Futebol que não é para todos

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Há poucos anos, dirigente de um clube brasileiro disse que o futebol não é mais para todos e boa parte da opinião pública condenou esta afirmação. Em recente pesquisa do Datafolha, verificou-se que o interesse pelo futebol, pela Copa do Mundo e pela frequência nos estádios, diminuiu, sobretudo dentro da parcela mais numerosa da população, que ganha até cinco salários mínimos, o que corrobora, em parte, o que disse aquele dirigente.

São inúmeros os fatores que fazem 41% dos entrevistados demonstrarem desinteresse pela modalidade: ingressos caros, acessibilidade (transporte público, estacionamento, trânsito, preço do estacionamento, preços de “flanelinhas” e ações de quadrilhas de “guardadores de carro”), a falta de transparência e corrupção, o desconforto e insegurança nos recintos esportivos. Estes, apenas alguns dos fatores.

Há não muito tempo os ingressos eram mais acessíveis para a grande maioria da população. Entretanto, esbarrava-se em outros inúmeros problemas que afastavam o público dos estádios. A atuação de agentes e empresários, os altos salários dos futebolistas e a abertura do mercado do futebol nos anos 1990 foram os primeiros movimentos que tornaram o esporte mais caro. A Copa do Mundo de 2014 empurrou para a administração de clubes e instituições públicas, a administração de estádios que, obrigatoriamente, devem dar lucros financeiros. Ao mesmo tempo, estimulou dentro da iniciativa privada a construção de outros novos, para aumentar as receitas. O futebol ficou ainda mais caro. Soma-se isso à falta de planejamento urbano – algo que praticamente inexiste no país desde os tempos em que a população das cidades passou a ser maior que a do campo -, não permitiu ainda de maneira completa que os estádios se integrassem ao ambiente e à sua infraestrutura.

Campo em uma comunidade do Rio de Janeiro. |Foto: UOL

Ademais, a inexistência de um órgão, associação ou entidade que regulasse o crescimento da indústria do futebol no Brasil ou que promovesse boas práticas de gestão do esporte (movimento que acontece há poucos anos), permitiu o inchaço desta bolha que, se não estiver prestes a estourar, está à beira de se esvaziar, haja vista os resultados da pesquisa: o crescente desinteresse pelo futebol.

Uma comunicação eficiente, uma equipe e campeonatos competitivos fazem com que os estádios estejam lotados com frequência, mas por quem tem condições de pagar – literalmente – por um alto preço e paciência para os contratempos a que se está sujeito. É possível sim fazer com que este índice de 41% de desinteressados caia: setores mais populares, produtos mais acessíveis, iniciativas diversas para que o fã de futebol se sinta pertencido, para que o torcedor ausente seja “abraçado” e para que o completo desinteressado comece a mudar de opinião. O futebol a serviço de todos, não apenas dentro das quatro linhas, com ações que promovam a cidadania, a justiça social, igualdade de gêneros e boas práticas na sociedade.

O desinteresse pela modalidade, dentro de um país que se diz sendo o do futebol, dá-se muito em função da falta de credibilidade e da falta de contribuição para a sociedade. Com tudo isso, é preciso perguntar: o que o futebol e as instituições a ele ligadas podem fazer para a população? Títulos não bastam. Este esporte é de todos e tem que ser para todos.

 
PS: Tenham acesso à pesquisa, clicando aqui.

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