A TV aberta e a necessidade de desenvolver o jogo

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A TV Globo exibiu na última quarta-feira (29) a vitória do Cruzeiro por 1 a 0 sobre o Santos em duelo válido pelas semifinais da Copa do Brasil. O jogo rendeu 19 pontos à emissora carioca no Ibope, e esse resultado fez com que o canal decidisse exibir ao vivo também a segunda partida entre mineiros e paulistas. E isso reativou um debate sobre o papel da televisão como agente desenvolvedor do futebol. Afinal, qual é a função da Globo?

 

Atualmente, a TV é responsável por pelo menos um terço do faturamento dos clubes de futebol no Brasil. É uma receita que tem peso preponderante no planejamento financeiro anual das equipes. Portanto, discutir isso é discutir a própria estrutura do futebol.

 

Essa estrutura mudou demais quando equipes brasileiras implodiram em 2010 o Clube dos 13, que funcionava como um fórum para discussões coletivas sobre direitos de transmissão. A instituição surgiu para ser muito mais do que isso, nunca cumpriu o propósito e tinha uma gestão extremamente discutível. O problema é: e depois?

 

O fim do Clube dos 13 deu lugar a negociações individuais das equipes com os interessados em direitos de mídia. Se antes havia alguém que pensava no todo (independentemente de fazer isso bem ou mal), hoje cada um briga pelo que acha melhor.

 

Entender isso é fundamental para pensar em como funciona a negociação. O time A conversa com empresas interessadas em seus direitos de mídia (a Globo, por exemplo) e recebe propostas por essas propriedades. A Globo teve de acertar individualmente com todas as equipes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro – somados, esses contratos custam mais de R$ 1 bilhão por ano à emissora.

 

A Globo paga pelo futebol como paga por um filme ou uma série. Todos esses produtos formam a grade da emissora e brigam por espaços nas transmissões do dia. Então, a direção do canal pensa nas opções, avalia o público que acompanha cada horário e cria uma escala entre esse portfólio.

 

O futebol ocupa a faixa de 22h da quarta-feira porque esse é o horário preferido pelas pessoas que veem o jogo na TV. Além disso, o futebol não entra no lugar da novela ou do telejornal porque a novela e o telejornal dão mais resultado no Ibope. Simples assim.

 

O horário do futebol pode ser horrível para quem vai aos estádios e pode prejudicar a exposição das marcas que investem no jogo, mas a TV não se preocupa com isso. E nem precisa se preocupar. O que vale para a Globo é o que dá resultado para a Globo.

 

O mesmo vale para a quantidade de jogos de cada equipe. A Globo transmite muitas partidas de Corinthians e Flamengo simplesmente porque tem resultados melhores com esses times.

 

No Campeonato Brasileiro de 2014, por exemplo, a Globo exibiu todos os clássicos que o Corinthians disputou até aqui. Em contrapartida, o canal não mostrou nenhum confronto regional sem a presença da equipe alvinegra.

 

Os dois melhores resultados da Globo no Ibope com o Campeonato Brasileiro foram registrados em clássicos. A emissora conseguiu 21 pontos com Corinthians x São Paulo e 20 pontos com Corinthians x Palmeiras.

 

A audiência é expressiva, mas ainda é pior do que os resultados da Globo com filmes e novelas. E é muito melhor do que jogos sem o Corinthians – o canal perde média de um ponto no Ibope quando exibe partidas de outras equipes paulistas, e cada ponto equivale a 65 mil domicílios sintonizados.

 

E qual é o único caminho para isso mudar? A negociação, é claro. A Globo está certa ao defender o que é relevante para a Globo, e alterações só vão acontecer se os clubes souberem brigar pelos interesses deles.

 

Hoje em dia, o único interesse que eles apresentam na negociação é a receita. Enquanto for assim, a Globo vai adaptar o produto futebol aos interesses da emissora.

 

Os clubes precisam pensar de forma mais abrangente e têm obrigação de zelar pelo futebol como produto. E para facilitar isso, é fundamental que eles trabalhem pela evolução do esporte.

 

O primeiro passo, portanto, é pensar em como o futebol pode ser um produto de maior relevância para a televisão. O segundo passo é pensar em que tipo de exposição é melhor e brigar por isso. Esses interesses devem nortear a discussão sobre os direitos de mídia (e não apenas de TV aberta).

 

É nesse processo que se enquadram questões como o equilíbrio. O Campeonato Espanhol optou por um modelo de negociação de mídia que prioriza Barcelona e Real Madrid, entre outras coisas, porque entendeu que o sucesso internacional dessas equipes era comercialmente mais relevante do que a repercussão da competição. O Campeonato Inglês preferiu uma liga forte a superpotências.

 

O Campeonato Brasileiro precisa decidir urgentemente um caminho, e isso não vale apenas para a divisão de direitos de mídia. Hoje em dia, a TV prioriza Corinthians e Flamengo, mas o futebol nacional não tem um plano focado na superexposição ou no posicionamento dos dois acima do restante.

 

O futebol brasileiro precisa discutir o futuro ideal antes de cobrar que a TV pense em fomentar o desenvolvimento do esporte. Se quem vende não está preocupado com a qualidade do produto, não é o comprador que vai se preocupar.

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