Ponto corrido ou mata-mata?

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A discussão voltou um pouco às manchetes nesta última semana, quando a Folha de S. Paulo e o colega Juca Kfouri levantaram a lebre de que a Globo voltou a mexer os seus pauzinhos para que o Campeonato Brasileiro deixe de ser em pontos corridos, retornando o mata-mata.

Bom, para começar, é preciso ver o que fazer com o Estatuto do Torcedor se isso vier a acontecer. A lei diz que ao longo do ano, ao menos um torneio nacional deve ter seu campeão decidido numa competição que seja em turno e returno. Não, isso não abre brecha para que se façam os dois turnos e, depois, as finais em mata-mata como deseja a Globo e uma parte da opinião pública.

Mas ignoremos a lei e sigamos com o debate. Afinal, pontos corridos ou mata-mata, o que é melhor?

A lenga-lenga de que “brasileiro adora final” é batida. Nos últimos anos, com economia estabilizada, times reforçados e promoção correta do torneio por pontos corridos, a média de público nos estádios só tem crescido. E olha que mesmo com o campeonato tendo o mesmo campeão nas últimas três edições houve esse interesse maior por parte do torcedor.

Não gosto de me ater à questão do mérito esportivo para defender os pontos corridos. Afinal, se um time quiser ser campeão, tem de estar preparado para bater todos os adversários, independentemente do formato da competição. E, além disso, regras são regras. Se estão combinadas desde o início, que o time se prepare a elas e vença.

O que discuto, realmente, é a questão financeira entre as diferentes fórmulas. Para um patrocinador, qual fórmula é mais interessante?

Nesse caso, a balança pende mais para o lado dos pontos corridos. Diferentemente do mata-mata, o torneio em turno e returno garante ao patrocinador a realização de 19 jogos do clube em seus domínios. Isso facilita o planejamento de ações por parte de clube e empresa. Se eu quiser criar uma promoção válida apenas para as rodadas 10 e 36, eu posso planejar com antecedência. E meu time com certeza estará na disputa.

O torneio mata-mata, pela imprevisibilidade maior que tem, não permite um planejamento de longo prazo do patrocinador. Nao dá a ele a certeza de que o time estará em exposição até o término do campeonato. Nos pontos corridos, mesmo sem a chance de conquista de título, um time pode fazer uma partida decisiva, que dê boa visibilidade ao seu patrocinador, por exemplo.

Da mesma maneira, para o clube, uma das piores coisas que podem acontecer é ficar sem atividade, mas precisando investir em atletas. Antigamente, um time corria o risco de em setembro ficar fora da disputa do Brasileirão e, mesmo assim, ter de pagar todos os atletas até o final do ano, sem ao menos ter uma fonte de receita para isso. No torneio por pontos corridos, mesmo que o time esteja cambaleante, ele continua a jogar, a levar torcedor para o estádio, a faturar com a venda de ingressos, etc. É uma forma mais racional de a “empresa” não ter de dar férias forçadas para todo mundo durante três ou até quatro meses!!!!

E, por fim, até mesmo para a TV essa discussão não é tão primordial assim. Jogar na fórmula de competição a queda de audiência dos últimos anos é uma tremenda bobagem. Em média, a TV aberta perdeu parte do alto índice que tinha pelo aumento da concorrência. Internet, TV a cabo, telefone celular, cinema, eventos… Tudo isso contribuiu para que as emissoras tivessem uma queda no número absoluto da medição do Ibope. Só que o share, que é o índice que mostra a audiência a partir do número de aparelhos ligados, continua a ser extremamente favorável, especialmente quando o assunto é futebol.

O torcedor se acostumou aos pontos corridos. E já sabe que, nessa disputa, todo jogo vale. A mídia também já sabe promover muito mais o campeonato com essa fórmula. Afinal, são várias “mini-decisões” apresentadas em jornais, internet e TV espalhadas pelo país. O jogo de domingo entre Palmeiras e Flamengo, por exemplo, foi um deles.

No final das contas, os pontos corridos trazem mais planejamento e menos imprevisibilidade para o futebol. São dois fatores essenciais para gerar mais receita a um clube. E, se bem administrado, esse time consegue trazer jogadores de maior qualidade para defender suas cores. E, consequentemente, isso empolga o torcedor, que passa a consumir mais o produto futebol, aumentando os índices de audiência e, também, a média de público nos estádios…

O resultado disso tudo, porém, nunca aparece de um dia para o outro. Mas, num ciclo de dez anos, será visível essa melhoria na economia da bola. Se tudo não cair por terra numa canetada que envolve muito mais a questão política do que técnica. Para variar. E atrapalhar!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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