Luiz Greco – coordenador do Santos B

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Pela trajetória profissional ou pelo local em que trabalha atualmente, Luiz Greco, 55, tinha tudo para ser uma pessoa apegada a tradições. Formado em educação física pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1983, ele acumula 36 anos de ocupações vinculadas ao futebol e hoje coordena o time B do Santos, um dos clubes nacionais com maior lastro de investimento na base, casa que já ajudou a moldar talentos como Diego, Robinho, Paulo Henrique Ganso, Neymar e Pelé.

Greco, contudo, não é um profissional saudosista ou apegado a tradições. Desde que ingressou na área acadêmica, sempre participou de seminários, palestras e cursos em busca de atualização. Além disso, não vê futebol com um direcionamento ao passado. Quando critica o atual nível técnico e a escassez de talentos em âmbito nacional, por exemplo, faz comparações com os modelos aplicados em outras partes do mundo e as necessidades do jogo de hoje.

Em entrevista à Universidade do Futebol, Greco falou um pouco sobre o conhecimento acumulado em tantos anos militando na área e as impressões sobre o Santos, time em que ele trabalha desde março de 2017.

Confira a seguir os principais trechos da conversa:

Universidade do Futebol – Qual é sua opinião sobre a qualidade de jogo no futebol brasileiro atual?

Luiz Greco – Estamos ainda abaixo do ideal. Creio que com o potencial técnico dos nossos atletas a qualidade do jogo pode melhorar sensivelmente. Cada vez mais, sentimos uma nova geração de treinadores atuando nas principais equipes com novas ideias, trabalho de qualidade e uma preparação melhor para encarar as dificuldades da profissão.

Universidade do Futebol – O futebol brasileiro hoje tem menos talento do que antigamente?

Luiz Greco – Ainda vejo talentos no futebol brasileiro, mas não revelamos tanto quanto antes. Vejo o Brasil como um país abençoado do ponto de vista étnico, com a mistura ideal de raças para o desenvolvimento do atleta de futebol, mas precisamos evoluir na parte estrutural de escolas de futebol e clubes e na formação acadêmica de todas as pessoas envolvidas.

Universidade do Futebol – De maneira geral, como você avalia o trabalho realizado em categorias de base no Brasil? Existem pontos que podem ser aprimorados? Se sim, quais?

Luiz Greco – Avalio como positivo o trabalho das categorias de base no Brasil, com melhorias em vários aspectos que são muito importantes para o desenvolvimento de atletas. Temos hoje, principalmente nas regiões sudeste e sul, equipes com trabalhos bem estruturados em suas divisões de base, com boas instalações e profissionais com bom perfil para desempenho de suas funções. Principais pontos a serem melhorados: realização de cursos, seminários e clínicas nas regiões centro-oeste, nordeste e norte; intercâmbio de ideias com profissionais de renome internacional em eventos organizados por CBF e federações; participação de equipes brasileiras em competições internacionais para categorias de formação.

Universidade do Futebol – Quais são suas principais responsabilidades e atribuições no Santos?

Luiz Greco – Estou no Santos desde 27 de março deste ano – ou seja, há aproximadamente cinco meses. Sou responsável pela gestão técnica da equipe B, coordenando a comissão técnica. Cuido também de toda parte burocrática para participação de nossos atletas em competições oficiais, contato inicial na contratação de atletas, planejamento de viagens nas competições e amistosos que participamos, além do contato permanente com o superintendente de futebol do clube sobre performance do elenco em treinos e jogos.

Divulgação: Santos
Divulgação/Santos

Universidade do Futebol – Como é a relação entre categorias de base e departamento profissional no Santos? Como vocês trabalham a transição entre formação e alto rendimento?

Luiz Greco – O Santos tem em seu DNA a valorização de atletas de categorias de formação. Desde Pelé, passando por Robinho, Diego, Paulo Henrique Ganso, Gabigol e Neymar, o clube sempre foi referência nacional. Com essa preocupação em continuar revelando atletas, em 2015 foi criada a categoria sub-23, também chamada de Santos B, para que a transição base-profissional seja otimizada e tenha maior aproveitamento. Assim, essa categoria trabalha alinhada à filosofia de trabalho da equipe principal, no mesmo CT, com reuniões semanais entre comissões técnicas visando a utilização dos jogadores que mais se destacam. Também há atividades conjuntas e a presença de membros da comissão técnica principal em partidas da equipe B.

Universidade do Futebol – Que importância a categoria sub-23 tem para os clubes? Quais são as dificuldades de implantação?

Luiz Greco – O aspecto mais relevante é de preparação, maturação e lapidação dos atletas revelados na base. Sabemos que o amadurecimento total de um jovem depende de uma série de fatores, que não envolve só aspectos técnicos, físicos, táticos, mas principalmente os aspectos mentais, emocionais e sociais. Por isso, um trabalho bem integrado pode otimizar tudo que é realizado até o sub-20. As principais dificuldades de implantação disso estão atribuídas a investimentos em salários e encargos de uma comissão técnica e de atletas. Outro fator é a falta de um calendário nacional específico. A partir do aumento de equipes profissionais criando versões sub-23, a CBF poderia organizar um torneio nacional. No Santos, usamos a Copa Paulista, que vai de julho a novembro, como competição oficial da temporada. Pensando em 2018, estamos iniciando tratativas para participação em amistosos no exterior durante o primeiro semestre.

Universidade do Futebol – Como o clube lida com a expectativa de promoção dos atletas que estão na equipe sub-23?

Luiz Greco – Procuramos trabalhar a expectativa de oportunidade de forma individual e coletiva com os nossos atletas utilizando profissionais de todos os departamentos, como área sociopedagógica e área psicológica do clube. Fazemos também palestras com ex-atletas, procurando passar para eles as experiências vividas no clube e durante suas trajetórias. Com isso, eles conseguem lidar mais com a pressão e com a competitividade acirrada.

Universidade do Futebol – Quais são os principais desafios que os jovens enfrentam nessa transição base-profissional?

Luiz Greco – Os principais desafios estão sempre relacionados à série de privações que um atleta de futebol profissional deve ter em relação a um jovem de qualquer outra atividade profissional. O corpo é o instrumento de trabalho deles, e isso demanda foco e determinação em todas as atividades. Além da boa alimentação, das horas de descanso, é preciso saber se comportar com agentes externos, como torcida, redes sociais, amigos e família, para conseguir se consolidar.

Universidade do Futebol – Como ocorre a integração entre profissionais que fazem parte da comissão técnica?

Luiz Greco – Como o trabalho do sub-23 é integrado ao profissional, todos os profissionais atuam sempre em sintonia com nossa comissão técnica e detectam em conjunto as situações em que a abordagem a determinado atleta é necessária.

Universidade do Futebol – O clube oferece alguma orientação de carreira aos jovens jogadores? Se sim, como acontece esse processo?

Luiz Greco – Principalmente nas categorias sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17 há um acompanhamento das atividades escolares através do departamento sociopedagógico e psicológico. Palestras sobre temas como sexo e drogas, atividades acadêmicas, cursos profissionalizantes, etc., procurando conscientizar a todos os jovens sobre seu futuro após a carreira no futebol. Também no sub-20 e no sub-23 oferecemos palestras sobre investimentos financeiros e leis que regem contratos com agentes ou intermediários, visando conscientizá-los da importância de utilizar os recursos da melhor forma, pois a carreira no futebol é muito curta e imprevisível.

Universidade do Futebol – Na sua experiência, quais são os pontos positivos e negativos da influência de agentes externos na reta final do processo de formação?

Luiz Greco – A influência de agentes externos na reta final do processo de formação é tratada com muita importância no clube. Procuramos estar sempre em contato constante com familiares, agentes e representantes dos atletas, já que eles fazem parte do dia a dia e podem contribuir muito para melhores resultados. Com esse feedback contínuo, podemos envolver os outros departamentos para melhor orientação.

Universidade do Futebol – Em sua opinião, deve haver um modelo de jogo em categorias de base que seja similar ao que é proposto no profissional?

Luiz Greco – Creio que nas categorias de base os atletas devem vivenciar vários modelos de jogo para que sua formação seja bem diversificada e ofereça uma consciência tática cada vez maior. A partir das categorias sub-20 e sub-23, com um modelo similar ao do grupo principal, a transição desses atletas certamente pode ser otimizada. Infelizmente, a mudança excessiva de técnicos nas equipes profissionais atrapalha muito na implantação de um modelo a ser seguido por outras categorias.

Universidade do Futebol – Do que você mais gosta no exercício do seu trabalho?

Luiz Greco – Vivo o futebol intensamente há 36 anos. Gosto de tudo que envolve o trabalho: as emoções de uma partida, o acompanhamento do dia a dia dos atletas visando uma melhor performance, a contribuição de toda experiência acumulada…enfim, é ter o privilégio de fazer o que eu gosto, mas com muita dedicação.

Universidade do Futebol – No âmbito da capacitação profissional, você está satisfeito ou planeja próximos passos?

Luiz Greco – O ser humano nunca pode estar satisfeito no âmbito da capacitação profissional. Deve estar em constante processo de atualização de conhecimentos em sua área, como na vida em geral. Quero sempre estar cada vez mais preparado para contribuir da melhor forma possível ao clube a que pertenço.

Universidade do Futebol – Quais são seus sonhos?

Luiz Greco – Meus sonhos são de ser, cada vez mais, uma pessoa feliz com minha família, com meu próximo, consciente de todos os aspectos morais, de integridade, amizade, respeito e fraternidade. Procurar fazer da melhor maneira a minha missão nesta vida.

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