O futebol não tem explicação?

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Um dos hábitos que tenho quando vou observar e estudar o jogo de futebol é olhar pelo aspecto organizacional do jogo e da equipe. E, quando falo de organização falo de interações ao nível do jogo (equipe A x equipe B) e dentro de cada equipe envolvida (jogadores x treinador). No jogo sabemos que há 2 equipes tentando impor/ressaltar sua forma de jogar sobre a outra. E nessa “batalha” encontramos interações entre jogadores, sistemas, formas de jogar, etc. Uma relação que necessita ser melhor estudada pela sua característica extremamente complexa. Além de ter diversos fatores e variáveis que interferem no desenrolar da/até a partida, cada equipe tem seu propósito e interesse naquele confronto.

Em cada equipe, por sua vez, temos uma interação entre jogador(es) e treinador, uma relação entre aquilo que o(s) atleta(s) produz(em) em campo e as orientações (físicas, técnicas e tática/estratégicas) que são dadas a ele(s) e para a equipe. Cada jogador, por sua vez, tem sua própria leitura e forma de resolver os problemas, e o mesmo é verdade para o treinador (e quando falo de treinador falo de qualquer membro da comissão técnica). Depois disso penso sobre o tipo de treino (exercícios, instruções, conselhos, etc) que ele deve estar oferecendo, e ofertando para a equipe/atletas a fim de alcançar aquele determinado tipo de comportamento em campo. Sei que são diversos parâmetros para se entender, ou tentar, o jogo e a equipe.

Mas quando se mais estuda o futebol, mais ele se torna interessante e misterioso. Alguns chegam a dizer que “o futebol não tem explicação”. Todavia, não podemos esquecer que só porque não encontramos uma explicação, não significa que não há uma. No intuito de tentar justificar minha explanação, vos escrevo.

Penso o futebol como uma mistura homogênea entre arte e ciência. Arte pelo lado dos jogadores (criatividade/improviso) e ciência pelo lado do treinador (o qual deveria interpretar assim, com muito estudo e discernimento entre certo e errado). Contudo, como qualquer profissão, o futebol é feito por caminhos que precisam ser escolhidos, por caminhos obrigatórios. Se torna imprescindível escolher o trajeto a se seguir. Qual linha metodológica? Que tipo de liderança vai ser exercida? Como vai se jogar? Qual a intencionalidade de cada ação?, etc. Apesar disso, e ao mesmo tempo, se torna necessário entender a diferença entre o jogo e o jogar. Cada equipe leva o seu “Jogar” para o confronto e o “Jogo” é a resultante dessa relação (com “J” maiúsculo, pois cada jogo é um “Jogo” específico). Agora, sobre o jogo não se pode ter o domínio completo, mas geralmente se sobrepõe a “melhor” organização, o “melhor” jogar (“melhor” com aspas pois o seu significado pode ser diferente para cada interpretação).

Fala-se muito que o futebol é um jogo imprevisível. Na verdade comenta-se muito sobre algo que não se conhece, aliás, quem mais comenta são aqueles que não estão envolvidos diretamente com o processo de fabricação do jogo e do jogar. No jogo de futebol os encontros são aleatórios. Mas quando conhecemos bem as virtudes e as vulnerabilidades de cada parte envolvida, o resultado desse encontro pode ser um tanto previsível. E de fato, quanto mais bem treinadas as equipes, mais há a probabilidade de exibirem padrões de comportamentos táticos individuais e coletivos. O que não seria o mesmo em dizer que: “equipes bem treinadas são mais previsíveis”. Quanto mais “bem treinada” é uma equipe, melhor é a sua organização coletiva e individual.

Ou seja, maior é seu nível de organização. Não falo de organização no sentido de ordem, de ordenação, de mecanização, robotização, etc. Falo em organização no sentido de todos (jogadores e treinador) estarem livres para fazerem o seu melhor no jogo e no jogar. Todavia, dentro de uma estrutura maior, um bem maior que é a equipe como um todo, a instituição. Enfim, organização de jogo e da equipe é assunto muito complexo, que já escrevi e ainda escreverei muito sobre ele (pois me interessa muito e ainda tenho muitas dúvidas nesse tema).

A equipe “bem treinada”, que referi anteriormente, diz respeito aos treinos serem estruturados com preceitos científicos e metodológicos. Oferecendo, assim, a possibilidade de criar uma organização coletiva no qual o individual se sobressaia, com toda a sua criatividade, dentro de uma proposta coletiva, um bem maior, que é a equipe, o clube, a instituição.

Por isso insisto em falar que o futebol é um jogo complexo, e precisamos tratá-lo assim. Com a devida preocupação e o interesse de cada vez melhor entendê-lo. Só assim haverá evolução e desenvolvimento do nosso jogar. Por isso, acho importante estudar o jogo e o jogar. E a medida que você vai “dominando” as variáveis que envolvem o jogo, você acaba se importando mais em compreender tudo aquilo que envolve o futebol. Um paradoxo onde quando mais se estuda, mais se precisa estudar. Assim, com o passar do tempo, e com a evolução do seu nível de compreensão, tudo acaba sendo preocupação para seu entendimento. E isso acontece muito quando na elaboração do treino e na planificação daquilo que se pretende com a equipe.

Com o passar do tempo, fica mais difícil e demorado elaborar e criar exercícios, bem como na lógica eles serão inseridos. Pois a complexidade do jogo/jogar é diretamente proporcional ao nível que ele é apresentado. Quanto maior o nível técnico/tático do jogo/jogar, maior a complexidade do jogo/jogar.

Se você desconhece uma coisa e quer dominá-la, a tendência que não dê certo é grande. Verdade seja dita, não há nada mais prejudicial que um incompetente com iniciativa (Mario  S. Cortella). E, infelizmente, é o que a maioria dos treinadores querem: dominar e regular problemas dos quais não tem nenhum conhecimento sobre eles. Ao meu ver, é preciso dar mais importância ao treino e sua elaboração. O futebol é um jogo de hábitos que se adquire na ação, na prática, no treino. O treino é tudo. Se quisermos chegar em um nível de competitividade maior e melhor ou, até mesmo, não ficar vulnerável a qualquer desvio ou tropeço de resultado, precisamos dar mais e melhor relevância ao treino e a todo o processo metodológico.

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