O papel da genética no processo de seleção, formação e detecção de talentos no futebol

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Após o mapeamento do genoma humano, o interesse em saber a influência do genótipo (informações contidas em nosso DNA) sobre o fenótipo (característica manifestada) cresceu substancialmente não só na área da medicina para a cura de várias doenças, mas também no esporte como tentativa de predição de desempenho.

O primeiro estudo que relacionou o desempenho a algum tipo de gene foi realizado por Montgary et. al. (1998), que verificaram prevalência do alelo I (inserção) tanto homozigoto (II) quanto heterozigoto (ID) do gene da enzima conversora de angiotensina (ECA) em montanhistas que acendiam até 7000 m de altitude sem necessidade de suprimento extra de oxigênio.

Segundo Oliveira et. al. (2004) o gene da ECA localiza-se no cromossomo 17 e esse polimorfismo (responsável por cerca de 50% da ECA circulante) corresponde a Inserção (alelo I) ou Deleção (alelo D) de 287 pares de bases no intron 16 do gene. Os indivíduos homozigotos DD apresentam maior concentração de ECA circulante que os heterozigotos ID e homozigotos II e teriam maior vantagem em tarefas relacionadas com força, enquanto os homozigotos II teriam maior vantagem em tarefas aeróbias.

Com o avanço tecnológico e a evolução da Biologia Molecular, vários outros estudos foram conduzidos na tentativa de encontrar genes “alvo” como possíveis marcadores de desempenho esportivo.

Atualmente, além do gene da ECA, os que parecem ter mais relação com o rendimento são: BDKRB2 (-9/+9), ACTN3 e R577X, GDF-8K153R, E164K, P198A, I225T, CCL2 e CCR2, AMPD1 C34T, CKMM, BMP2, HIF1A P582S, MSTN e FST, CNTF e INSIG2.

Mais especificamente no futebol, alguns estudos interessantes já têm sido conduzidos com o intuito de verificar se há algum polimorfismo, alelo ou gene que explique de forma satisfatória o rendimento.

Juffer et. al., (2009), por exemplo, verificaram em 54 jogadores profissionais do gênero masculino maior frequência de alelos ID da ECA e de CT da AMPD1 e menor frequência do gene GDF-8 K153R. Esses dados indicam que jogadores de elite tendem a apresentar um genótipo favorável para o desenvolvimento de força e potência musculares ao invés de resistência aeróbica. Vale lembrar que o alelo II do gene da ECA causa uma troca de um aminoácido no angiotensinogênio atua

O mesmo foi verificado por Santiago et. al. (2008) que investigou a distribuição de frequência do genótipo R577X da ACTN3 em jogadores de futebol profissional da Europa. Ao comparar a expressão gênica de 52 jogadores, os autores verificaram que 85% deles possuíam o alelo R da ACTN3, sendo 48,3% homozigóticos RR, 36,7% heterozigóticos RX e apenas 15% homozigóticos XX. Estes dados também evidenciam que jogadores com relativo sucesso possuem genótipo favorável para o desenvolvimento da força e da potência musculares.

Apesar dos estudos apresentados nesta coluna darem indícios de que dentro de um período de tempo relativamente curto será possível mapear os genes de um recém nascido e saber quais modalidades ele teria mais chance de se desenvolver, vale ressaltar que aspectos pedagógicos, técnicos, táticos, motivacionais, nutricionais, além de vários outros fatores que interferem no máximo desempenho de um jogador de futebol jamais poderão ser desconsiderados.

Outro ponto importante que deve ser lembrado é que mesmo com o conhecimento advindo da Biologia Molecular auxiliando na investigação de diferentes genes que estejam associados ao desempenho de alto rendimento no futebol, esta forma de identificação jamais deverá ser utilizada de forma isolada para seleção, formação e detecção de talentos. Ela poderá, sim, dar melhores direções para o sucesso ou fracasso em determinada modalidade, mas jamais deverá tirar o poder de escolha do praticante ou desconsiderar os demais aspectos necessários para o sucesso.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

Referências bibliográficas

Juffer P, Furrer R, González-Freire M, Santiago C, Verde Z, Serratosa L, Morate FJ, Rubio JC, Martin MA, Ruiz JR, Arenas J, Gómez-Gallego F, Lucia A. Genotype distributions in top-level soccer players: a role for ACE? Int J Sports Med. 2009 May;30(5):387-92.

Montgomery HE, Marshall R, Hemingway H, Myerson S, Clarkson P, Dolley C, Hayward M, Holliman DE, Jubb M, World M, Thomas EL, Brynes AE, Saeed N, Barnard M, Bell JD, Prasad K, Rayson M, Talmud PJ, Humphries SE, Human gene for physical performace. Nature 1998 393: 221-2.

Oliveira EM, Ramires PR, Lancha-Júnior, AH. Nutrição e Bioquímica do Exercício. Rev paul Educ Fís 2004 18: 7-19.

Santiago C, González-Freire M, Serratosa L, Morate FJ, Meyer T, Gómez-Gallego F, Lucia A. ACTN3 genotype in professional soccer players. Br J Sports Med. 2008 Jan;42(1):71-3.

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