A “autátic-tópsia” (tática+autópsia) de uma derrota

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O futebol tem conteúdos “escondidos” entre as linhas que anunciam o resultado final de um jogo. Se ficarmos atentos, é possível que possamos aprender muito com esses conteúdos.

Olhando então aos arredores, entre linhas, conteúdos e esconderijos trago à tona questões de uma partida válida pelas quartas de final dos “Jogos Abertos do Interior 2008” (do estado de São Paulo – Brasil/ torneio sub-21).

Chamemos as equipes de equipe “A” e equipe “B”.

O modelo de jogo da equipe “A”, bem definido pelo seu treinador (típico em outras equipes que dirigira) apresentava as seguintes características básicas:

Organização Ofensiva:

·         Jogo direto, com lançamentos em progressão ao campo de ataque sem preocupação com a manutenção da posse da bola.
 
Organização Defensiva:
·         Marcação individual por setor e estratégias para impedir progressão ao alvo a partir da “linha 3”.
 
Organização das Transições Ofensivas:
·         Primeira ação após recuperação da posse da bola em progressão ao ataque (com velocidade) alternando 4 e 5 jogadores à frente da linha da bola.
 
Organização das Transições Defensivas:
·         Recomposição rápida dos jogadores atrás da “linha 3”, sem “ataque” a bola.
 
Plataforma de Jogo:
·         1-4-4-2 alternando com “falso” 1-3-5-2.
 
O campo de jogo tinha dimensões aproximadas de 100 metros de comprimento por 68 metros de largura.

A equipe “A” era tida como a favorita no confronto. Era mais velha, mais experiente e havia jogado dois jogos em dias consecutivos (contra três jogos em dias consecutivos da equipe “B”), portanto, deveria estar menos “cansada”.

A equipe “B”, conhecendo o modelo de jogo e princípios operacionais da equipe “A”, tendo versatilidade nas suas opções para cumprir diferentes estratégias de jogo, optou por um “contra-modelo” para o confronto:

Organização Ofensiva:

·         Progressão rápida ao alvo, com jogo vertical, mas não direto, sem preocupação com a manutenção da posse da bola (intenção: evitar a circulação de bola que a organização defensiva adversária tentaria induzir – em outras palavras evitar o jogo lento de ataque com que o adversário estava habituado).
 
Organização Defensiva:
·         Marcação Zonal, com estratégias para impedir progressão ao alvo a partir da “linha 3”, com pressing intenso em caso de penetração adversária após essa linha (intenção: fazer o adversário, que não estava acostumado a ficar com a bola, ficar com ela – buscando roubá-la em setores específicos para chegar rapidamente ao ataque).
Organização das Transições Ofensivas:
·         Primeira ação após recuperação da posse da bola em progressão ao ataque (com velocidade) alternando 5 e 6 jogadores à frente da linha da bola (intenção: desorganizar o sistema defensivo adversário, evitando seu “equilíbrio espacial”).
 
Organização das Transições Defensivas:
·         Recomposição rápida dos jogadores atrás da “linha 3”, sem “ataque” a bola (intenção: buscar rápida ocupação de espaços determinados do campo de jogo para não permitir o jogo direto e rápido do adversário, induzindo-o a circular a bola no campo de defesa).
 
Plataforma de Jogo:
·         1-4-1-4-1.
 
O contra-modelo de jogo da equipe “B”, tinha como principais intenções induzir a equipe “A” a jogar fora do seu “modus operandi” e aproveitar os desequilíbrios que essa indução poderia gerar.

Abaixo, algumas informações básicas sobre o scout do jogo:

A equipe “A” alternou momentos em que circulou a bola com momentos em que “queimo-a” ao ataque, forçando lançamentos em regiões equilibradas da equipe adversária. Teve dificuldades em chegar à área com a bola e teve também um número pequeno de finalizações. Foi eficaz. Em três chances no 1º tempo, um gol.

O gol merece comentários.

Na equipe “B” predominaram as ações verticais, com jogo rápido e curto (conforme planejado). Em alguns poucos momentos também circulou a bola (o que não fazia parte da sua estratégia dominante). Resultado; em um desses poucos momentos, errou, permitiu o contra-ataque e sofreu o gol.

A equipe “B”, apresentou um controle quase que total do jogo. Em boa parte do tempo teve também o domínio da partida. Começou vencendo (em uma jogada de contra-ataque). Executou suas estratégias em busca do cumprimento da “lógica do jogo”, mas acabou derrotada em uma jogada de bola parada no 2º tempo (quando já jogava no 1-4-3-3, marcava na linha 1 e acabava de perder uma grande chance de ampliar o marcador da partida).

Eliminada da competição, diversas reflexões e lições. Abaixo, algumas delas:

1) Uma equipe sub-17 (equipe “B”) disputou um torneio sub-21. Desacreditada até pelos seus torcedores e pares chegou as 4as de final (JOGAR bem – que é diferente de JOGAR bonito – na maior parte das vezes vai levar a vitória, mas não a garante!);

2)  Uma equipe sub-17 jogou contra equipes sub-21 e para aqueles que ainda fragmentam o futebol, não levou desvantagens “físicas” (como isso foi possível?);

3) Ganha uma partida, aquela equipe que cumpre de maneira mais eficiente e eficaz a LÓGICA DO JOGO (qualquer outra coisa que digam, é “balela”);

4) A equipe “B” não ficou satisfeita, porque independente da descrença externa e da posterior bajulação por ter “ido tão longe”, foi aos “Jogos Abertos” para ser campeã; 

5) O tamanho de um homem não está nem em sua estatura (“altura”) e nem no número de anos que viveu. O tamanho de um homem está “dentro do peito” na força que carrega no seu coração.

É isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

 

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