A última rodada

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Ainda falta uma rodada para o término do Campeonato Brasileiro de 2014, mas os dez jogos do próximo fim de semana servirão apenas para definir os dois últimos rebaixados (Botafogo e Criciúma já caíram). Com muito drama e pouca coisa a ser resolvida, a principal questão do fim de semana derradeiro da principal competição do futebol nacional é como distribuir emoção entre partidas que valem pouco ou nada.

A questão é inerente ao formato do campeonato, que é disputado em sistema de pontos corridos. Existe a possibilidade de esse tipo de certame ser decidido com antecedência, e isso escancara o maior desafio do modelo: contar histórias que não sejam limitadas às conquistas.

O Cruzeiro assegurou o título com duas rodadas de antecedência. No último fim de semana, a um jogo do término, o São Paulo garantiu o segundo posto. Além disso, Internacional e Corinthians preencheram as vagas brasileiras para a próxima edição da Copa Libertadores. Os únicos times realmente interessados na última rodada são Bahia, Palmeiras e Vitória – entre eles, apenas um vai evitar o descenso.

Bahia, Palmeiras e Vitória são as histórias óbvias da última rodada. Mas será que só os três farão jogos interessantes? Aliás, o Bahia fará uma partida com outro elemento relevante: será a despedida do meia Alex, do Coritiba, que vai encerrar a carreira após o término do Brasileirão.

Em menor escala, há uma briga interessante entre Internacional e Corinthians. Os dois times estão empatados em pontos e ainda postulam o terceiro lugar. A diferença entre isso e a quarta posição é a classificação direta para a fase de grupos da Libertadores – entre os dois, um será obrigado a disputar a etapa preliminar do torneio sul-americano.

A questão é: como promover os outros jogos? Por exemplo: como atribuir interesse ao duelo entre o rebaixado Botafogo e o Atlético-MG, campeão da Copa do Brasil e atual sexto colocado? Como valorizar o confronto entre Grêmio e Flamengo, dois clubes relegados ao meio da tabela?

Cada time que disputa a liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA) faz mais de 80 partidas antes dos playoffs. Na segunda metade da temporada, muitos desses jogos são absolutamente desinteressantes para classificação. Ainda assim, os ginásios seguem cheios e barulhentos.

O primeiro ponto aqui é o formato de venda. Times da NBA vendem carnês para toda a temporada, coisa que ainda é pouco comum no Brasil, a despeito do crescimento dos planos de sócios.

A grande vantagem de vender carnês é assegurar renda de bilheteria por um longo período. O desafio, em contrapartida, é que o longo prazo não faz parte da cultura padrão de nenhum torcedor. Desenvolver esse tipo de coisa demanda um trabalho de convencimento – as pessoas precisam entender por que é importante que elas comprem ingressos para todas as partidas da temporada. Esse convencimento pode ser feito com comunicação incisiva ou com benefícios.

No Brasil, o que acontece é o contrário. O exemplo mais recente aconteceu na decisão da Copa do Brasil – Atlético-MG e Cruzeiro praticaram preços exorbitantes para os dois jogos do duelo vencido pela equipe alvinegra. A principal vantagem de vender ingressos pensando apenas no curto prazo é sobretaxar essas entradas nos momentos mais relevantes da temporada. Em vez de uma receita equilibrada durante todo o ano, as partidas mais importantes acabam pagando pelas que dão menos dinheiro.

Parece besteira, mas o modelo de venda praticado no Brasil é parte de um enorme problema. O país tem um campeonato de futebol disputado em pontos corridos, mas não pensa nas implicações disso ao se comunicar com o torcedor. Nós ainda falamos sobre “a chance de o time ser campeão” ou “a luta para evitar o rebaixamento” como se essas decisões fossem as únicas coisas relevantes na competição.

Falta no Brasil uma comunicação adequada ao formato de temporada do futebol. Falta algo que seja mais focado nas histórias e menos nas conquistas. A última rodada de um campeonato com quase tudo definido podia ser uma excelente oportunidade para isso.

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