'Invictus' e simpáticos

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Se você ainda não viu, corra para assistir “Invictus”, filme com o sempre simpático vovô Morgan Freeman e Matt Damon, que não é vovô e, também, nem tão simpático assim, e dirigido por Clint Eastwood, que deve ser um dos vovôs mais antipáticos do mundo. Eu, pelo menos, teria muito medo de ser neto dele.

De qualquer maneira, o filme é bacana. Não é nenhuma obra-prima, mas é legal. Não que eu seja um gordo de cavanhaque e que, portanto, tenha uma válida opinião sobre obras cinematográficas, mas o filme é divertido. Flui bem e você sai do cinema se sentindo bem pelas duas horas bem gastas.

Só que se você se interessa pelos macro-aspectos do futebol, você precisa assistir por mais motivos do que puro entretenimento. Primeiro, porque o filme conta a história da eleição de Mandela e a relação entre política e esporte. Quer dizer, como um político pode usar o esporte para atingir objetivos próprios. No filme, isso fica bacaninha. Afinal, é o Mandela sendo interpretado pelo Morgan Freeman. Não dá pra um personagem ficar muito mais simpático do que isso. Mas é bom lembrar que o que acontece ali aconteceu em vários de lugares ao redor do mundo, muitas vezes envolvendo ditadores, chacinas e coisas do tipo. No Brasil, por exemplo, o futebol foi e por vezes ainda é utilizado da mesma maneira que o Mandela usou o rugby. No filme, fica legal. Na vida real, nem tanto.

E segundo, e talvez mais importante, é entender o contexto do filme em si, e não da sua história. Não é coincidência nenhuma que um filme sobre o rugby na África do Sul tenha sido lançado em 2010. Afinal, é o ano em que a Fifa quer fincar sua bandeira e proclamar que a partir de então, a África do Sul é mais um país a integrar a grande nação futebolística. E o filme “Invictus” é apenas uma das maneiras que a IRB, International Rugby Board, tem pra dizer “nã-nã-nã”, a África do Sul não é do futebol. É do rugby. Afinal, conforme você pode ver no filme, foi o rugby que uniu o país no pós-apartheid. Foi o rugby o maior responsável pelo sucesso do Mandela. Foi o rugby que conseguiu se sobrepor à hercúlea tarefa de unir brancos e negros sob o mesmo fenômeno, sob a mesma bandeira e sob o mesmo hino. E não o futebol. Futebol, como um personagem fala no filme, é um jogo de cavalheiros, jogado por hoolingans, enquanto que o rugby é um jogo de hoolingans disputados por nobres cavalheiros.

A batalha do rugby com o futebol vem desde a própria fundação dos dois esportes, um pouco depois da metade do século XIX. A partir de então, o futebol se firmou como o maior esporte global e o rugby acabou se firmando como o maior esporte das colônias britânicas, notadamente na Oceania e África do Sul. Só que o rugby vem se desenvolvendo bem ao longo dos anos. É, possivelmente, o único esporte coletivo capaz de fazer frente à popularidade do futebol. Existem regiões da Inglaterra, principalmente a região norte, em que o rugby é muito mais popular que o futebol. E países com grande tradição futebolística, como Argentina e França, também são grandes redutos do esporte. Isso faz da IRB possivelmente a grande rival da Fifa, ainda que a primeira conte com 95 filiados e a segunda tenha seus 205, 206, 207, dependendo do dia e do humor.

Não que o rugby tenha atualmente qualquer condição de desbancar a popularidade do futebol em escala global, longe disso. Mas o mundo está em um constante estado de mutação, e o fenômeno globalizado do futebol é recente demais para dizer que manterá tal status para sempre. Se há 50 anos o futebol não tinha a força global que possui hoje, quem garante que daqui a 50 anos ele continuará a ter?

Ninguém. Nem o Morgan Freeman. Por mais simpático que ele seja.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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