O futebol alemão, o futebol espanhol, o futebol brasileiro: todos a aprender, todos a ensinar

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Lembro-me em um evento, de tempo não muito distante (talvez 6 ou 7 anos – talvez um pouco mais), que após assistir palestra de um dos coordenadores responsáveis pelo desenho e formatação da preparação físico-técnica-tática dos jogadores de base e dos profissionais do FC Barcelona, o respeitado professor e cientista do desporto alemão Jurgen Weineck, que estava no auditório (porque também já havia palestrado) se manifestou entusiasmado e perplexo, dizendo que aquilo que estava sendo proposto pelo colega espanhol era muito distante e diferente daquilo que ele propunha.

Naquele evento, houve um grandioso debate sobre a fragmentação ou não do treinamento desportivo do futebolista. Questões que envolviam treinamento de força, potência, velocidade e competências técnicas e táticas estavam a todo o momento à frente nas discussões.

Pois bem.

Ao que nos parece, o futebol alemão saltou de qualidade. E conforme menciona, um dos mais jovens notáveis do "Café dos Notáveis" – agora com encontros brindados com variedades de cremosos "cappuccinos" – "el Mineiro", o futebol que se quer jogar é sempre reforçado pela maneira com que ele, o jogo de futebol é enxergado, percebido:

"(…) historicamente, o "jogar germânico", sempre foi reconhecido (empiricamente falando) por estar ligado a duas vertentes que compõem o jogo de futebol, a vertente física e a vertente tática.
Atualmente, tem se visto um futebol no qual as equipes e os atletas da nova geração estão cada vez mais "técnicos", mais "resilientes" diante das situações problemas que emergem ao longo de uma partida.

De fato, várias coisas mudaram. Todavia, o mais determinante nesse processo de mudança de paradigmas, talvez tenha sido acerca da forma como o jogo passou a ser visto pelos profissionais que ali estavam – o que acabou por influenciar diretamente no processo de treino e consequentemente no processo de formação das equipes e do talento alemão."

Não sabemos ao certo, com exatidão, o que mudou dentro do processo prático de treinamento desportivo do futebolista alemão (precisaríamos estar lá para saber disso)– e nem somente essa mudança poderia explicar as questões que vou levantar aqui.

Mas, é fato, que a mudança na maneira com que o jogo passou a ser vista, conforme menciona o notável "el Mineiro", é determinante para o desencadeamento de uma série de transformações no futebol jogado na Alemanha.

Sinceramente, não acredito conforme muitas vezes fora dito nas últimas duas semanas, que o "bastão" de tudo aquilo que está sendo bem feito no futebol, passou da mão de espanhóis para a mão dos alemães – e não acredito nisso, especialmente porque também não penso que os espanhóis (ou alguém) tivessem (ou tenham) esse "bastão".

Tive experiências e boas oportunidades de aprender e trocar informações com ingleses (Manchester United, Chelsea), com espanhóis (FC Barcelona), com italianos (Inter de Milão e Juventus), com holandeses (PSV), mas em nenhuma oportunidade com alemães (o que confesso, é uma lacuna, que pretendo rapidamente preencher).

Minha única oportunidade de entender um pouco do que os germânicos estavam fazendo na prática, em termos de futebol foi com o amigo Schoenmaker, quando esse (antes de ir para o futebol inglês) trabalhava na equipe profissional do alemão Wolfsburg.

Porém, mesmo com o pouco contato com que os alemães estão fazendo, posso dizer aquilo que vejo quando assisto jogos de equipes alemãs (profissionais e de categorias de base).

E o que vejo?

Um jogo cada vez mais veloz (não estou falando de correria, estou falando de ritmo de jogo), em que a precisão técnica, mesmo em ações de altíssima velocidade tem chamado muito a atenção.

E com relação a essa variável (precisão técnica em alta velocidade), penso que é fato, que os espanhóis, em linhas gerais também se destacam – e são influenciadores do futebol alemão (assim como o futebol brasileiro foi e é – agora em menor magnitude).

O comprometimento coletivo dos jogadores no futebol europeu, seja nos jogos de categorias menores (nos grandes centros futebolísticos), seja nos jogos de futebol profissional, é outra coisa que merece destaque.

Todos, nos jogos, participam do processo ofensivo, defensivo e de transições. Todos têm missões importantes dentro da construção de uma inteligência coletiva de jogo.

Os jogos têm pouco espaço efetivo para troca de passes, dribles ou finalizações. Jogadores e equipes são condicionados ao longo dos anos de formação e preparação, a enfrentarem situações de jogo de altíssima pressão espaço-tempo, onde ter precisão só, não basta.

É necessário ser preciso e rápido, eficaz em alta velocidade, perceber-decidir-agir em uma fração pequena de segundo. O drible tem que ser preciso e rápido. O passe tem que ser preciso e rápido. A finalização tem que ser precisa e rápida. A tomada de decisão te que estar certa, e rápida…

A médio e longo prazo, isso leva a uma série de benefícios no jogar.
E o que se tem buscado na Alemanha, na Espanha, na Inglaterra, na Itália, na Holanda, e porque não, no Brasil, é entender qual a melhor maneira/modelo/processo para conseguir alcançar esse jogar (preciso, veloz, controlado).

As soluções são inúmeras, e é possível que se chegue aos mesmos bons resultados de maneiras totalmente diferentes.
Claro, se alguém está na frente, precisamos rapidamente entender quais os caminhos que esse alguém tomou.

Isso não significa abrir mão daquilo que já se construiu ou conquistou. O fato é que se existe um "bastão", ninguém ainda pôde se apossar dele.

A maneira com que vemos o jogo é essencialmente determinante para decidirmos os rumos que pretendemos seguir.

Talvez naquele dia, naquela palestra que mencionei no início, Weineck tenha aprendido a olhar o futebol de uma nova maneira… e sem destruir nada daquilo que já sabia, com seus anos de experiência e pesquisa pode ter ajudado o futebol alemão a encontrar novos caminhos. Talvez nada disso tenha acontecido…

Então, sem certos e errados, sem sim e sem não, é importante que possamos a cada dia perceber coisas novas no jogo, porque só assim poderemos interferir nele e atingir novos níveis no jogar, seja lá qual for nosso paradigma ou a maneira que o enxergamos hoje…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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