De quem é mesmo a culpa?

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Mais uma barbaridade. Mais uma história triste contada em inúmeros meios de comunicação (do Brasil e exterior) que remete ao nosso futebol. Novamente, o futebol brasileiro aparece nas páginas policiais. A morte do torcedor do Sport no jogo entre Santa Cruz e Paraná Clube na semana passada ao ser atingido por um “vaso sanitário” retirado do banheiro do Estádio do Arruda, em Recife, é mais uma que entra para as estatísticas perversas do futebol brasileiro.

Nas reportagens, o mesmo conteúdo, que tende a se repetir, infelizmente, por mais algumas vezes ainda neste ano nos campeonatos nacionais – sabe-se lá com que origem, com quais agremiações ou em qual cenário, mas com destino já sacramentado. Não se trata de uma previsão apocalíptica, apenas a constatação diante das atitudes que se costumam tomar.

Em termos de Justiça, a Desportiva é, de longe, a mais eficiente e rápida na punição a quem lhe cabe, que são os clubes (no caso citado, o Santa Cruz já perdeu mandos de campo e ainda poderá ser mais severamente punido com multas e outras sanções, seguindo os ritos processos do CBJD).

Mesmo assim, os clubes, diretamente interessados e afetados pelas barbaridades que ano após ano são acometidos em seus jogos (ou fora dele) parecem não se importar, ainda, com todo o circo que é montado sob sua marca e tutela pelas torcidas “organizadas” (ou marginais que se infiltram nestas entidades).

O mais impressionante de tudo isso é que, em pleno 2014, quem deveria zelar pela qualidade e entrega do espetáculo, bem como tentar evitar as consequências das punições que sofrem, não o faz. Já comentei, aqui na Universidade do Futebol, esta questão em outras situações no passado, da inércia dos clubes, que parecem ficar à margem de um problema tão complexo e crônico.

Como é comum, “terceiriza-se” o problema. Joga-se a culpa no governo e na polícia, que sabemos, não tem eficiência no tratamento de tantas outras questões que envolvem a segurança pública (enormemente demonstrada pelas estatísticas de criminalidade que assolam o país), quem dirá tratar com eficácia este tema igualmente complexo.

O mais impressionante é que, mundialmente, o tema segurança é tratado sim com enorme interesse por aqueles que “organizam e promovem o espetáculo esportivo”, em consonância, logicamente, com as leis e a Segurança Pública. Na sessão “The Big Debate” da revista Sport Business International (de março-2014, p. 74-75), há a explanação de ideias de especialistas e promotores de eventos para falar do assunto (na época, dialogando sobre a segurança ostensiva observada nas Olimpíadas de Inverno em Sochi). Por unanimidade, independente do tipo de evento, todos corroboram com a tese de que oferecer melhor segurança é fundamental para proporcionar uma atmosfera de evento mais positiva para o CONSUMIDOR.

Por aqui, ao tratarem como se o assunto “não pertencesse a eles”, parecendo ser “obra do acaso” ocorrer brigas generalizadas e mortes por força de uma partida de futebol, os clubes, ao negligenciarem um debate profundo, sério e definitivo sobre a violência, não deveriam ficar espantados com os números pífios de ocupação e frequência em seus estádios. Ora, para um espetáculo ruim e inseguro, quer se esperar uma atitude diferente de quem CONSOME?

Em síntese, não há como se terceirizar o problema. Há soluções já experimentadas em outras partes do mundo que servem de balizador no sentido de minimizar a violência em arenas esportivas, tendo sempre a colaboração e o interesse de quem organiza o espetáculo na construção de um projeto consistente. É preciso separar claramente as responsabilidades de “dentro do recinto esportivo”, pertencentes a quem promove o evento, para o que ocorre “do lado de fora”, que corresponde a ações regulares de segurança pública, somados a medidas de prevenção e de punição severa – ou melhor, o simples cumprimento da lei… 

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