O jogador de futebol e o status de celebridade

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Há cerca de três anos, num Fórum de Futebol, Sandro Orlandelli, na ocasião scouter do Arsenal-ING, foi categórico ao afirmar que um dos grandes problemas dos jovens jogadores brasileiros era o status de celebridade.

Nesta oportunidade, Sandro, que após passagem pelo Atlético-PR, atualmente exerce a função de observador técnico no Santos FC, criticou a conduta dos milhares de atletas brasileiros em formação, que se comportam como jogadores consagrados, preocupam-se mais com o estilo/visual do que com os treinamentos e aperfeiçoam, ano após ano, o jeito acomodado de agir, dependente do roupeiro, do treinador, da cozinheira e do empresário.

Apenas como exemplo, afirmou que, no clube inglês, influenciado por um modelo japonês de organização, cada atleta (mesmo na categoria profissional) é responsável por limpar suas próprias chuteiras. Uma utopia para nossos mal-acostumados jogadores.

Como este espaço é dedicado para além da tática e uma vez que tudo está inter-relacionado, nesta semana as reflexões propostas se referem a um dos princípios pedagógicos propostos por Freire, em que os gestores de campo devem ter o compromisso de ensinar mais do que futebol.

Muitos podem dizer que a missão é difícil (como é, de fato) para não dizer impossível de ser aplicada no atual cenário do nosso futebol. Entre os fatores que contribuem para esta aparente impossibilidade, pode-se destacar a mídia, que privilegia o individual em detrimento do coletivo, que reverencia pseudo-craques e que cria novas estrelas a cada rodada do final de semana.

Já boa parte dos empresários distribui jogadores em clubes e alimentam-nos com chuteiras, celular, notebook e roupas. Por sua vez, um livro é um mimo desnecessário!

Os próprios familiares contribuem para estimular o ambiente nocivo em que o jovem constrói-se pessoal e profissionalmente. Espalham a todos que tem alguém na família que é jogador de futebol (quando na verdade são apenas potenciais jogadores), depositam a esperança (ou seria a pressão) da salvação financeira da família e o acompanhamento dos estudos, quando muito, fica em último plano, afinal, várias das celebridades do país não precisam de escola.

Os profissionais de campo, vítimas (???) do sistema e pressionados pelos resultados de curto prazo, escalam os aspirantes a Neymar, Sheik, Fabuloso, Fred, pois são os caras que "resolvem" no final de semana. O imediatismo fecha as portas para boa formação, para a conduta profissional adequada e para o exercício de autoconhecimento, onde ser vale muito mais que parecer.

Outro grande problema ocorre quando os profissionais de campo, mesmo não pressionados pelas vitórias a qualquer custo, optam pelos célebres jogadores. Muitas vezes, tal opção é oriunda da visão distorcida do papel do jogador, do treinador, do processo de formação e representa a visão de quem um dia esteve dentro das quatro linhas, também com o status de celebridade.

A boa notícia é que, como foi afirmado semanas atrás, o futebol brasileiro está mudando os rumos. E precisa mudar para além das concepções de treinamento. As transformações necessárias transcendem os métodos e apontam para jogadores, segundo Scaglia, inteligentes de corpo inteiro.

Com o novo perfil de jogador que se deseja formar, novas relações serão estabelecidas entre o atleta e a mídia/família/empresário. Se, por um lado, clube/treinador têm pouco poder de influência nestes três segmentos, com o atleta podem (e devem) definir diretrizes, procedimentos e promover somente aqueles que estiverem ajustados aos princípios e valores da instituição.

Ganha o clube, que forma o jogador que tem a identidade pretendida; a mídia, que poderá sair da superficialidade na relação imprensa-atleta; a família, que tem um ser humano que pode ou não exercer o papel de jogador de futebol e, inclusive, o empresário, que terá em sua carteira, profissionais cientes dos compromissos da carreira esportiva.

Quem sabe assim, aquele andar que representa a linguagem corporal do "boleiro" e que é facilmente reconhecida não tenha os passos destinados a um triste fim.

A tarefa é muito difícil, portanto, mãos à obra treinadores e demais gestores de campo.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso