O dilema da profissionalização – parte I

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Já virou papo de botequim. O dilema da profissionalização no futebol brasileiro caiu na boca do povo e é tratado hoje quase que no mesmo tom do folclore que abarca a modalidade. Não são raros os casos em que dirigentes se tornam tão celebridades quanto os festejados jogadores e treinadores de sua equipe.

Na coluna desta e da próxima semana abordarei a questão da famigerada profissionalização no futebol para tentar entender por que ela é tão difícil de ser aplicada, mesmo com toda a informação disponível atualmente.

Em primeiro lugar cabe uma pergunta, que pode ser considerada chave para este ensaio: como? Exatamente, o “como” deve permear a nossa esfera de raciocínio, pois devemos considerar, neste caso, dois aspectos: (1) a capacitação e capacidade de atuação profissional; (2) a disponibilidade de profissionais no mercado.

Pela capacitação e capacidade de atuação, é possível perceber uma lacuna entre a área da educação física/ciências do esporte com o conhecimento sobre as ciências humanas, nomeadamente a administração, economia, marketing, contabilidade etc., e vice-versa.

Os profissionais formados na área da educação física devem buscar um aprofundamento paralelo ou posterior na gestão, enquanto que aquele formado em administração precisa completar seus estudos com conhecimentos sobre esporte – o que retarda bastante a formação e entrega para o mercado de pessoas com tal capacitação.

Depois, que são poucos os cursos de especialização que operam com qualidade suficientemente boa a ponto de suprir a demanda – até porque, por se tratar de uma área de conhecimento relativamente nova, os formadores são provenientes do mercado, apresentando vez por outra estudos de caso pelas suas práticas, ou seja, conhecimento tácito. O conhecimento explícito da gestão do esporte no Brasil ainda está por se construir efetivamente.

A lacuna da capacitação surge, portanto, da inexistência de cursos de graduação na área de gestão do esporte. Esse fato, por sua vez, está estreitamente ligado ao segundo aspecto, que é a disponibilidade.

Por disponibilidade basta levar em conta que não há tantos profissionais disponíveis e capacitados quanto todas as necessidades que o mercado apresenta. O “apagão da mão-de-obra” no Brasil também tem sido abordado com certa ênfase por especialistas da área de recursos humanos, em todas as áreas de conhecimento, alavancado sobretudo pela aceleração da economia que é incompatível com a negligência histórica que se tem com a educação no nosso país.

Assim, de nada adianta querer e sonhar com a profissionalização do esporte se no ambiente externo não há expertise suficientemente capaz de atender a complexidade e multidisciplinaridade do mundo esportivo. A frase que traduz um pouco isso é mais ou menos como: “se não gosta de nosso trabalho no clube, então venha e faça melhor”.

Lógico que a frase pode se apresentar com uma visão míope em um primeiro momento (até porque ela já foi falada algumas vezes por velhos dirigentes que, sem argumentos de defesa, preferem o ataque), uma vez que, em não havendo conhecimento e pessoas disponíveis, é plenamente possível a organização assumir esse papel e formá-las, como fazem algumas empresas, com a criação de universidades corporativas, bastando boa vontade para isso – temos inclusive exemplos no Brasil desse tipo de ação, como o Internacional, de Porto Alegre e também na Europa, com o Real Madrid, apenas para citarmos alguns modelos.

É que somado a tudo isso temos um pequeno problema (ou solução): a questão cultural dos clubes. Mas este assunto ficará para a próxima semana, quando falarei sobre a relação de identidade e passado com vínculo estreito entre as pessoas e as organizações clubísticas no Brasil.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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