A Libertadores é uma mentira

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Joseph Goebbels disse que “uma mentira contada milhares de vezes torna-se verdade”, e Jacques Lacan tem uma série de referências à capacidade de fixação de qualquer informação repetida insistentemente, independentemente da veracidade. O futebol tem uma lista de mentiras tão recorrentes que serve como cenário perfeito para ilustrar os dois casos: basta pensar no que aprendemos a entender como “clima de Libertadores”.

A Copa Libertadores é o principal campeonato de clubes do continente sul-americano, mas nem sempre recebe tratamento condizente com esse status. Trata-se de uma disputa subvalorizada, assaltada por décadas de dirigentes corruptos, omissos, incompetentes ou membros de todos esses grupos.

Só isso justifica as histórias de guerra e absurdos que constroem a história da Libertadores. Times acuados em estádios rivais, ameaças a jogadores e árbitros, objetos ameaçados na direção do campo e toda sorte de assédio que ultrapassa qualquer limite. A cena que costuma descrever melhor a competição é um atleta, antes de cobrar um escanteio, protegido por escudos policiais para não ser atingido por artefatos oriundos da arquibancada.

E não, esses elementos não fazem parte do jogo. É uma falácia o “clima de Libertadores”, admitido durante décadas. Atletas são profissionais, e o mínimo que se pode esperar de um profissional é que ele tenha um ambiente adequado para desenvolver seu trabalho. Exigir rendimento de alguém sujeito à lista de coisas impostas por essa competição beira a sandice.

Uma sandice, aliás, que engloba todos os aspectos do jogo da Libertadores. É inadmissível um campeonato com tanto assédio moral, com tantas ameaças físicas e psicológicas, com fatores que se sobrepõem ao desempenho técnico. Até aspectos como altitude deveriam ser discutidos em nome de uma competição mais equânime e condizente com critérios técnicos.

A valorização da técnica é uma das bases das ligas esportivas dos Estados Unidos. É por isso que todos os principais campeonatos do país trabalham com limites de gastos, tetos salariais e divisão planejada de recursos.

O futebol pode até ser um território inóspito para conceitos como teto salarial, mas não pode ser tão alheio ao conceito incutido nisso. Competições como a Liga dos Campeões da Uefa e a Premier League já têm fóruns para discussão sobre distribuição de receita. Nos dois casos, a ideia é ter uma distância menor entre os rivais. Fomentar a rivalidade também é uma forma de colocar sob holofotes o nível técnico do evento.

Todo esse contexto é fundamental para discutir o que aconteceu na última quarta-feira (26), data de Peñarol x Palmeiras. Houve confusões entre atletas e torcedores em Montevidéu, e todos os episódios tiveram em comum a total falta de uma política de controle.

É fundamental que exista uma discussão ampla sobre Peñarol x Palmeiras. Felipe Melo foi vítima de ofensas racistas? Quem agrediu quem? Quais atitudes colocaram em risco a integridade física de outras pessoas? E o mais importante: por que não houve um controle adequado de riscos?

Há ainda o caso dos portões. Se o Peñarol os fechou para impedir que seguranças do Palmeiras acessassem o gramado, é um crime. Se não for punido, a responsabilidade por isso passa às mãos da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Qual tribunal terá condição de fazer uma análise isenta e minuciosa do que aconteceu em Montevidéu, com as devidas punições a todos os envolvidos? Quem cobrará para que isso aconteça? A resposta, baseada em anos de experiência, é que a Conmebol não vai fazer esse papel. Vai preferir a omissão, como fez em casos como o de Kevin Spada.

A Justiça uruguaia ao menos puniu três jogadores do Peñarol pelo que aconteceu no jogo de quarta-feira. Matías Mier, Nahitan Nández e Lucas Hernández terão restrições para participar de partidas e eventos esportivos, bem como limitações para viajar. É o mínimo que se espera, mas não pode ser limitado aos três.

A questão é que a Conmebol é uma entidade historicamente omissa e permissiva, e os clubes que disputam a Libertadores seguem valorizando um campeonato balizado por esses conceitos. O principal evento esportivo de clubes na América do Sul não prioriza o que acontece em campo, infelizmente.

A Libertadores não elege o melhor time da América do Sul. Isso é uma mentira. Determina apenas o mais capacitado para lidar com todos esses fatores extracampo. E nem sempre isso é questão de mérito.

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