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A história surgiu na manhã de segunda-feira, em São Paulo. O jornal "Diário de São Paulo" publicou uma nota sobre o futuro do zagueiro Chicão, do Corinthians. Segundo o periódico, o time do Parque São Jorge não tem intenção de renovar vínculo com o defensor, cujo contrato com o clube terminará em dezembro de 2013. Na rede social Twitter, o atleta confirmou o conteúdo e disse que deixará a equipe.

Foi o suficiente para, com base na declaração de Chicão, a notícia reverberar. O portal "UOL", por exemplo, publicou texto sobre o fim da passagem do defensor pelo Corinthians.

Horas depois, Chicão usou novamente o Twitter para mudar a história. "Galera, isso foi uma brincadeira pelo que o jornalista escreveu. Eu e a diretoria nem conversamos ainda, até porque vocês sabem da minha vontade de me aposentar no clube", escreveu o defensor.

Chicão disse que "não podia deixar passar" porque segunda-feira foi 1º de abril, conhecido como "Dia da Mentira" no Brasil. O zagueiro até pôde brincar e zombar de quem o acompanha em redes sociais. Jornalistas não têm esse direito.

O caso é um exemplo do quanto ainda é fundamental assimilar melhor o funcionamento de redes sociais. Como já falamos por aqui, essas plataformas transformaram todo mundo em fonte e veículo. O caminho entre personagem e consumidor da notícia foi drasticamente encurtado.

Há anos, sobretudo no Brasil, existe uma desvalorização contundente do trabalho de jornalistas. Sobretudo porque o advento das novas mídias criou a impressão de que todo mundo tem acesso similar às mesmas notícias.

A diferença é o compromisso com o que se publica. Um jornalista não vende notícia, mas credibilidade. Ele vende ao consumidor daquele conteúdo a ideia de que há um trabalho por trás daquilo. A informação precisa ser checada, burilada e apresentada da melhor forma possível.

Esses processos são o que garantem a sobrevivência do jornalismo. Não fosse isso, as novas mídias já teriam eliminado completamente os "intermediários" da notícia.

É claro que há jornalistas que não checam. Bons e maus jornalistas são como bons e maus advogados ou bons e maus médicos. O importante é que a simples reprodução não se transforme em procedimento. Se isso acontecer, a imprensa deixa de ter sentido.

Fora do Brasil, brincadeiras como a que Chicão fez são bem mais comuns. Há países em que até jornais publicam textos jocosos e que entram no clima da "mentira". Isso é bem comum, por exemplo, na Espanha.

Quando a internet começou a se popularizar no Brasil, um dos efeitos mais imediatos foi a aproximação entre leitores daqui e informações de outros países. Isso aumentou a disseminação de notícias oriundas de outras partes do globo.

A popularização da cobertura internacional também gerou deslizes. Foi assim, por exemplo, quando um jornal espanhol disse que o atacante Ronaldo, então no Real Madrid, havia pedido uma intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que a diretoria merengue o liberasse para o Carnaval no Brasil.

Na época, era extremamente remota a ideia de checar a informação diretamente com o jogador, o presidente ou o clube espanhol. Sobretudo porque o conteúdo foi publicado em dezembro, em meio a um plantão de fim de ano.

O problema: era dia 28 de dezembro, conhecido na Espanha como "Dia das Bromas", correspondente ao "Dia da Mentira" do Brasil. E antes de checar a informação, muitos sites do país sul-americano saíram publicando, com o devido crédito, a informação sobre Ronaldo.

No entanto, são raros os leitores que olham um site e conseguem entender que aquelas informações foram extraídas de outra publicação. Se há um erro ou uma incongruência, o consumidor da notícia associa isso diretamente ao veículo que ele escolheu.

Em outras palavras, é raro que a imagem mais arranhada seja a do autor da mentira. Normalmente, o leitor culpa pelo erro o veículo em que ele viu a história, independentemente da origem.

O risco que as mídias sociais causam no cenário atual é muito maior do que o de simples brincadeiras de anos passados. Mídias sociais facilitam o contato com personagens e aceleram a captação de impressões.

Portanto, são recursos que podem oferecer um suporte muito grande ao trabalho do jornalista. Elas só não podem ser absolutas. Checar e apurar ainda são as matérias-primas de qualquer bom repórter.

Esporte x Entretenimento

O debate existe há anos, mas ganhou nova roupagem quando a Globo lançou o novo formato do "Globo Esporte" em São Paulo. A atração foi repaginada, adotou linguagem mais jovem e aboliu o uso do teleprompter, aparato que apresenta notícias para que os apresentadores apenas leiam.

A Globo tentou criar um programa mais jovial, engraçado e espontâneo. O modelo teve resultado expressivo no início e foi até estendido a outras praças. Posteriormente, também foi copiado por concorrentes.

O formato é associado prontamente a Tiago Leifert, editor-chefe e apresentador do "Globo Esporte" em São Paulo. Ele foi o grande idealizador dessa nova linguagem no esporte da Globo.

A "cara de Leifert" chegou recentemente às transmissões esportivas. Em busca de atrações que estanquem a queda de audiência do futebol, a Globo recorreu a convidados que não têm relação com o esporte.

As participações podem gerar muitos diálogos bizarros e desconexos, mas conseguem fazer a transmissão não ser tão densa. Há sempre um assunto novo, uma opinião diferente ou algo que fuja da pasteurização que sempre dominou a estética global.

Não sei se é o caminho adequado, mas a Globo ao menos escolheu um caminho. Na emissora, o esporte fica a cada dia mais indissociável do entretenimento. Tomara que isso ajude o Brasil a entender o real papel que o futebol tem.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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