Quando o esporte é menos importante

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O presidente da França, Fraçois Hollande, estava no Stade de France quando houve a primeira explosão. Uma bomba no portão J matou três pessoas e deixou uma série de feridos – o artefato foi parte de ação terrorista deflagrada naquela tarde, que matou pelo menos 129 pessoas em Paris. Em campo, França e Alemanha deram sequência à partida amistosa – os gauleses venceram por 2 a 0. Continuou o futebol, continua a vida. A vida pode continuar?
Existe questões a serem consideradas: não havia qualquer prova de que o interior do estádio estava em perigo, a evacuação poderia ser complicada e aumentar o clima de terror, empresas de mídia e patrocinadores pagaram por aquela partida e obter um consenso entre federações nacionais demandaria algum tempo.
Também existe uma questão moral: dar sequência ao jogo naquele instante era uma forma de não alastrar ainda mais o clima de terror e mostrar aos terroristas que eles não conseguiriam interromper a rotina de toda a cidade.
O esporte não pode ser maior do que a vida. Como disse o italiano Arrigo Sacchi, técnico da seleção vice-campeã do mundo em 1994, o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes.
No entanto, é uma questão de contexto: o jogo não podia ter continuado porque o futebol é só isso, afinal: um jogo.
Da mesma forma, é até difícil condenar o zagueiro brasileiro David Luiz pela atuação desastrosa no empate por 1 a 1 contra a Argentina, em Buenos Aires, na mesma sexta-feira 13. O jogador defende o Paris Saint-Germain, mora em Paris e certamente tem um círculo de convivência na capital francesa – incluindo a namorada. Como estaria a sua cabeça se você soubesse dos atentados e tivesse um compromisso profissional horas depois?
Depois do jogo – e de ter sido expulso de forma infantil no segundo tempo –, David Luiz disse que não sabia sobre os atentados. Talvez tenha tentado minimizar uma ligação entre as duas coisas ou talvez tenha sido realmente blindado, mas a ameaça estava lá. Jogadores de futebol são profissionais como os de qualquer outra categoria, e como qualquer profissional também são afetados por todo tipo de influência externa.
É por isso que o desabafo do meia Diego Souza, do Sport, tem tanto sentido. Depois de uma derrota por 3 a 0 para o Cruzeiro no último domingo (15), o jogador reclamou da arbitragem de forma veemente: “A gente sai como chorão, infelizmente, mas eles [juízes e auxiliares] têm de entender que a pressão não é apenas para eles. A gente representa milhões aqui dentro. Com um resultado como esse, não posso nem sair para jantar ou levar meu filho para a escola. Sofremos as mesmas pressões”.
De uma forma geral, com jogadores, árbitros ou outras classes envolvidas no futebol, temos um grau de tolerância extremamente baixo. Consideramos inaceitáveis os erros do comentarista, do narrador, do técnico, do zagueiro, do goleiro, do dirigente, do bandeirinha…
O futebol tem de ser levado a sério, é claro, mas não pode admitir toda essa pressão. Não pode admitir que seus elementos sejam vistos como infalíveis ou que sejam cobrados por isso.
O futebol é uma válvula importante para uma série de imperfeições da vida, é verdade, mas também é feito de gente. E gente é algo muito mais complexo do que o que acontece nas quatro linhas.

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