Introdução
O desempenho no futebol depende de vários fatores: físicos, técnicos, táticos e psicológicos (STOLEN et al., 2005). Dentre esses fatores a parte física tem sido bastante estudada (BARROS et al. 2007; ALVES, 2012). Assim, esse esporte tem sido caracterizado por esforços intermitentes e de alta intensidade, no qual 90% da produção de energia em uma partida é oriunda do sistema energético aeróbio (BALSON e EKBLOM, 1991; BANGSBO, 1994). Tem sido observado que os atletas percorrem em média em uma partida 10 km em uma intensidade próxima do limiar anaeróbio e a 85% da frequência cardíaca máxima. A predominância das velocidades das ações realizadas em uma partida é de 0 a 10 km/h, em média 5526m Barros et al. (2007). Dessa forma, a maior parte da distância total percorrida é realizada na forma de caminhada e trote.
Quanto maior for a capacidade de consumo máximo de oxigênio (VO2max) do jogador de futebol maior será a capacidade de restaurar o ATP utilizado nas ações da partida (BANGSBO, 1994). Assim espera-se que o atleta com elevado VO2max se recupere rápido de cada ação executada e possa percorrer uma maior distância.
Têm sido importante a utilização das avaliações físicas para predizer o desempenho físico dos jogadores de futebol (ALVES, 2012). Assim as comissões técnicas podem planejar o treinamento e também tomarem melhores decisões para determinar funções táticas para os jogadores. Portanto, Bangsbo (1996) sugeriu a aplicação dos testes de YoYo para avaliação da condição aeróbia do jogador de futebol. Esses testes possuem três variações em dois níveis cada, entretanto, grande parte dos estudos tem sido realizados com YoYo intermittent recovery level 1 (YYIRT1) (BANGSBO et al., 2008) e com o YoYo endurance intermittent level 2 (YYEIT2) (BRADLEY et al., 2011), ambos testes possuem componente intermitente. Contudo, existe o YoYo endurance test level 2 (YYET2) que é realizado de forma contínua (BANGSBO, 1996) e também é bastante utilizado nos clubes de futebol.
O YYET2 possui uma aplicabilidade menos complexa, por não haver pausas durante o teste e parece ser mais influênciado pela capacidade aeróbia do que as versões desse teste com pausa (CASTGNA, 2006). Portanto, o objetivo desse estudo foi verificar se existe correlação entre o desempenho no YYET2 e a distancia total percorrida em jogos oficiais da primeira divisão do campeonato paraense.
Métodos
Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (Protocolo 485/10). Participaram desse estudo 11 jogadores de futebol que assinaram um termo de consentimento livre esclarecido. Os mesmos pertenciam a categoria profissional e disputavam o primeiro turno da primeira divisão do campeonato Paraense, as características da amostra estão expressas na Tabela 1.
Tabela 1 – Percentual de gordura, massa corporal, idade e estatura dos jogadores de futebol.
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Percentual de gordura |
Massa Corporal (kg) |
Idade |
Estatura (cm) |
Média |
10,1 |
77,1 |
26 |
178 |
Desvio Padrão |
2,7 |
8,5 |
3,8 |
8,1 |
No início da temporada os voluntários realizaram avaliações da composição corporal e consumo máximo de oxigênio (VO2max) (Tabela 2). O percentual de gordura corporal foi determinado pelo protocolo de Jackson e Polock, (1978) e o VO2max estimado através do YYET2 (BANGSBO, 1996). O YYET2 é realizado de forma contínua em uma distância de 20m metros no formato de ida e volta, no qual a velocidade é aumentada de acordo com um estímulo sonoro, dessa forma o VO2max pode ser estimado de acordo com o desempenho no teste.
Ao longo dos jogos do primeiro turno do campeonato estadual os jogadores de futebol foram monitorados com um sistema de posicionamento global (GPS), modelo Qstarz BT-Q1300ST com gravação de 5Hz.
Os jogadores foram monitorados de 1 a 8 jogos cada, sendo que a maior distância total percorrida foi utilizada para a análise estatística. A correlação entre o desempenho no YYET2 e a distância total percorrida foi verificada através do teste de Pearson.
Resultados
Os jogadores percorreram em média nos jogos 7007,6 ± 676,2 m e apresentaram VO2max de 55,6 ± 5,5 mL.kg-1.min-1.
O YYET2 apresentou correlação positiva com a distância total percorrida, valor de r=0,79 e p<0,05. O desempenho no teste foi expresso no formato de VO2max (mL.kg-1.min-1) e a distância total percorrida em uma partida de futebol expressa em metros (Figura 1).
Figura 1- Correlação entre VO2max e distância total percorrida. P<0,05 e valor de r=0,79
Discussão e Conclusão
O principal achado desse estudo foi verificar que o atleta que tem o melhor desempenho no teste de YYET2 também consegue realizar a maior distância percorrida em uma partida de futebol. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que o futebol possui uma predominância das ações percorridas em baixas velocidades (BARROS et al., 2007), assim o sistema de produção de energia aeróbio é a principal fonte enérgica para essas ações (BANGSBO, 1994).
Outro dado interessante foi a descrição dos valores da distância percorrida com o gps utilizado no presente estudo (7007,6 m), pois o mesmo veem sendo utilizado em vários clubes de futebol do Brasil pela sua praticidade nos jogos.
Dessa forma, o teste utilizado no presente estudo é um teste válido para avaliar e predizer o desempenho de jogadores de futebol.
Bibliografia
ALVES, A.L. Comportamento da enzima creatina quinase sanguínea em jogadores de futebol de elite durante o campeonato brasileiro. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.
BALSON, P.D.; SEGER, J.Y.; EKBLOM, B. Physiological evaluation of high intensity intermittent exerxise. Communications to the second world congress on sciense and football,. Eindhoven, Netherlands, 2nd (Science & Football). p.161, 1991.
BANGSBO, J. The physiology of soccer – with special reference to intense intermittent exercise. Acta Physiologica Scandinavica, v.151 (suppl.619), p. 1-155, 1994.
BANGSBO, J. Manual yoyo test. 1996.
BANGSBO, J et al. The Yo-Yo intermitente recovery test: A useful tool for evaluation of physical performance in intermittent sports. Sports Medicine, v.38, n.1, p.37-51, 2008.
BARROS, R.M.L.; et al. Analysis of the distances covered by first division Brazilian soccer players obtained with an automatic tracking method. Journal of Sports Science and Medicine, v.6, n.2, p.233-242, 2007.
BRADLEY, P.S.; et al. Sub-maximal and maximal Yo-Yo intermittent endurance test level 2: heart rate response reproducibility and application to elite soccer. European Journal Applied Physiology, v.111, n.6, p.969-978, 2011.
CASTAGNA, C.; et al. Aerobic fitness and Yo-yo continuous and intermittent tests performances in soccer players: a correlation study. Journal of strength conditioning research, v.20, n.2, p.320-325, 2006.
STOLEN, T.; et al. Physiology of Soccer. Sports Medicine, v.35, n.6, p.501-536, 2005.
*Mestre Em Ciências Do Esporte (UFMG) e fisiologista do Paysandu Sport Club