As maravilhas do Atlântico

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O Oceano Atlântico deve exercer uma enorme influência sobre o jogador brasileiro. Só isso pode explicar a diferença de comportamento do atleta que atua no próprio país daquele que se torna um expatriado e vai tentar a sorte no futebol da Europa.

Na segunda-feira passada, Ronaldo foi apresentado como novo garoto-propaganda da operadora de telefonia celular Claro. Em sua entrevista à imprensa, a cada resposta afirmativa, ele começava a frase com “É claro”. Além disso, o jogador do Corinthians procurou encaminhar todas as respostas para a mensagem que gostaria de transmitir, deixando o foco de sua entrevista no acordo comercial recém-assinado.

Há cerca de 20 dias, Neymar deu entrevista exclusiva para Sonia Racy, colunista de “O Estado de S. Paulo”. Uma matéria para traçar o perfil da jovem promessa do Santos. Em meio a diversas futilidades da entrevista, o atacante, quando questionado se já havia sido vítima de racismo, respondeu: “Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?”.

O abismo entre Ronaldo e Neymar não está apenas na diferença de idade. Ele se revela pela transformação do atleta brasileiro quando vai jogar fora do país. Muito se critica a falta de preparo do jogador de futebol no Brasil para tratar com a imprensa. Respostas bisonhas, como a de Neymar, parecem ser a regra do atleta no país.

Mas por que o jogador brasileiro que está no exterior não costuma dar tanta bola fora assim?

Parece que as oito a dez horas de voo sobre o Atlântico exercem uma poderosa influência sobre o atleta… Ao desembarcar num continente estranho, hostil, o jogador toma mais cuidado, passa a escutar mais quem o acompanha, tenta não se expor. Com isso, ele se torna mais cauteloso e, assim, passa a estar mais apto a aprender com os outros.

Mas essa é apenas uma tese furada.

Claramente o preparo para tratar com a imprensa que é dado nos outros países é muito maior. O jogador, obviamente, se preocupa mais em entender o meio em que ele está antes de falar quando vai jogar no exterior. É natural. Mas é evidente que ele é muito mais bem preparado pelo gestor esportivo no estrangeiro.

Por aqui, ainda tem aquela de o cara ser o ídolo, de ter as benesses de um status estrelar. Lá, Kaká e Cristiano Ronaldo dividem os holofotes de um mesmo time que ainda tem Guti e Raúl, para ficar só em parte do time do Real Madrid. Ronaldinho Gaúcho tem outros atletas e outras histórias para dividir suas atenções no Milan.

Quando o jogador compreende o ambiente em que ele está inserido, passa a estar receptivo a entender como deve se comportar numa entrevista, por exemplo. Enquanto futebol for sinônimo de dribles e danças comemorativas apenas, o atleta não estará apto para representar não apenas a si mesmo, mas ao clube para o qual trabalha. Profissionalismo não significa caretice. Neymar tem mais é que dançar. Mas tem, também, de aprender a dançar no ritmo adequado quando o assunto é fora de campo.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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