Fins e meios

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O título e a coluna desta semana têm um motivo particular, embora acredite que a percepção sobre “os fins justificam os meios” de Nicolau Maquiavel, infelizmente, façam parte da nossa cultura e, talvez, esse texto apenas “chova no molhado” para alguns. Aliás, o “entre aspas” deverá ser peça fundamental desta construção, ampliando a retórica sobre o “duplo sentido” que colocamos em muitas coisas no nosso cotidiano.

A questão em voga está relacionada ao agora jogador do Botafogo Elkeson, recém contratado junto ao Vitória da Bahia. Na reportagem da Rede Globo, no Globo Esporte do último sábado, o atleta fala para a repórter sobre o seu “drama”, vivido nas categorias de base do Vitória, quando foi descoberto que ele (e outros seis atletas) haviam adulterado sua idade para se beneficiarem e passarem com maior facilidade nas famigeradas e insistentes “peneiras” do futebol brasileiro.

Até aí, nenhuma novidade. Novamente infelizmente, nenhuma novidade. Quem labuta no meio do futebol sabe bem como essa prática nefasta é comum no Brasil. O que me espantou, desta feita, é que a reportagem enreda uma vitória épica, em que o “nosso grande herói” passou por “poucas e boas”, tendo inclusive que adulterar sua idade para chegar ao estrelato.

A mensagem que a reportagem passa aos jovens é o que me assusta. Ela diz que, para sair da pobreza e ganhar milhões com futebol é preciso sim adulterar a idade. Depois, tudo se resolve. Não teria a reportagem se esquecido de mencionar que a prática é de “falsidade ideológica”, prevista no Código Penal Brasileiro, artigo 299? Que a atitude é passível de punição judicial, com até cinco anos de reclusão? E aos pais (ou quem o ajudou a reduzir a idade), tudo bem? Nada aconteceu ou vai acontecer?

E o clube, teve alguma punição? Nada de mostrar medidas que coíbam e inibam a aparição de mais “gatos” no futebol? Nenhuma sanção esportiva foi aplicada ao clube? Ah sim, os clubes sempre se justificam como os “vitimados da história”, coitados. É melhor não entrar neste mérito, “ó santa inocência”.

O que me intriga é saber: a serviço de quem nós estamos? A serviço de quem estão os meios de comunicação social? A serviço de quem estão os jornalistas? A serviço de quem estão os clubes de futebol?

A mensagem negativa que foi transmitida para os jovens é de que não adianta ser correto neste país. Estamos desvirtuando completamente os valores da sociedade. A responsabilidade da televisão deveria ser a de contribuir para a construção de conceitos éticos e morais. Mas o caso em voga apresenta exatamente o contrário, ou seja, a completa desconstrução daquilo que é correto em nossa sociedade.

Bom, mas não cabe utilizar o espaço para “lições de moral”. Cada um que tenha a sua. Apenas me lembro de fato símile na minha infância, quando um colega sugeriu ao nosso professor de Educação Física a redução em um ano de sua idade para jogar uma competição local pela escola onde estudava. O professor desencorajou completamente que ele fizesse isso, mesmo sabendo que poderia sofrer na pele pela eminente perda de “qualidade técnica”. Nos deu longo discurso sobre o que considerava correto e o que considerava errado na vida e no esporte.

Desde então nunca me esqueci da cena e do fato. Talvez eu tenha tido sorte e por isso aprendi algumas lições. Talvez para outros, infelizmente, faltem bons educadores!

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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