O futebol e a perda de relevância

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A temporada 2015 já apresentou duas grandes mudanças no futebol brasileiro. O calendário nacional foi refeito, espremeu os Estaduais e ofereceu aos times um período para pré-temporada. Além disso, a TV Globo deixou de exibir a rodada de sábado de Carnaval, que tradicionalmente era a pior audiência da emissora com a modalidade. As duas coisas parecem distantes, mas são parte de uma análise maior sobre relevância.

A criação de um período de pré-temporada, por exemplo, teve de ser avalizada pela Globo e por seus parceiros comerciais. A TV não mexeu no bolso, é claro. Em vez disso, teve de convencer os patrocinadores de que um mês sem jogos não afetaria o resultado final do pacote futebol.

Esse processo de convencimento demandou negociação. Surgiu aí o limite de inscritos, regra adotada por alguns dos principais Estaduais de futebol em 2015. Impedir o uso de um grande número de atletas foi uma forma encontrada por TV e federações para forçar o uso de formações titulares – em anos passados, algumas das grandes equipes nacionais vinham preservando suas estrelas em partidas dos torneios regionais.

A lógica não é tão simples assim, é claro, mas o reducionismo aqui é didático: a Globo e os patrocinadores aceitaram ficar sem jogos durante um período maior. Para isso, quiseram que os times usassem suas principais estrelas. Algo como “tenho um produto por menos tempo, mas tenho um produto melhor”. E menos de um mês depois do início, a TV abre mão de exibir uma rodada.

Em outras palavras, a Globo tentou forçar federações e clubes a criar um produto que fosse um pouco mais atraente. E nem assim o futebol mostrou força suficiente para ser um produto viável em meio a um feriado.

Um pouco disso tem a ver com o perfil: o Carnaval é um feriado extremamente importante para o público que consome futebol. No entanto, é inegável que esses movimentos são prova da perda de relevância dos Estaduais.

E aí existe um problema enorme de comunicação. O que os Estaduais fazem para impedir essa perda de relevância? Qual é o trabalho desenvolvido por clubes, federações ou até mesmo pela Globo?

Essa não é uma discussão sobre o modelo ideal de calendário. Tampouco sobre as mazelas que seguem no futebol brasileiro – a pré-temporada ainda não é ideal, por exemplo, e a queda de popularidade dos Estaduais tem relação com um processo de sucateamento do esporte nacional. A questão aqui é puramente sobre comunicação: existe um problema colocado, que é de perda gritante de relevância. O que está sendo feito para impedir que isso continue?

Os Estaduais são ferramentas políticas relevantes no atual cenário do futebol brasileiro. São torneios importantes para os times pequenos, e os times pequenos são responsáveis pelos votos que mantêm o poder nas federações. Ah, e as federações têm os votos que mantêm o poder na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Esse ciclo é claro para qualquer um que acompanha a modalidade. O que assusta é ver que nem os integrantes da roda demonstrem preocupação.

O exemplo mais gritante disso é a violência. Qualquer pesquisa sobre o que afasta os torcedores de estádios de futebol no Brasil tem esse aspecto como o mais citado. E onde estão as campanhas institucionais para mudar a percepção do consumidor?

Em Pernambuco, o Sport fez uma ação curiosa (mães de torcedores foram colocadas para fazer a segurança de um setor no clássico contra o Náutico). No Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio criaram um setor misto para o clássico.

São boas medidas, e ambas têm chance de criar ambientes menos violentos. Mas são ações isoladas, que não têm qualquer repercussão no contexto geral do país. Isso não é uma crítica ao que os clubes fizeram, mas à falta de um planejamento que uma federações, clubes e agentes sociais para que isso seja a regra, e não a exceção.

Em São Paulo, a discussão foi em torno da adoção de torcida única nos estádios. O Ministério Público do Estado sugeriu isso para o clássico Palmeiras x Corinthians, que foi disputado no Allianz Parque, mas a medida foi abortada após pressão de vários lados.

A pergunta é: em meio a toda essa discussão, o que foi feito para conscientizar o torcedor que foi ao estádio? Que medidas ativas foram tomadas? Banners e faixas pedindo o fim da violência não são mais suficientes.

O futebol brasileiro está perdendo relevância, e os Estaduais são o maior exemplo disso. Será que alguém vai fazer algo para impedir que o processo continue? 

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