Evoluímos, mas ainda resvalamos

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Em conversa com meu amigo Gustavo Nabinger, atual treinador da categoria sub-15 da Ponte Preta, dissertamos sobre alguns pormenores que ainda dificultam a transcendência do nosso futebol para outro patamar, e isso rendeu a coluna de hoje.

Bem, inicialmente temos que enaltecer as coisas boas dos últimos anos. Após a Copa do Mundo de 2014, está acontecendo uma transformação que podemos até classificar como radical no perfil dos treinadores nacionais. Cursos da CBF, intercâmbios na Europa, troca de informações sem receio, vem ganhado cada vez mais adesão. Também, o nível dos jogos na base está, a cada ano que passa, melhor, e novamente muitas promessas estão surgindo. Porém, se por um lado a profissionalização e busca por novos horizontes dos treinadores e integrantes da comissão técnica começam a ganhar corpo, outros fatores restringem a exponenciação dos profissionais devido a paradigmas que ainda estão presentes diariamente no futebol, vejamos:

PEQUENA EVOLUÇÃO NOS DIRETIVOS

Não podemos esconder que melhorou a qualidade dos diretivos, mas ainda muitos estão no clube pelo amor antigo, e isso por um lado tem um fator bonito, significativo, mas ao mesmo tempo cria um ciclo e uma identificação que foge às vezes da racionalidade. Essa tendência, apesar da evolução dos últimos anos, ainda demonstra um perfil de gestão antiga, com limitação de conhecimento específico e discrepância de orçamentos que batem na casa de dezenas (na base) ou centenas (no profissional) de milhões de reais e pouca lógica processual em todas as áreas. E, sabemos que atualmente o clube pode ser classificado como empresa, apesar de sua particularidade cultural. Então, se necessita de capacitação, formação e currículo adequado para assumir as demandas funcionais. Negligenciando isso, temos o que acontecia e ainda acontece em alguns lugares: gestão ruim da marca, instabilidade de desempenho ano a ano, dívidas, desperdício de dinheiro e de talentos e péssimo aproveitamento dos recursos do clube.

SABER CATIVAR O TORCEDOR

Poucos clubes sabem que sua maior riqueza é a torcida (o que é de uma empresa que não tem ou não conhece seus consumidores?), e por isso mesmo, pouco investem em atrair novos torcedores e conhecer os atuais. Temos exemplos claros de outros esportes ou outras culturas relativamente a isso. Por que empresas pagam fortunas para ter acesso a bancos de dados de clientes e seus hábitos de consumo e os clubes de futebol não investem em ter estas informações e aproveitá-las comercialmente? Nada melhor para o marketing do que associar sua marca a um nicho específico de consumidores num ambiente com grande apelo emocional. Isto vale uma riqueza e precisa ser mais bem explorado pelos clubes para aumentar o orçamento.

ENTENDIMENTO DAS CATEGORIAS DE BASE

Qual a razão da categoria de base existir no clube? É gasto ou investimento? É formar atletas para a equipe profissional ou para o mercado? Ou para os dois? Qual o perfil do atleta que deve ser captado e desenvolvido e como fazer isto? Qual o planejamento de carreira para este atleta chegar ao profissional? Qual a relação da equipe profissional com a base? Em muitos clubes são dois departamentos que pouco conversam ou que rivalizam ideias e pessoas. Quanto custa um atleta para o clube de sua formação até chegar ao profissional e por qual valor deve ser negociado para que tenha custo/benefício vantajoso? Como mensurar a qualidade do trabalho desenvolvido? Através de títulos, desempenho competitivo, estatísticas, algum outro índice?

ESTRUTURA DE TRABALHO

No Real Madrid o gramado de todos os campos do Centro de Treinamento (base e profissional) são trocados a cada um ano. A razão disso é: após este período, por melhor que seja a manutenção, eles deixarão de ser impecáveis e, economizar meio milhão de reais na troca de cada campo, pode custar milhões de reais em prejuízo se um atleta se lesionar, sem contar a perda de desempenho por conta de questões técnicas, como velocidade de jogo. É como se você ganhasse uma Ferrari na loteria e colocasse pneus carecas para economizar. Não parece uma decisão inteligente, não é mesmo? Esse pode ser um exemplo radical a nossa realidade, mas acontece. Em menor escala e possível de ser realizado aqui, outras equipes, de nível inferior e até mesmo sem divisão no profissional, possuem grandes estruturas, com campos bons, materiais bons e outros aspectos para o jogador receber melhores condições de treinamento. Nada astronômico como os grandes centros, mas coisas simples, bem organizadas e especialmente mantidas e cuidadas. Então, tudo inicia pela estrutura.

Para fechar, está claro que investir em profissionalização, ou seja, em pessoas, identificadas com o progresso, com as novas tendências, é uma das melhores soluções para o momento. Isso é um pequeno investimento e trará retorno, dará lucro. Como no Brasil não temos o costume de ter a infra-estutura em primeiro plano para depois realizar o trabalho, e se trabalha com baixas possibilidades de estrutura, se o foco estiver na capacitação dos profissionais gerindo uma boa relação com múltiplas-possibilidades, com os torcedores que são os verdadeiros patrimônios do clube, aos poucos o clube vai ganhando corpo, vai criando um caixa funcional, formando jogadores, vendendo jogadores, instituindo um mecanismo financeiro anual, e aí sim melhorando sua infra-estrutura, pois começamos tudo de ponta cabeça por aqui. Acredite, esse ciclo evolutivo, fará a diferença, mas tudo começa pela cachola das pessoas e não apenas pelas emoções do resultado de um jogo.

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