Maracanicídio

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Então a seleção pentacampeã só entrará no palco mundial de fato e de direito do futebol brasileiro se Neymar e boa companhia nos levarem até a final? Quer dizer que Fortaleza, inegavelmente das mais apaixonadas (e apaixonantes) cidades do futebol pode assistir a dois jogos da seleção anfitriã, e o Rio de Janeiro só terá o privilégio de abrir as portas e os braços do Redentor numa decisão, com todo o peso atômico, histórico e histérico do Maracanazo de 1950?

De fato, e mais que nunca agora, tenho a certeza absoluta: foram os cartolas brasileiros que fizeram a tabela. Só eles para não pensarem no absurdo de não levar a seleção ao menos uma vez para o Rio. Ou é a profana prepotência brasuca quando se trata de futebol (nunca é o Brasil que é derrotado, é a seleção que perde.), ou é mesmo a santa burrice que impera em nossa administração imperial – para usar o termo mais ameno que veio à cabeça.

Fazer política e média é esporte nacional e internacional. Mas não levar ao menos um jogo do país-sede para o estádio principal só aconteceu em 1974. Deu Alemanha, então, no Olímpico de Munique, só visitado na decisão. Que a história se repita como festa – para os brasileiros.

Em todas as demais Copas, pelo menos uma vez o país-sede jogou no palco da final. Em 1930, o time do Uruguai foi campeão no Centenário de Montevidéu ganhando da Argentina por 4 a 2. Em 1934, a Itália venceu a Copa na prorrogação, batendo a Tchecoslováquia por 2 a 1 no Nazionale PNF de Roma. Em 1938, a França atuou no Colombes, de Paris, onde a Itália foi bi mundial.

Em 1950, o Brasil só não jogou no Maracanã a segunda partida da Copa – empatou por 2 a 2 com a Suíça, no Pacaembu. Na final, contra o Uruguai.

Em 1954, a Suíça atuou no Wankdorf de Berna, onde a Alemanha estragou a festa húngara, na decisão. Em 1958, a Suécia perdeu a Copa para o Brasil no Rasunda de Estocolmo. Em 1962, o Chile atuou só uma vez fora do Nacional de Santiago, onde o Brasil foi bi. Em 1966, a Inglaterra jogou todas em Wembley, em Londres, até ganhar na prorrogação da Alemanha, por 4 a 2.

Em 1970, o México foi eliminado na capital federal, no Azteca, palco do tri brasileiro.

Só em 1974 a Alemanha não atuou no palco da decisão. Até 2014, foi a única vez que o anfitrião não conheceu anteriormente o local da volta olímpica.

Em 1978, a Argentina foi campeã vencendo a Holanda, na prorrogação, por 3 a 1, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires. Onde só não jogou mais vezes porque ficou em segundo lugar no grupo. Em 1982, na segunda fase, a Espanha foi eliminada pelos alemães no Santiago Bernabéu, em Madri, palco da vitória italiana. Em 1986, o México não chegou até a decisão no Azteca, mas lá atuou. A Argentina ganhou a Copa no primeiro estádio a receber duas finais – o Maracanã será o segundo.

Em 1990, a Itália foi eliminada na semifinal, em Napoli. Mas sua casa era o Olímpico de Roma, onde a Alemanha foi tri mundial. Em 1994, os EUA jogaram no Rose Bowl, palco do nosso tetra. Em 1998, a França fez a festa no Stade de France, em Saint Denis, ganhando do Brasil por 3 a 0.

Em 2002, o Japão atuou no estádio de Yokohama, onde o Brasil foi penta. Em 2010, a Alemanha jogou ainda na primeira fase no Olímpico de Berlim, onde a Itália foi tetra. Em 2010, a África do Sul estreou no Soccer City de Johanesburgo, palco da conquista espanhola.

No frigir das bolas, o anfitrião ganhou em 1930, 1934, 1966, 1974, 1978 e 1998. E ainda foi finalista em 1950 e 1958. Em 19 copas, 8 vezes o dono da festa participou da mesma. Não é muito. Pode não ser nada.

Em 2014, se tudo estiver pronto, ainda que custando os olhos da cara-de-pau das autoridades, só veremos o Brasil no Maracanã se Deus quiser. Porque os diabinhos.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

Autor

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso