Ano sabático

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Gostaria, sim, de iniciar a coluna informando os leitores a respeito de uma pausa prolongada, deliberada e voltada à reflexão sobre a vida e suas circunstâncias.

Entretanto, (ainda) não chegou o momento para exercitar e por em prática minha idéia de período sabático.

Vou desfrutar um pouco desse gostinho na semana que vem, quando acontece o lançamento do livro da amiga Letícia Vasconcellos, "Uma volta, volver", que narra seus 11 meses de volta ao mundo.

O sabático tem origem na tradição religiosa judaica, que determinava que um em cada sete anos deveria ser dedicado ao descanso compulsório. Nada podia ser feito, nem colheita de frutos, dívidas eram perdoadas, escravos eram alforriados.

A intenção era favorecer às pessoas um período de reflexão espiritual e renovação, redescoberta, reinvenção pessoal. Sim, romper com estruturas e decisões tomadas no passado; distanciar-se de uma rotina entediante que já não lhe diz nada; livrar-se de angústias que não animam a vida profissional; isso faz parte do processo de elevação vivenciado por quem decide tomar para si o período sabático.

E não se trata, apenas, de quem está à beira do abismo existencial, por razões negativas ou pessimistas. Há os que preferem largar "tudo" o que conquistaram e iniciar uma nova e desconhecida etapa na carreira.

Guardiola, o multi-campeão com o Barcelona, resolveu instalar-se com a família toda em Nova York.

As razões fundamentais seriam para gozar do anonimato, distanciar-se do dia-a-dia do futebol – o que não teria na Europa – bem como viver numa cidade culturalmente bem servida, além de aperfeiçoar o inglês.

Passado um ano, com a energia mental e espiritual preparadas, vai assumir, agora, o Bayern.

Vanderlei Luxemburgo é, apenas, um exemplo, bastante representativo do que ocorre no futebol brasileiro, sobre a necessidade de reflexão e renovação de espírito, de cenário e de atores.

O técnico vive exortando as palavras "planejamento", "projeto", "profissionalismo", "reciclagem", em especial, referindo-se aos seus colegas de profissão.

Parece, contudo, esquecer-se disso. Sua receita de sucesso há alguns anos não vigora, mormente porque não se percebe evolução e desapego com o que lhe fez vencedor no passado.

Elencos caros, inchados, supercomissões técnicas, ansiedade em se fazer "manager" nos clubes, contratando e demitindo a qualquer momento.

Por outro lado, do que, à distância, tenho observado, é que o distanciamento do Brasil fez bem a Osvaldo de Oliveira. Seu Botafogo é uma equipe bem comandada, com baixo grau de investimento e competitiva. Percebe-se, também, serenidade, maturidade e convicção nas entrevistas que dá.

Um período sabático proveitoso não pode ser sinônimo de férias ou descanso, tampouco desfrutar plenamente com amigos e família.
É uma jornada interior e solitária, que, ao gosto do que defende Luxemburgo, também requer um projeto, com planejamento – financeiro incluído – e visando à reciclagem espiritual e profissional.

Duas semanas em Miami, normalmente, não servirão. Nem precisa. Basta ficar na Barra da Tijuca.

 

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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