Marin, o comunicador

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José Maria Marin, atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ingressou na carreira política há 50 anos. O primeiro mandato dele como vereador começou em 1964, quando o ex-jogador de futebol tinha 31 anos de idade. Essa vivência em esferas públicas moldou o discurso que o dirigente apresenta atualmente.

Além de vereador, Marin foi deputado estadual, vice-governador e governador de São Paulo, cargo que ocupou entre 1982 e 1983. No período, o Brasil ainda vivia sob regime ditatorial.

Marin segue com perfeição o manual tácito de comunicação de políticos veteranos. São essas as regras que balizam o tom de voz, o conteúdo e até o jeito de olhar do presidente da CBF.

Em primeiro lugar, Marin cita sempre na resposta o nome de quem o inquiriu. É uma forma de mostrar que aquele conteúdo, por mais genérico, é direcionado a quem fez um questionamento.

O segundo aspecto é que Marin olha para o público enquanto responde. Uma das primeiras regras de linguagem corporal que eu aprendi foi não fixar o olhar em apenas um ponto da sala.

Quanto ao conteúdo, por mais desconfortável que fique com um tema, Marin não se exalta. É muito mais simples desviar o assunto e inserir na resposta uma auto-adulação, ainda que isso não tenha muito a ver com o tema da pergunta.

Na última sexta-feira, em evento organizado pelo grupo empresarial Lide, Marin recorreu a essas e outras técnicas. No entanto, o presidente não conseguiu esconder um desconforto ao ser questionado pelo jogador Paulo Andé e pelo e-jogador Raí.

Independente do teor da pergunta, Marin respondia com elogios a ele ou à gestão da CBF. Mesmo se isso não tiver qualquer relação com a questão inicial.

Paulo André, o primeiro a intervir, perguntou sobre a diferença técnica entre o futebol de times do Brasil e da Europa. O defensor quis saber se a CBF pensa em investir para amenizar esse desnível.

A resposta de Marin foi focada em categorias de base da seleção, o que o mandatário da CBF usou como argumento de defesa do próprio trabalho. O presidente da CBF também citou o potencial formador dos times brasileiros.

Vejam, a reposta e a pergunta têm pouco a ver. Marin podia ter reconhecido um problema. Em vez disso, aproveitou uma leve proximidade de assuntos para mostrar segurança e exaltar o próprio trabalho.

Isso foi perceptível até para o próprio Paulo André, que manteve nas questões seguintes o tom incisivo que havia adotado na pergunta inicial. Marin começou a desviar mais o olhar, com respostas que enrolavam o quanto podiam até atingir de fato um assunto.

Como manda o estereótipo de um político da velha guarda, Marin apenas tergiversou. Mesmo em situação complicada, o presidente da CBF não atacou Paulo André ou tentou minimizar o entrevistador.

No aspecto comunicação, Marin é infinitamente superior a Ricardo Teixeira, antecessor do atual mandatário na CBF e no comitê organizador local (COL) da Copa do Mundo de 2014.

O grande problema de Marin, contudo, é que falta conteúdo. O presidente da CBF pode obedecer a uma cartilha eficiente e pode ter uma série de ações engenhosas para enrolar jornalistas ou entrevistadores, mas tem dificuldade para esconder o quanto entende pouco sobre o futebol e o mundo atual.

Fazer comunicação, afinal, não é apenas seguir uma série de regras. Comunicar é transmitir mensagens, e é esse conteúdo que falta a Marin.

Não por desconhecimento, diga-se. Marin consegue citar uma série de episódios e exemplos do futebol, mas limita as histórias ao que aconteceu no século passado. Mais do que formação, o mandatário demonstra falta de atualização.

Fazer um discurso descolado da realidade é um risco muito grande. Se eficiente, o profissional pode ser apenas tradicional. Em fracassos, porém, a virtude vira resistência ao novo.

Como um político da velha guarda, Marin se comunica seguindo uma cartilha de movimentos e evasivas. Contudo, o presidente da CBF carece de conteúdo e de atualização.

Estratégias de comunicação podem até ser perenes e imutáveis. O perfil do público que consome isso, porém, é tão volúvel quanto as opiniões do presidente da CBF.

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