As novas tendências no treinamento do jogador de futebol, o (des)conhecimento e as barreiras que criamos

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Venho respondendo, há algum tempo, uma questão recorrente nos congressos, palestras e aulas sobre as novas tendências no treinamento no futebol.

É uma questão relativa à aplicabilidade de alguns novos conceitos dentro da cultura do futebol brasileiro.

Felizmente, nessas oportunidades, normalmente há tempo para esclarecer boa parte das dúvidas que surgem. E como esta é recorrente, resolvi escrever um pouco sobre ela.

De início preciso dizer que, somente no Estado de São Paulo, há muitas equipes organizando suas categorias de base dentro de uma nova perspectiva de treinos para a formação. Perspectiva esta que se apóia em novos conceitos – e conheço projetos semelhantes no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

Mas a questão sempre escorre para as equipes profissionais do seguinte modo: “tudo bem, na base até é possível, mas e no profissional?”

Pois é.

No início dos anos 2000, trabalhando como assistente de preparação física em uma equipe de futebol profissional, não era incomum escutar que não valia a pena mudar determinadas coisas no treinamento dos jogadores, ou aplicar novos conceitos, porque os jogadores eram “burros”, “não entenderiam”, ou não “aceitariam” um novo modelo de trabalho.

Um dia, com a condução de uma das sessões de treino sob minha responsabilidade, resolvi colocar à prova aquilo que me diziam, e testar tanto o entendimento e adesão por parte dos jogadores de algumas “ideias inovadoras”, quanto suas aplicabilidades.

Não preciso nem descrever o sucesso da experiência, e a partir dele, uma pequena mudança de rumos nas atividades propostas pela comissão técnica. Os jogadores não eram “burros”, é óbvio. A aceitação era uma questão de consistência das ideias. Aplicabilidade, uma questão de conhecimento e segurança para colocar os conceitos em prática.

Pois bem. Venho estudando, desenvolvendo e aplicando há mais de 10 anos (desde 1999) atividades de treino que deem conta de elevar o nível de desempenho de jogadores e equipes de uma maneira consistente, rápida e eficaz – tendo como norte a ideia de “complexidade” e construção integrada da performance.

Há mais tempo, portugueses e espanhóis também estudam a preparação desportiva do futebolista de uma maneira mais ampla do que se preconizava nos primórdios da formalização do treinamento atlético do jogador de futebol.

Muitas pessoas ainda insistem em dizer que perspectivar o treinamento de jogadores de futebol a partir de uma integralidade de estímulos que privilegiam o jogo, ao invés de subordinar o treino às partes separadas deste jogo (que é físico, técnico, tático e psicológico simultaneamente), é um erro, não funciona, ou não tem aplicabilidade.

Tanto a literatura científica (com crescimento exponencial de artigos sobre o tema), quanto profissionais que estão no dia-a-dia das equipes de futebol, têm mostrado que a funcionalidade e a aplicabilidade de novos conceitos são mais uma questão de se ter pessoas bem dispostas e com conhecimento para realizar bons trabalhos (associadas a “organizações bem organizadas”), do que uma questão que envolva a metodologia em si.

A complexidade não nega, nem sonega a importância desta ou daquela variável ou atividade de treino. Da mesma maneira não há nenhuma verdade que seja única, real e absoluta.

Isso significa que ao fecharmos as possibilidades para uma única forma de pensar, estamos tomando distância da totalidade das coisas (e assim, daquilo que as coisas realmente são).

Então não nos enganemos. O fato de não se compreender a fundo um fenômeno, não dá a ninguém o credenciamento para tentar negá-lo ou matá-lo em seu cerne (nem o contrário).

É sempre mais fácil rejeitarmos ou atacarmos aquilo que desconhecemos ao invés de tentar entender realmente as coisas.

E aí, parafraseando um pensador russo, “o que desconhecemos, nos amedronta – e se fugirmos, simplesmente continuaremos com medo”. Não é porque não se sabe fazer algo que devemos nos posicionar contra este “algo”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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