Não adianta tapar o sol com a peneira…

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Olá, caros leitores!

Mais uma vez utilizo este espaço para tratar de um tema que transcende as quatro linhas do campo de jogo, até mesmo porque, tem também grande peso os fatos e acontecimentos que acontecem fora do gramado, já dizia Ferran Soriano (antigo vice-presidente do Barcelona e atual CEO do Manchester City): “A bola não entra por acaso”.

No meio futebolístico de categorias de base, é recorrente a discussão quanto a idade mínima para que se possa alojar atletas de futebol em formação, hoje a Lei nº 9.615 (Lei Pelé) regulamenta que só podem viver em situação de internato (alojamento) os aspirantes a jogadores a partir dos catorze anos. No entanto, existem gestores de base e clubes que defendem que essa idade deveria ser reduzida para os doze anos. Tal discussão tem voltado com força recentemente.

Os que defendem esta ideia tem bons argumentos, entre os que já ouvi, os que julgo mais coerentes destacam o fato de que tal medida traria um respaldo maior aos clubes no sentido de não perder jogadores (o respaldo jurídico quanto aos direitos econômicos sobre jogadores de futebol no Brasil, se dá somente a partir dos catorze anos, porém a FIFA ampara desde os doze, e sou totalmente favorável para que a legislação nacional desse maior respaldo nisso também). Além disso, há quem afirme que negar este direito aos clubes é uma atitude hipócrita do Ministério Público, visto que se estaria privando muitos meninos em situação de vulnerabilidade social em ter uma oportunidade de se desenvolverem num ambiente que os proporcione amparo e suporte social, escolar, esportivo e fisiológico, oferecendo-lhes uma chance de transformar suas vidas. Porém, são realmente a grande maioria dos clubes que possuem estas condições? E, tendo os clubes possuindo grande representatividade em nossa sociedade, não poderiam ter um protagonismo maior como agentes de mudanças?

Vejamos alguns exemplos do poder transformador do futebol. Em 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, houve um momento de cessar fogo ente soldados alemães e ingleses, estes deixaram as armas de lado e juntos celebraram o Natal disputando um jogo de futebol. Em 1969 o Santos de Pelé realizou uma excursão por vários países africanos, que durante o período decretaram o cessar fogo, mais recentemente, entre 2005 e 2007, o jogador marfinense Didier Drogba liderou uma cruzada que pôs fim na guerra civil em seu país. A “democracia corintiana” tendo como um dos líderes o craque Sócrates foi um belo exemplo de consciência e cidadania para a sociedade brasileira que vivia o final dos tempos da ditadura militar. Nesta semana Coritiba, Atlético e Paraná, realizaram ação conjunta no intuito de contribuir com a angariação de fundos para o tratamento médico do bebê Arthur. Todos os anos são inúmeros os jogos beneficentes para levantar fundos por determinada causa, assim como são muitos os jogadores que criam fundações assistenciais. Trago estes exemplos somente para reforçar e reafirmar o poder transformador que notoriamente o esporte, e no caso o futebol, possuem.

Tendo então o esporte, com suas instituições, clubes e seus ídolos tamanho poder, por que, então, não utilizar esta força para, através desta discussão quanto à idade de alojamento, propor e cobrar dos governos (municipais, estaduais e federal) e instituições competentes (federação e confederações) que seja dado aos clubes locais suporte e incentivo para que estes se fortaleçam e fomentem o esporte local, tanto no âmbito recreativo quanto no de rendimento? Além disso, pode-se propor, nas regiões onde não existam estes clubes, que sejam criados centros esportivos, que proporcionem o esporte para crianças e adolescentes (além de toda comunidade) e a oportunidade de se tornarem atletas profissionais.

Assim, mais do que dar a oportunidade de mudança de vida a um único garoto com potencial para se tornar um jogador de futebol, retirando-o de sua realidade precária e o alojando em clube aos doze anos de idade, poderia oportunizar a todos, tanto os de maior como os de menor potencial, dando a chance de mudança de vida a todos e no momento oportuno aqueles que se destacarem, poderiam naturalmente, como já acontece hoje, ingressar nas categorias de base dos clubes, o que em muitos casos já acontece a partir de 10/11/12 anos, sem que estes meninos deixem o convívio familiar, tão importante para seu desenvolvimento pleno e amplamente defendido pelos especialista em infância e juventude.

Permitir alojar atletas com doze anos resolveria um problema dos clubes e de alguns meninos, porém, não da sociedade, assim o argumento de que se priva o menino onde uma oportunidade de mudança de vida fica vago e nada altruísta. Os clubes de futebol pela força que possuem, podem contribuir para a mudança da realidade de muitas crianças e adolescentes, e não somente daquelas que demonstram maior probabilidade de lhes gerar lucros futuros. E não estou dizendo aqui que a responsabilidade em resolver os problemas de nossa sociedade seja dos clubes, digo que estes, podem contribuir muito através do exemplo e cobrança aos órgãos competentes, para que todos possamos viver em uma sociedade melhor.

Volto a afirmar, melhores pessoas serão melhores jogadores. Podemos ter um futebol melhor, uma sociedade melhor, só precisamos olhar com um pouco mais de compaixão para o próximo. Deixo para complementar a reflexão um vídeo da Great Thinkers Group, será que buscando resolver somente os nossos próprios problemas, conseguiremos de fato o fazer?


Até a próxima!

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