Entendendo algumas nomenclaturas do Morfociclo Padrão

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Após o primeiro artigo que contextualizava uma pequena introdução da Periodização Tática, dúvidas brotaram nos leitores, especialmente em algumas nomenclaturas da última versão do Morfociclo que o Prof. Frade criou com sua sabedoria peculiar. Isso prova, cada vez mais, que a Periodização Tática é uma metodologia que não está estacionada. Ela se transforma para saltos qualitativos constantemente, e como o Morfociclo é o núcleo duro do processo, que dá ritmo e morfologia diária e semanal para desenvolver a construção do jogar, seu correto entendimento é crucial.

Quando a Periodização Tática começou a alavancar e avançar nos quatros cantos do mundo, muitas opiniões foram levantas acerca do Morfociclo. Automaticamente vários modelos foram passados e criados sem fidedignidade à lógica processual, ocasionando assim diversos desvios conceituais.

Primeiramente, as pessoas devem entender que o Morfociclo é uma espécie de fractal de todo o processo. E é uma coisa relativamente simples, mas lida e levada às últimas consequências, é extraordinariamente complexa, porque aquilo é uma representação.1

A Periodização Tática desde o primeiro dia da temporada se preocupa com a aquisição de um jogar, visando a habituação paulatina de um coletivo a uma invariância conceitual (macro) e metodológica (Morfociclo Padrão). (Maciel).4 É está habituação que possibilita que a equipe estabilize os seus desempenhos sem os cristalizar, mesmo quando a densidade competitiva se acentua, visto que existe um fio condutor (um sentido com sentido que dá sentido a equipe) ao longo de todo o processo. E daí eu lhe dizer que o que você tem que fazer logo na primeira semana é o Morfociclo ser idêntico ao de todas as outras semanas.4

E o Morfociclo é levado a efeito, portanto, com o quê? Com os princípios metodológicos. Os exercícios, o jogo no início, não é começar a jogar de uma forma menos complexa, é não ser possível a máxima qualidade, mas que isso vá acontecer ao longo de todas as outras semanas, portanto não é primeiro que temos que ganhar resistência, etc, etc.1

Isso resulta da conjugação sistemática na atuação dos três princípios metodológicos, que funcionam num padrão de conexão. Padrão de conexão que é salvaguardado pela presentificação semanal do Morfociclo. Ora, o padrão de conexão ou de utilização destes três princípios é que leva a concretização metodológica da especificidade, isto é, a presentificação semanal ininterrupta do Morfociclo.1

A presentificação sistemática dos princípios metodológicos se assume como uma invariância metodológica, no caso da Periodização Tática a repetição sistemática é fundamental, e esta se consubstancia pela presentificação continuada do Morfociclo.4

O Morfociclo é o núcleo duro de todo o processo, uma espécie de representação micro da metodologia de treino que lhe está subjacente. Visa criar, pela repetição sistemática da sua forma, uma adaptabilidade concreta, específica do jogar que se pretende.2 É concomitante o responsável pela articulação de sentido entre a ideia e o processo, tendo como fim o alimentar do crescimento de uma forma de jogar positiva, e o garantir da concreta dinamização da relação desempenho recuperação, para que a equipe se apresente fresca e espontânea em cada momento de competição.2az

O entendimento do que é o Morfociclo e o porquê de ser padrão é condição fundamental para que se consiga mergulhar a fundo num enquadramento conceitual e metodológico que rompe claramente com o convencional.2

Sabendo de todos os níveis e dimensões que estão dentro dele, que acendem um escopo complexo de informações para dominar e colocar em prática na operacionalização diária, o correto entendimento das nomenclaturas usadas pelo Prof. Frade pode ajudar mais ainda. Evidente que apenas saber a nomenclatura e não ter a divina proporção aliada a divina sabedoria e a divina sensibilidade na hora de operacionalizar de nada adianta. É preciso entender a lógica.

Dessa forma, após alguns comentários dos leitores, solicitei a opinião do meu amigo Miguel Lopes para pautar ainda mais o meu entendimento e sanar essas dúvidas geradas em cima dos termos “Agilização Analítica”, “Agilização Jogada”, “Fundamental Jogo” e Densidade 3/4 e 1/4. Miguel Lopes é atual Treinador adjunto do FC Vizela da II Liga Portuguesa.

Abaixo o Morfociclo e os conceitos:

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(Imagem retirada dos textos do Prof. Frade)

 

Agilização Analítica: refere-se a movimentos que levem ao alongamento do músculo em condições semelhantes ao jogo. O jogo anterior e o que se faz no treino leva a um encurtamento do músculo como mecanismo de defesa da integridade do mesmo, portanto, perda de amplitude articular, perda de agilidade também e a realização desses alongamentos dinâmicos como forma de restituir funcionalidade e prevenir encurtamento crônico.

Agilização Jogada: são os exercícios de treino. Em função do dia da semana. Mas é uma agilização entendida não no plano estritamente físico/fisiológico. Daí agilização JOGADA. Recuperas a fazer a mesma coisa, mas com proporções diferentes de tempo e de recuperação. Seja num 11×11 seja num meinho ou num pé-vólei. Repara, mesmo na recuperação… Imagina que fazes um pé-vólei no primeiro treino da semana. Se a rede tiver 1 metro de altura ou 1,5 metro, é completamente diferente. Com 1,5 metro e se, por exemplo, só for permitido jogar com os pés (sem peito, coxa ou cabeça) joga-se em largura, profundidade e volume. Os pés andam muitas vezes acima do nível da anca. Ora, isto comporta uma certa amplitude nos movimentos. Se a rede for mais baixa já é diferente, e pode-te interessar em certas alturas…

Fundamental Jogo: se prende com a necessidade de recuperar em circunstâncias o mais semelhante possível ao jogo. Mas com garantia de uma incidência ajustada. Porque repara. Se recuperas, por exemplo, como eu faço muitas vezes, com um torneio de 3×3 com dois jokers na profundidade é por algumas razões. Primeiro, escolho 3×3 porque é o número de jogadores em que a distribuição das solicitações de cada um é mais aproximada e é ao mesmo tempo mais variada. Se for 4×4 há um que joga mais por trás e os seus deslocamentos são sobretudo lateralizados, depois os que jogam aos lados mais à frente e atrás… Num 3×3, e sobretudo com joker na profundidade os “esforços” distribuem-se muito mais homogeneamente e com grande variedade (frente, esquerda, diagonal, direita, atrás…). E como sou eu que faço o calendário do torneio (todos contra todos), os que jogaram mais tempo no fim de semana recuperam mais tempo entre jogos (se for 30 segundos cada jogo recuperam por exemplo 3 minutos),isto é, há sempre duas jornadas entre cada vez que jogam, ou sejam, jogam, descansam, descansam, jogam, descansam, descansam, jogam… Se “perderem” 30 segundos na entrada/saída dos jogadores do campo entre cada jogo, consegues perfazer os tais 3 minutos de recuperação entre jogo… E os que não jogaram têm os jogos mais seguidos, por exemplo, jogam, descansam, jogam, descansa,, jogam, jogam… Só para dar um exemplo…

Densidade 1/4 e 3/4: tem a ver com os tempos de execução-recuperação. Como são dias de incidência “individualizada” tens de criar as condições para garantir esse rácio. Se dura 10 segundos, recupera, pelo menos, 30. Na quinta não existe um referencial porque não é um dia que “contemple” a recuperação do que se fez antes. É um dia que, sendo menos do que um jogo, tem uma solicitação muito semelhante. Agora, é tudo seguido, sem pausas? Não. Mas penso que não faz sentido estabelecer um tempo mínimo tal como acontece nos dias de incidência “individualizada” porque contemplam o lado da recuperação do que se fez antes, seja do jogo (ao domingo), seja do treino (de quinta). Nesses dias, se assim não for, com esse tempo mínimo, comprometes a recuperação e logo, a equipa vai vacilar! Isso quer dizer que, na quarta e na sexta, 3/4 do treino é virado estritamente para a recuperação. Como? Jogando/ agilizando. Mas é importante que na agilização jogada não criares situações de grande desgaste. E, sobretudo, apelando muito ao tal espírito de “futebol de rua” com o prazer e a afetividade muito presentes. Porquê? Porque também sabemos que num contexto de prazer o teu corpo recupera “das feridas” mais rapidamente. Isso tem a ver com o teu sistema imunitário. Para permitir a recuperação do jogo (na quarta) ou a recuperação do treino de quinta (no caso da sexta). O 1/4 é o lado aquisitivo da sessão. Na quarta-feira é criares uma situação que te garanta que cada um deles individualmente é solicitado na máxima extensibilidade/tensão do músculo. Mas com a máxima extensibilidade tens de ter muito cuidado. Poucas repetições e não é a mesma coisa eu fazer 4 ou 5 vezes a agora ou fazer 2 agora e duas mais tarde com uma agilização jogada pelo meio (que é o que o professor sugere). Na sexta-feira, a mesma coisa mas com situações que levam o jogador à máxima velocidade.

A compreensão das nomenclaturas e sua operacionalização, que através de uma força vinculante com outros elementos, não meramente programática e pragmática, orienta relações e dirige condutas dando seguridade, expectativa, fluidez e ritmo ao processo, originando cenários ideais de desempenho-recuperação.

Portanto, é um desempenho caracterizado pelo processo, o que não é um futebol qualquer, mas com determinadas características. Ou seja, um ciclo com conteúdo concreto relativo a cada jogar, preenchido com formas nos diferentes dias que presentifica diariamente sua intencionalidade.3 

 
 
BIBLIOGRAFIA:
1 – FRADE, VITOR. Periodização Tática: fundamentos e perspectivas. Entrevista realizada a Paulo Henrique Borges. Conexões, 2015.
2 – AMIEIRO, NUNO. Os exercícios de treino aos Olhos do Enquadramento Conceptual e Metodológico da Periodização Táctica. Textos Professor Vitor Frade, 2017.
3 – MACIEL, JORGE. À volta e às voltas com a noção de Modelo de Jogo…Complexo e em Complexidade. Curso UEFA A: Tese Final, 2016.
4 – MACIEL, JORGE. Estratégia?! A minha avô sempre me dizia: “cuidado não confundas o com as calças”. Textos Prof. Vitor Frade, 2017.

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