O futebol, o conhecimento sobre o jogo, o Brasil, a Europa: porque estamos à frente (ou não estamos?)

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Estamos todos acompanhando o excelente desempenho da equipe do Corinthians nesse início de 2015. Tenho grandes amigos trabalhando lá, e sei bem o quanto eles têm buscado continuamente, ao longo dos últimos anos, a excelência em suas áreas de atuação.

E é bom que se diga aqui, antes de avançar, que não tenho a pretensão nesse texto, de dizer em qualquer momento que o trabalho “A” (ou do lugar “A”), é melhor que o trabalho “B” (ou do lugar “B” – e vice-versa).

Conheço ótimos profissionais espalhados em diversos clubes do Brasil, na Bahia, em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, fazendo trabalhos de excelência dentro de suas realidades.

Fico sempre na torcida por todos eles (menos quando os enfrento diretamente – desculpem amigos, sei que me entendem!), porque são trabalhos competentes que podem transformar e qualificar o nosso futebol.

O que quero salientar aqui, é que nesse início de ano, depois de ótimos jogos na Copa Libertadores da América e Campeonato Paulista, e após o comentado ano sabático, muita atenção tem sido dada, à experiência de Tite na sua ida para à Europa na busca do “conhecer mais” sobre futebol.

Matérias, colunas, entrevistas, programas de TV. Todos tentando entender (e enaltecer as vezes) o valor da busca do conhecimento no continente europeu para a aquisição das novas competências para nossos treinadores.

Pois bem, é aí que uma questão surge com certa urgência: “Por que será que estamos todos, valorizando a travessia pelo Atlântico, dando a ela a chancela de melhor ou única possibilidade para que nós entendamos mais sobre o jogo de futebol – como a grande possibilidade de atualização?”

Surpreendam-se, mas já faz muito tempo que no Brasil, sob certos aspectos do entendimento do jogo, estamos à frente, tanto em reflexões, quanto em produção de conhecimento, dos nossos pares europeus.

Se tivermos um pouco de paciência e tempo, encontraremos em algumas Universidades, em alguns Grupos de Pesquisa, em algumas pessoas ligadas ao futebol, em algumas iniciativas e em alguns fóruns específicos, uma riqueza de informações e conhecimento sobre o jogo que estão, faz muito tempo, disponíveis – aqui no Brasil.

Todos, muito “antenados” naquilo que o mundo vem fazendo no futebol – e com representantes na prática do dia-a-dia, transformando seus ambientes.

É claro que as coisas são lentas, e que o volume e profundidade daquilo que se produz e se estuda, sofre um atraso muito grande para chegar ao dia-a-dia de treinadores e clubes brasileiros – por um sem número de motivos, que passam tanto pela dificuldade de democratização do conhecimento, quanto pela nossa cultura de formação (apática, passiva, espectadora).

Formalmente e institucionalmente, por exemplo, a Universidade do Futebol (idealizada por João Paulo Medina e Eduardo Conde Tega), seja talvez a maior expoente da concentração, desenvolvimento e disseminação do conhecimento de excelência na perspectiva que estou abordando nesse texto (especialmente porque interage com quase todos os outros núcleos que mencionarei na sequência).

Temos núcleos muito avançados de discussões e de produção do conhecimento (e quebras de paradigma) espalhados pelo Brasil (como por exemplo: em Viçosa (coordenados pelo professor Israel Teoldo Costa), na UNICAMP (em Campinas com o professor Antonio Carlos de Moraes, com esse que vos escreve, com Leandro Zago e Bruno Baquete do CieFUT; em Limeira, lideradas pelo professor Alcides Scaglia), na antiga UGF e na Estácio (alimentadas pelo professor Roberto Banzé – que visionário, em 2003, propôs a primeira disciplina de Análise de Desempenho no jogo de futebol, com análises quantitativas e qualitativas – quando quase ninguém falava sobre o tema)).

O que poucas pessoas sabem, mas também merece destaque, é que a própria CBF também oferece cursos (excelentes), que fazem parte do seu programa de qualificação de treinadores, e que além de seguir diretrizes da FIFA para a implantação de um sistema de certificação comum em todas as Confederações do mundo (como também acontece com a UEFA, por exemplo), tem contribuído para o avanço da disseminação do conhecimento no ambiente futebolístico brasileiro.

E o mais importante disso tudo é que, fora do Brasil, treinadores e outros profissionais da área técnica têm muito interesse no conhecimento produzido aqui!

Eu sei que impressiona mais, descrever a vitória de um grande treinador e de uma grande equipe associando-a a aquisição do conhecimento adquirido fora do Brasil com treinadores europeus.

Eu sei que chama mais a atenção, expor o funcionamento tático coletivo de uma linha de defesa – apontando suas referências verticais, e ou horizontais, zonais e/ou setoriais, associando-a ao conteúdo de treino/jogo de uma equipe europeia.

Eu sei, e não acho que isso seria um problema, se nossa realidade fosse outra.

Mas olhemos para dentro!!!

Claro que corro risco, escrevendo isso, de ser mal interpretado.

Porém posso e devo expor meus argumentos – pautados em uma reflexão objetiva e pontual sobre o meu ponto de vista –, sem receios, porque dentre tantos motivos, e especialmente confiando em minha credibilidade:

1) Venho estudando e produzindo conhecimento sobre futebol desde que tive meu primeiro contato com a Universidade,

2) Estou na prática do dia-a-dia do futebol expondo e agregando novos saberes a esse conhecimento,

3) Ao longo dos últimos 18 anos, estive em contato direto com comissões técnicas e treinadores espanhóis, italianos, ingleses, franceses, holandeses (Real Madrid, FC Barcelona, Inter de Milão, Juventus de Turim, Manchester United, Olympique de Marselha, PSV e Apeldoorn),

4) Por fim, porque participei e palestrei em Fóruns e Congressos que tiveram participações de profissionais de muitas dessas equipes, e de Universidades de muitos desses países.

Esses motivos me dão segurança em dizer que temos conhecimento para exportar (e estamos exportando em alguns fóruns)!

Não estou aqui defendendo que não tenhamos que avançar as fronteiras e entender o que está acontecendo em outros países. Por favor, isso já está superado com toda argumentação anterior.

Não estou aqui criticando, de forma alguma, a possibilidade de intercâmbios de conhecimento, ou viagens de reciclagem em momentos sabáticos!

Sim, estou defendendo a ideia de que temos informações sobre o jogo, sobre meios e métodos de treinamento de alto nível, sobre detecção e desenvolvimento de talentos, aqui no nosso Brasil!

Estou defendendo a ideia de que temos excelentes profissionais em várias áreas dentro do futebol, com conhecimento transformador, avançado.

Estou defendendo a ideia de que não somos piores do que nossos concorrentes europeus… basta olharmos para os l
ugares certos – e veremos que em muitos aspectos podemos ser melhores, e em outros já somos sim (basta que o conhecimento esteja na prática)!

E não se trata aqui de alguém dizer a esse que vos escreve (parafraseando Vitor Frade) que “ninguém sente necessidade daquilo que desconhece”. Posso garantir e atestar meu vínculo com a realidade, com a sede do aprender e com o conhecimento desse tempo de inovação.

Treinar com intensidade? Resistência de concentração? Qualidade da intensidade? Intencionalidade de treino? Teorias Sistêmicas? Auto-organização? Densidade cognitiva? Carga complexa de jogo? Jogo é treino e treino é jogo?

Alguma outra interrogação? Se olharmos para dentro, encontraremos respostas há tempos…

De qualquer forma, saudações ao oceano Atlântico!!! 

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