A tática ou o talento: em que você apostaria para vencer o jogo?

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O que é mais importante para o sistema, o jogador ou as interconexões (dinâmicas, estratégias e táticas) do próprio sistema?
 
O que vence o jogo, o jogador ou o sistema?
 
O que pode ser mais determinante para o resultado do jogo, o talento ou a tática?
 
Polêmicas, essas perguntas torneiam aparentemente as mesmas idéias, mas certamente poderiam ser respondidas de maneiras diferentes.
 
O tema inserido nessas indagações foi e ainda continua sendo muito discutido toda vez que a ocasião e a falta de memória se fazem valer. Hargreaves, especialista que em suas obras discorre sobre conceitos e idéias no contexto do futebol, não teve dúvidas em afirmar que quem vence as partidas são os jogadores e não o sistema, e que portanto, importantes são os jogadores. Outros autores e especialistas defendem o mesmo ponto de vista.
 
Antes de mais nada devemos lembrar que SISTEMA não é (apesar de ser tratado assim) uma simples representação numérica sobre a disposição dos jogadores em campo. O SISTEMA de jogo no futebol compõe todas as estruturas funcionais que se relacionam durante o jogo (atletas, estratégias, táticas, adversários, árbitro, gramado, bola, torcida, etc.).
 
É importante notarmos então, que ao se relacionarem bilateralmente (uma interfere na outra e sofre interferência dela ao mesmo tempo) em uma teia de interações teremos a óbvia constatação de que, dentre outras coisas, a boa performance tática depende da inteligência de jogo do jogador (ou do talento). Da mesma óbvia forma a tática bem estruturada e desenvolvida potencializará a performance do jogador.
 
São muitos os exemplos de jogadores que jogam bem em determinadas equipes ou com determinados treinadores mas que não apresentam mesmo desempenho em outras situações distintas (outras equipes ou treinadores).
 
Infelizmente a percepção dos “especialistas” na maioria das vezes estaciona em apontamentos “mesmíticos” (traduzindo: sempre o mesmo tipo de apontamento para situações distintas; o que transforma na maioria das vezes o apontamento em mito). Então, por exemplo, a explicação comum para o fato de um jogador ir bem em um clube e não ir bem na seleção do seu país é o “peso” da camisa. É claro que isso também é um fator a ser considerado. Mas a “culpa” não pode ser sempre atribuída a ele. Arriscaria dizer que do jeito que o futebol rompeu fronteiras, esse seria o motivo menos incidente.
 
Equipes com grandes talentos que não se engajam no “sistema de jogo” não terão sucesso. Grandes talentos sem uma tática coletiva ou estratégia definida; sem um norte que oriente a “metacomunicação” entre jogadores ou que interaja com a inteligência de jogo serão sucumbidos.
 
Grandes táticas, com estratégias bem claras e definidas precisam considerar a capacidade dos jogadores, ou então não será possível ter um sistema equilibrado.
 
Assim só é possível validar a afirmação de que quem vence a partida são os jogadores ao validarmos a idéia de que isso só é possível se houver um sistema norteador para tornar a equipe vencedora. Jogadores são estruturas variáveis do sistema de jogo, assim como são a tática, a estratégia e outras dinâmicas que contextualizam o jogo.
 
A história das guerras nos traz inúmeras demonstrações de situações onde a tática e a estratégia adequada ao sistema levou a vitória exércitos tidos como menores ou mais fracos.
 
Os grandes generais (os talentos) venciam sim as guerras. Mas não com a boa pontaria de suas armas de fogo ou pelas habilidades com suas espadas. Os grandes generais venciam a guerra compreendendo como equilibrar as variáveis do seu SISTEMA.
 
Momento de reflexão
 
O que você faria se tivesse 60 dias para preparar um grupo ainda não formado de jogadores para uma importante competição de 15 dias (um torneio), e depois de 55 dias de trabalho aparecesse um “talento” para se juntar a equipe?
Para integrá-lo ao seu então formado grupo, um dos seus jogadores precisaria ser “cortado”.
 
Ainda que desconsiderássemos (inadequado!) o possível abalo ao sistema, motivado por alguma frustração dos demais jogadores, você levaria o “talento” mesmo sabendo não haver tempo hábil para integrá-lo harmonicamente e equilibradamente às variáveis táticas e estratégicas do sistema? Você apostaria na premissa de que bons jogadores estão sempre preparados para participar de qualquer equipe e que um “talento” não deve ser desperdiçado independente da situação? (vale lembrar – para te confundir ou ajudar – que o jogador Raí em uma ocasião quando não mais jogava no Brasil, veio para a equipe do São Paulo para jogar apenas uma final de campeonato)
 
A lenda do relógio
 
“Um velho sábio deu de presente ao seu filho um relógio muito bonito e antigo, ao qual, as pessoas da família chamavam de “relógio das onze engrenagens”. O relógio era grande e bastante valioso, mas não funcionava mais.
 
Não demorou muito e logo o filho curioso já estava desmontando o seu estranho presente. Ao fazê-lo pela primeira vez percebera que o defeito estava em apenas uma das engrenagens (ela tinha um dos “dentes” quebrados). Contente, foi logo procurar uma nova engrenagem para colocar no lugar. Procurou nas lojas do vilarejo e vizinhanças, mas a única engrenagem que acabou encontrando era maior do que a original. Resolveu tentar com ela mesmo. Como temia e imaginava, o relógio não funcionou. Sem desistir, procurou novamente em todas as lojas que conhecia.
Quando estava perdendo as esperanças encontrou em uma joalheria um pingente de ouro no formato de engrenagem (ou melhor no formato e no tamanho da engrenagem quebrada do relógio). Feliz e quase sem acreditar não pestanejou (nem ao saber do grande custo) e comprou o “pingente”.
 
Voltou para casa, pegou o relógio, limpou as engrenagens (que eram de cerâmica) e encaixou a de ouro no devido lugar. Fechou, deu corda e… por alguns segundos o relógio funcionou perfeitamente, até que após um estalo parou novamente. Apressadamente o jovem abriu o relógio e para sua surpresa notou que outra engrenagem havia se quebrado.
 
O tempo foi passando e por mais dez vezes ao longo de alguns meses, gastando todas as suas economias, o fato foi se repetindo: bastava colocar uma nova engrenagem de ouro para que uma de cerâmica se quebrasse. Quando completou a 11ª engrenagem de ouro imaginando que finalmente teria o relógio funcionando, nada aconteceu (os eixos que rodavam as engrenagens de cerâmica não conseguiam fazer girar as engrenagens de ouro)”.
 
O relógio já não era mais o mesmo relógio e mesmo assim, com todas as engrenagens novas o problema não se resolvia.
 
Sem irmos até o final do conto e sem que a “moral da história” precise ser discutida é importante percebermos que se não entendermos o conceito de SISTEMA não seremos capazes de compreender porque o relógio não funcionou depois de todas as engrenagens serem trocadas (vamos achar que a culpa está nos “eixos” que deveriam movê-las). Se não entendermos que as engrenagens são variáveis desse sistema não compreenderemos porque as de “ouro” ocasionaram a quebra das de “cerâmica” e tão pouco os motivos responsáveis pela primeira já estar quebrada.
 
Por que o relógio não funcionou? Você se arriscaria em dizer?
 
Pensamento rápido
 
Bom, e se bastou uma flechada no “tendão” para derrubar o invencível Aquiles (estratégia? talento? sistema?), espero que nossos “especialistas” não achem dispensável um cavalo de Tróia para tentar vencer uma batalha (e também a guerra).
 
Então como meu relógio não está quebrado, já vou me preparando, porque está quase na hora do jogo começar…

Para interagir com o autor rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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