Algumas lições táticas da Eurocopa 2012: os centroavantes e os volantes

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

A observação e o estudo dos jogos da Euro-2012 são fundamentais para profissionais do futebol que almejam aperfeiçoar algumas das suas competências profissionais. Assistir a diferentes Modelos de Jogo, analisar as distintas intervenções de treinadores e acompanhar a opinião de especialistas são excelentes convites à reflexão do mais alto nível do futebol mundial.

E na recém-encerrada competição, dois temas permitem longos e saudáveis debates: primeiro, em relação à necessidade ou não de um centroavante para ganhar jogos e, segundo, sobre o volante central e suas características.

Enquanto, no Brasil, Tite é constantemente questionado pela ausência de um jogador de referência em sua equipe quando não joga Liédson, Del Bosque viveu problema semelhante ao ser questionado quanto à dinâmica do 1x4x3x3 espanhol com a falta de um jogador de área. Após o empate na estreia, inclusive Mourinho comentou que o ataque da Fúria perdia eficácia sem um atacante.

Já na seleção italiana, estruturada em 1x4x4x2 (losango), um território habitado muito tempo por Gattuso, mesmo que em outra estrutura, foi ocupado nesta Euro pelo volante central Pirlo.

Sobre o primeiro tema, felizmente a Espanha conquistou o título, pois, caso outra equipe tivesse sido campeã, a explicação para a derrota seria clara: faltava-lhe um centroavante.

E, de fato, uma equipe precisa de centroavante?

Sabemos que o futebol evoluiu muito nas últimas décadas e que existem milhares de estudos científicos acerca da modalidade. Ao estudar a evolução tática, o jogo, os princípios táticos e sistemas, não é possível afirmar que uma equipe, indispensavelmente, precisa de um jogador de área. O jogo de futebol e seus problemas são muito mais complexos que a presença ou não de uma posição no campo de jogo.

A preocupação com esta reflexão ao analisar uma equipe, seja você treinador, auxiliar, preparador físico, jornalista, comentarista ou torcedor, deve existir. O problema ocorre quando esta é a única reflexão feita.

Será que não existem outros elementos a serem considerados no processo ofensivo de uma equipe? Será que mesmo sem centroavante, algumas adequações/ajustes nos princípios de jogo ofensivos não podem potencializar a ocorrência de gols?

Pedem-se centroavantes por serem os jogadores que, por característica, dão profundidade à equipe e, logo, têm maiores possibilidades de ocuparem a zona de finalização. Mais uma vez simplificam o complexo futebol!

A questão não é ter ou não centroavante e sim como jogar com ou sem centroavante. Mudam-se as estruturas, respeitam-se as características do elenco para a atribuição de funções e buscam-se as inter-relações que possibilitem os gols.

Ocupar o espaço em que Messi aparece “rasgando” os defensores adversários com um homem de área? Abrir mão de Xavi, Iniesta, Fábregas ou Silva pela simples formalidade de ter um centroavante? Jogar com Liédson em má fase pelo mesmo motivo?

Os treinadores de Barcelona, Corinthians e da seleção espanhola encontraram a fórmula de como vencer sem centroavante. Lembrando, claro, que a do treinador brasileiro, por diversos motivos, faz menos gols.

Já a outra questão, do volante, refere-se à função exercida por Pirlo ao longo da competição. Vê-lo construindo as ações ofensivas com sua leitura de jogo e técnica invejáveis, além da clareza com que se posiciona defensivamente, é contrário a muito do que ouvi sobre a posição ao longo dos anos que estou no futebol.

Aprendi com vários dos meus ex-treinadores que volantes precisavam ser exímios em desarmes. Inclusive privilegiavam-se jogadores com esta característica mesmo que não apresentassem qualidade de passe.

Consequentemente, jogavam especialistas em desconstrução, tanto das ações ofensivas do adversário como das ações da própria equipe.

Pergunto: será que a realidade do futebol brasileiro está mudando? Se assistirmos aos milhares de jogos das categorias de base ou do futebol profissional espalhados pelo país, quais são os comportamentos individuais predominantes observados nos volantes?

A explicação para a escolha dos volantes “brucutus” resume-se ao fato dos mesmos protegerem bem o corredor central e impedir que o adversário seja criativo, nem que para isso princípios de jogo pouco requeridos no futebol moderno, como a marcação individual, sejam utilizados.

Mais uma vez, a questão não é a obrigatoriedade de jogadores com estas características. Prandelli conseguiu mostrar sua ideia de jogo, combinando comportamentos individuais e coletivos que permitiam Pirlo como volante central sem perder o tradicional poderio defensivo italiano.

Enfim, ter centroavante e/ou volante “brucutus” são apenas algumas das verdades absolutas existentes no futebol. Se, na vida, as verdades (com o avanço da ciência, do conhecimento, das pesquisas, da prática) mudam constantemente, no futebol a realidade não é diferente.

Que nossas cabeças estejam dispostas à mudança! Seria um grande passo para desfazermos outras verdades absolutas do futebol, como a simultaneidade do apoio dos laterais, ou então a altura mínima dos goleiros e dos zagueiros.

Quanto ao Mourinho, prefiro acreditar que ele gostaria de enfraquecer o futebol espanhol ao pedir um centroavante e, dessa forma, dar mais chances ao selecionado português. Lembrem-se que no futebol, e na vida, não existem verdades absolutas!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso