas estratégias podem ser adotadas e serão descritas a seguir:

i)pedir para o atleta executar os movimentos sempre na máxima velocidade possível, independente do tipo de treino de força que ele está realizando;

ii) exercitar sua capacidade de restituição de energia elástica acumulada durante as ações excêntricas da musculatura esquelética.

No segundo caso, estamos nos referindo ao treinamento pliométrico, o qual tem ganhado cada vez mais destaque no futebol e será nosso assunto da próxima semana.

Até lá!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

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Antes, durante e depois

A campanha atrelada ao lançamento de novos produtos da Gatorade no ano passado, com o nome “Evolved”, lançando a ideia de que os praticantes de esporte devem consumir diferentes produtos da marca antes da atividade, durante e depois, para repor as energias gastas, merece um destaque para refletirmos a atitude dos clubes no seu relacionamento com os torcedores.
 


 

Ainda sobre o Gatorade, que antes era percebido apenas com uma bebida de reposição, lança a percepção de consumo em todos os momentos da prática do esporte, ampliando naturalmente a relação dos esportistas com a marca e reforçando seu valor para a melhoria da performance esportiva. Se antes o consumidor comprava “apenas” um Gatorade, hoje sente a necessidade de três…

E qual a associação desta lógica com a dos clubes? Potencializar recursos apenas no domingo (dia de jogo) ou passar a ficar presente na vida do seu torcedor cotidianamente, ou seja, “evolved”?
 


 

O “antes” pode estar no canal de TV do clube, em uma plataforma de mídia digital eficiente, na loja de produtos licenciados, no acesso facilitado a ingressos, no memorial do clube e por aí vai. O “durante” pode ser naturalmente o jogo, de preferência em um estádio confortável, seguro e com bom acesso. O “depois” pode ser novamente a TV e a internet, e também o bar temático ou o ponto de encontro dos torcedores.

Enfim, a ideia passa por entender o comportamento dos consumidores, os seus anseios e assim poder lançar produtos e serviços inovadores, saindo sobretudo do lugar comum que é a simples repetição de ações antiquadas.

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Paradoxo Facebook

Nunca foi tão fácil se relacionar com outras pessoas ou empresas como hoje em dia.

A resposta geral é um tanto óbvia: internet.

A resposta específica, diria, é o Facebook – antes conhecida como Orkut, ou Twitter, ou…

Bom, o reinado do Facebook, nas redes sociais, deverá ser mais longevo do que seus antecessores. E talvez venha algum sucessor em breve.

Entretanto, tenho notado que quem faz uso das redes sociais, como fim em si mesmo da comunicação e do relacionamento, estará a um passo da frustração.

Rede social é o meio, atualmente mais eficaz, de criar, expandir e consolidar seu relacionamento.

Desde que o conteúdo seja relevante, como sempre foi necessário.

Por outro lado, paradoxalmente, tudo aquilo que as pessoas vêem e degustam em pequenas doses ou porções, aguça a curiosidade para satisfazer o contato de modo pleno.

Não adianta, simplesmente, expor-se de modo virtual. Bons relacionamentos são forjados no olho-no-olho, no tetê-à-tête.

Ou você acha que as pessoas/empresários estão viajando menos, seja para curtir férias ou fechar negócios?

Ao contrário.

E toda mobilização de pessoas e corporações, incluindo os atores da indústria do futebol, aumentou, uma vez que fica bem mais fácil afastar o medo do desconhecido.

Portanto, ainda são valiosas as iniciativas de relacionamento pessoal, como a recém criada Associação dos Executivos de Futebol, idealizada por Rodrigo Caetano, que ocupa função de destaque no Vasco.

Ou, ainda, o programa de fidelidade Club One, da Tramontina, empresa gaúcha que trouxe executivos de 30 países onde realiza negócios para expandir e consolidar parcerias comerciais.

Também se destaca o AC Milan, com seu workshop anual dedicado aos patrocinadores, fornecedores e mídia, em que o clube relata as realizações da temporada anterior e projeta o calendário seguinte – funcionando até como prestação de contas aos stakeholders.

A LIDE, idealizada por João Doria Jr., é um excelente exemplo de união de lideranças em torno de um fórum de discussões propositivas na comunidade empresarial e política do Brasil.

E acabo de saber também do grupo chamado The Elders (“Decanos”). Criado em 2007, por Nelson Mandela, é um “grupo de líderes globais independentes trabalhando juntos pela paz e por direitos humanos”. FHC, Jimmy Carter, Kofi Annan e Desmond Tutu estão entre eles.

Sem contar as atividades desenvolvidas pelos grupos de ex-alunos de universidades americanas e européias (Alumni) que, no caso do futebol, destaco a Universidade de Liverpool e os egressos do curso de Indústria do Futebol – a Universidade do Futebol já foi agraciada com colunistas de tal quilate.

Para a novíssima geração – acho que está na Z, e daqui a pouco vira o alfabeto e volta pra A – diria que as funcionalidades “curtir”, “compartilhar”, “publicar”, “comentar” e, principalmente, “adicionar amigo”, são muito mais valiosas com conteúdo relevante e praticadas no cotidiano de maneira real e direta.

Li uma vez que o mais importante no networking é o seguinte: não quem você conhece, mas quem conhece você.

O slogan do Orkut, portanto, prenunciava a derrocada do site.

E a primazia do cafezinho para conversar com alguém, por qualquer que seja o motivo ou causa, ainda vai durar muito tempo.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Estudo de caso: a análise do próximo adversário

“O que possibilita ao soberano inteligente e seu comandante conquistar o inimigo e realizar façanhas fora do comum é a previsão, conhecimento que só pode ser adquirido através de homens que estejam a par de toda a movimentação do inimigo”
(Sun Tzu)
 

A leitura que você está fazendo neste momento sucede a primeira partida da semifinal do Campeonato Paulista de Futebol sub-20, entre São Paulo FC e Paulínia FC, no CFA Laudo Natel, em Cotia. Para saber o resultado do jogo (se já for segunda feira, 07/11, a partir das 14h00) clique aqui. Porém, para entender o contexto que antecedeu o confronto, além do provável comportamento de jogo do São Paulo FC, acompanhe as próximas linhas.

O Paulínia FC joga pelo empate na combinação das duas partidas. O treinador, Élio Sizenando, tem a missão de armar a equipe sem quatro jogadores titulares (um atleta recém-negociado, dois suspensos e um machucado). Destes, alguns já não atuaram nas quartas de final. Para se adequar às ausências, foram necessárias substituições com atletas do mesmo nível (algo possível quando a maioria do elenco tem ao menos cinco anos de clube) e variações estruturais do sistema para otimizar as características dos jogadores. Em 18 jogos, o desempenho do Paulínia FC foi de 75,9% com 12 vitórias, cinco empates e somente uma derrota.

O adversário, com desempenho de 66,7%, em 20 jogos venceu 12 vezes, empatou quatro e perdeu quatro. Comandados pelo técnico Sérgio Baresi, a equipe do São Paulo teve o seu último confronto analisado qualitativamente, registrado com fotos e, para complementar a análise da equipe, foi feita também a busca de vídeos de gols feitos e sofridos a fim de que se ampliem os dados obtidos.

Após as análises feitas, foi criado um relatório para a comissão técnica da equipe sub-20 do Paulínia FC que, com ele em mãos, organizou o microciclo de treinamento.

A partir de todos os dados coletados, a “previsão” (vide novamente a frase de Sun Tzu) que pode acarretar uma ocorrência fora do comum, ou seja, um time pequeno derrubar um grande em seu próprio território é a seguinte:

Planilha de Cartões e atletas em condição de jogo:


 

Como pode ser observado, todos os atletas do SPFC estão em condições disciplinares de jogo. Oito atletas estão pendurados, dos quais seis têm sido titulares com regularidade. Clinicamente, o goleiro titular Leonardo Navacchio pode não ter condições de jogo, pois foi substituído no intervalo da partida contra o Corinthians, segundo informações, lesionado.

Plataforma de jogo 1-4-4-2 (losango) e equipe:

 

Características individuais:

Richard – Protege bem o alvo, tem uma boa saída do gol e faz reposições predominantemente com as mãos. Pelas observações, não saiu jogando em tiros de meta.

Leonardo – Demonstrou menor leitura de jogo para interceptações de bolas aéreas. Quando exigido, fez boas defesas. Tentou sair jogando em tiros de meta, algumas vezes sem sucesso.

Lucas Mendes – Não jogou contra o Corinthians. Pelas imagens e informações conseguidas, apoia constantemente com cruzamentos perfeitos, porém, demora para ocupar seu setor defensivamente.

Marcelo – Fecha bem o corredor central, tenta sair jogando, mas não participa da manutenção da posse da equipe. Destaque para antecipação da ação e interceptações.

Luiz Paulo – O capitão da equipe. Destaque para o posicionamento e vantagem no 1×1 e, assim como seu companheiro, não faz parte da manutenção da posse.

Cleiton – Tem bom passe. Chega em profundidade pelas faixas laterais prioritariamente por passe e movimentação. Não conduz em velocidade. Ótima relação com a bola ofensiva.

Marcel – Defensivamente, tem função primordial na proteção da faixa central. No jogo em que foi observado, apoiou pouco o ataque, principalmente no segundo tempo. Muito eficiente no mecanismo desarme-passe.

João Felipe – O organizador ofensivo do São Paulo. Sempre de cabeça erguida, pensa o jogo para o melhor momento da assistência. Usa muito bem sua perna esquerda para os fundamentos ofensivos. Posiciona bem na fase defensiva da equipe.

Dener Gomes – Vindo do Depto. Profissional, jogou os últimos dois jogos. Com movimentações constantes, é um jogador difícil de ser neutralizado. Não cadencia o jogo, priorizando ações verticais. Finaliza muito bem de fora da área.

Régis – É o nono jogador a passar a linha da bola no momento defensivo e sai muito rapidamente na transição ofensiva. Canhoto e driblador, é quem desacelera o ataque da equipe. Por vezes, se não executou o passe-gol, aparece em diagonais para finalizar. Nas faixas laterais foi improdutivo.

Alfredo – É o artilheiro da competição com 16 gols. Há bastante tempo no São Paulo, e na função de atacante, lê muito bem o momento da penetração. Contra o Corinthians, teve três chances claras de gol (a partir desta ação tática) e falhou na definição. Muito bom em diagonais curtas e finalizações de primeira.

Bruno Cantanhede – Jogador de menor mobilidade da equipe do São Paulo. Ocupou a faixa lateral esquerda a maior parte do jogo. Em algumas situações apareceu bem posicionado na grande área em diagonais para finalização. Habilidoso, prende a bola excessivamente.

Síntese das características coletivas (somente do jogo contra o Corinthians):

Organização Defensiva – Demonstrou um comportamento predominante de recuperação da posse de bola orientado por uma marcação por setor e também individual por setor. A marcação se iniciava a partir da Linha 1 no primeiro tempo e a partir da Linha 3 no segundo tempo. Preferencialmente, tiveram nove jogadores atrás da linha da bola, com um rápido movimento de recomposição.

Devido ao bom posicionamento dos volantes e centrais, foi muito difícil atacá-los com toques curtos pelo meio. Destaque para as coberturas defensivas constantes (com exceção do goleiro) e distância entre linha de defensores e de meias. Como pontos vulneráveis da organização defensiva, o mau equilíbrio do lateral-esquerdo quando oposto à bola e o bloco defensivo distante quando a equipe adianta a marcação.

Plataforma de jogo e forma de marcação

Posicionamento no tiro de meta adversário

Distância entre linhas ao adiantar marcação

Transição Ofensiva – Com uma ocupação de espaço que gerava uma saída muito rápida do campo de defesa no primeiro tempo, tanto a partir de retirada vertical, como horizontal do setor de recuperação, este momento do jogo foi muito assertivo, principalmente por passes curtos. No segundo tempo, com uma postura mais defensiva e menos jogadores se posicionando à frente da linha da bola, a alternativa mais utilizada e não assertiva, foi o passe longo. Predominantemente, o balanço ofensivo foi feito co
m dois jogadores.


Balanço Ofensivo

Organização Ofensiva – O comportamento operacional predominante demonstrado pelo SPFC foi o de progressão ao gol, com alguns jogadores mantendo estruturas fixas (5, 6, 9 e 10) e outros, móveis (7 e 8).

Num ataque rápido combinaram movimentações, desmarcações e tabelas até regiões intermediárias, de onde partia um passe em profundidade para o número 9. Destaque para o alto número de situações de finalização e para a qualidade da troca de passes curtos. Como não mantêm a posse de bola, podem ter dificuldades ofensivas se tiverem as ações de penetração (9 e 10) e finalização (8, 9 e 11) bloqueadas.

O bloco ofensivo foi muito bem feito no primeiro tempo, com a equipe posicionada quase toda à frente do meio-campo, laterais em amplitude e frequentemente cinco jogadores à frente da linha da bola. No segundo tempo, com a já mencionada postura mais recuada, o bloco ofensivo distribuído organizadamente no campo de jogo praticamente não ocorreu, o que facilitava a distribuição de quatro jogadores no balanço ofensivo do oponente.
 

Predominância de campo efetivo de jogo no 2º tempo

Transição Defensiva – Para este momento do jogo, os comportamentos mais observados foram o de ataque à bola. Por vezes, o tempo para mudança de atitude ofensiva/transição defensiva de alguns jogadores era relativamente alto, o que facilitava a transição ofensiva do adversário. Os atletas que mais demoraram em cumprir estas ações foram Bruno (11) e Dener (8). Com o adversário em organização ofensiva, a ação de recomposição da equipe foi eficiente. Ainda sobre o ataque à bola, o mecanismo predominante foi individual e grupal, não coletivo.

Bolas Paradas Ofensivas – Em escanteios, as cobranças foram feitas abertas e a disposição da equipe do São Paulo está indicada na foto abaixo:

Primeira trave: nº 9
Segunda trave: nº 3
Meio da área: nº 11, 8 e 7
Rebote: 10

É importante mencionar que em jogos anteriores, os vídeos obtidos constatam cobranças fechadas.

Nas cobranças feitas não foram percebidas trocas de posições/jogadas ensaiadas e, em duas situações, o número 10 movimentou-se para uma jogada curta.

Em faltas laterais, alternância de cobranças abertas e fechadas com a mesma disposição numérica na grande área. Faltas frontais cobradas pelos jogadores Gabriel (2) e João Felipe (7).

Bolas Paradas Defensivas – A marcação da equipe são-paulina era feita de forma individual, com referências zonais na primeira trave conforme pode ser observado a seguir:

 

Forma de marcação em bolas paradas

Não dá para afirmar se o adversário tem todas estas informações a respeito do Paulínia FC, ou até mesmo, além destas. É fato que uma análise ainda mais completa poderia ser feita se o Paulínia FC dispusesse de mais jogos do São Paulo, ou então, se tivesse acompanhado mais jogos in loco. E ainda, um scout quantitativo também poderia ser feito para comprovar o Modelo de Jogo do SPFC juntamente com a análise qualitativa.

Enquanto encerro esta coluna, não tenho ideia de qual será o placar do embate. No entanto, na somatória de variáveis inter-relacionadas que compõem o sistema “jogo São Paulo x Paulínia” tenho certeza de que informações importantíssimas para o confronto foram adquiridas.

Que a vitória seja de quem melhor cumprir a Lógica do Jogo de futebol. Para cumpri-la, neutralizar diagonais e dribles de Régis, passes de João Felipe, penetrações e finalizações de Alfredo será indispensável. Indispensável também será tornar eficiente os pontos fortes da equipe perante o “delay” de transição defensiva do São Paulo, os espaços entre linhas quando adiantam a marcação e o mau equilíbrio defensivo em setores opostos à bola.

Para quem quiser observar os melhores momentos do último jogo do São Paulo, veja o vídeo abaixo:
 


 

Até a próxima semana.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br