Renato Rodrigues, do DataESPN, defende mudança cultural no futebol brasileiro

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Responsável por transmitir a informação ao torcedor, a mídia esportiva é uma agente fundamental para a mudança cultural e quebra de paradigmas no futebol nacional. Mas, sem conhecimento e qualificação dos profissionais da área, essa lacuna ficará em aberto, impedindo a evolução.
Renato Rodrigues se formou em jornalismo e segue estudando desde então. Trabalhou no LANCE! e, como setorista do Corinthians, se aproximou de Tite e da comissão técnica. A prospecção de atletas que fazia paralelamente a sua atividade, aliada à vontade de aprender – simbolizada pelas conversas frequentes com Tite -, renderam a ele convite para reforçar o setor de análise de desempenho do clube paulista.
Condicionado a ter um olhar diferente do futebol, Rodrigues se incomodava como a imprensa tratava o jogo e apresentou um projeto para a ESPN Brasil, que à época já havia incorporado ferramentas de análise. Foi naquele momento que surgiu o DataEspn, há cerca de seis meses.
“Mantive amizade com muitas pessoas de diversos veículos e colocava essa minha insatisfação de como o futebol era passado para o público. Via que a qualidade era muito baixa. Claro que não estou generalizando, mas era algo que realmente me deixava inquieto. Um destes meus amigos, que na época estava na ESPN, viu em mim um perfil legal para uma ideia totalmente nova dentro do canal”, recorda.
Nesta entrevista à Universidade do Futebol, o jornalista explica como funciona o departamento, fala sobre a rotina de trabalho, que inclui alinhamento com os comentaristas do canal, e a preocupação constante de não fragmentar o conteúdo. “Com a minha chegada e a implantação do departamento de análise de desempenho, deixamos de lado as análises somente de lances pontuais. A minha busca é sempre por padrões dentro do modelo de jogo de cada equipe analisada, tentar mostrar que para a bola entrar no gol, existe toda uma estrutura e um trabalho até este ato final. A busca é sempre qualitativa”, explica.
Renato Rodrigues se anima com o retorno positivo dos telespectadores, mas tem noção de que o objetivo ainda não foi alcançado. “Quero que o setor de análise de desempenho do canal seja referência em estudo de futebol e uma ferramento que ajude na mudança cultural do futebol brasileiro. O Brasil só terá um futebol melhor quando todos os brasileiros entenderem o futebol melhor”. Confira a entrevista:
Universidade do Futebol – Explique como você chegou ao Corinthians e descreva como era o seu trabalho no setor de análise de desempenho do clube.
Renato Rodrigues A minha relação com o futebol é bem estreita desde pequeno. Sempre busquei um entendimento mais profundo dele, de início acompanhando jogos de várzea aqui por São Paulo. Mesmo quando não era para jogar, gostava de participar de todo o processo e anotar tudo o que acontecia nos campos batidos. Por isso, inclusive, busquei estudar jornalismo e ingressar na mídia esportiva. Passei quatro anos no Diário LANCE!, onde fui setorista do São Paulo (um ano) e Corinthians (dois anos e meio). Neste tempo, fazia um trabalho de prospecção de atletas paralelamente. Justava dados, gerava relatórios, arquivava tudo que se tratava destes jogadores… Claro que se tratava, principalmente no início, de apenas um hobby. Sem grande profundidade.
Conforme foram passando os meus dias de repórter, fui buscando sempre uma literatura ligada ao futebol. Também comecei a participar de cursos e palestras para me aprofundar. Com isso, minhas coberturas jornalísticas já começavam, cada vez mais, ter um olhar mais tático/técnico do futebol. Creio que criei essa imagem dentro do meu ambiente de trabalho na época. Tanto que ganhei um blog dentro do próprio LANCE! para escrever sobre estas observações que eu fazia no dia a dia.
Enquanto isso, eu já tinha uma boa abertura dentro do Corinthians por conta da cobertura diária que fazia. Eu sempre buscava aprender observando os treinos, conversando com técnicos e auxiliares… O professor Tite mesmo, sempre muito atencioso, por vários momentos tomou um pouco de seu tempo para me explicar conceitos e ideias dos treinamentos. Em um momento destes, tive a oportunidade de mostrar o meu trabalho de prospecção para o então diretor de futebol na época Ronaldo Ximenes. O observador técnico Mauro da Silva também gostou da forma em que eu trabalhava essa observação de atletas, mesmo que sem grande estrutura para tal. Com isso, fui apresentado para o coordenador do CIFUT, Fernando Lázaro, e daí surgiu a oportunidade de me juntar ao Corinthians. Estes três profissionais, aliás, foram de extrema importância neste meu crescimento profissional.
Ao chegar ao CIFUT, me deparei com um ambiente totalmente novo, mas, graças a Deus, com muita gente de qualidade disposta a me ajudar na minha adaptação. Tinha comigo que eu teria que superar as expectativas, principalmente por vir de um ambiente totalmente contrário ao deles. Os analistas Raony Thadeu, Luis Felipe Batista, Denis Luup e Leonardo Baldo rapidamente me incorporaram a todo o processo. Me passaram muito conhecimento, tanto teórico como prático. O clube, através do gerente de futebol Edu Gaspar, também investiu na minha qualificação profissional e me proporcionou ter acesso a cursos mais aprofundados, inclusive com a Universidade do Futebol. Sou muito grato a todos lá do Corinthians.
Na época da minha chegada, ainda sob o comando do professor Mano Menezes, fiz brevemente o trabalho de observação dos adversários, estudando os últimos jogos, achando padrões das equipes e ajudando a comissão técnica na montagem das reuniões e preleções. Já em 2015, com o professor Tite, ficou delegado a mim cuidar da prospecção de atletas e monitorar possíveis contratações. Neste tempo, criamos toda uma metodologia e organização na observação de jogadores, geramos relatórios quinzenais de competições e mercados diversos, e criamos uma relação de muita confiança com a diretoria e comissão técnica, que sempre nos apoiou muito e nos direcionou esse olhar.
Vivi em um ambiente bem dinâmico, onde participei da filmagem de treinos, palestras e grupos de estudo no próprio CIFUT e absorvi muito conhecimento com todos. Uma experiência que mudou totalmente minha vida e a forma que eu via o futebol.
Universidade do Futebol – Como surgiu a ideia do DataESPN?
Renato Rodrigues Ainda no Corinthians, agora com um olhar totalmente diferente do futebol, começou a me incomodar a forma como a imprensa tratava o futebol de uma maneira geral. Por mais que eu estivesse feliz lá, via em mim a possibilidade de ajudar em uma transformação também da mídia esportiva. Mantive amizade com muitas pessoas de diversos veículos e colocava essa minha insatisfação de como o futebol era passado para o público. Via que a qualidade era muito baixa. Claro que não estou generalizando, mas era algo que realmente me deixava inquieto. Um destes meus amigos, que na época estava na ESPN Brasil, viu em mim um perfil legal para uma ideia totalmente nova aqui dentro do canal.

Renato Ferreira está na ESPN há seis meses
Após trabalhar no Corinthians, Renato Ferreira está na ESPN há seis meses

Me explicou que a empresa tinha uma estrutura legal e que não usava a fundo ferramentas de análises que havia incorporado no dia a dia. Insistiu que eu montasse um projeto e apresentasse para alguns editores do canal. De cara, senti que deixei uma boa impressão. Coloquei minhas ideias de ajudar a aprofundar os debates com materiais mais conceituais, que fugiam da mesmice de todo santo dia. A ideia era ter um departamento que deixasse toda a discussão dos programas mais rica, mais didática e, principalmente, rica em conteúdo de um futebol que quase ninguém via atualmente. Sempre frisei que o futebol brasileiro precisava de uma transformação. Mas que a imprensa, de um modo geral, também tinha que passar por uma mudança. Desde o começo, entendi que a ESPN seria um lugar que daria espaço a estes novos conceitos, que pouco atingiram a imprensa até então.
Universidade do Futebol – Como funciona atualmente este departamento? Qual a rotina e a quantidade de profissionais envolvidos diretamente neste trabalho?
Renato Rodrigues O DataESPN ainda é um departamento com pouco tempo de vida, mas que já vem rendendo bons frutos para o canal. Tenho tido um retorno legal tanto internamente quanto externamente sobre o projeto. São só seis meses de trabalho. Atualmente respondo ao Edu Souza, editor do canal e gestor do DataESPN. Eu coordeno todo o trabalho de análise e tenho o auxílio de Ricardo Spinelli, que cuida exclusivamente da parte de pesquisa e estatísticas. A tendência é que em breve eu já tenha mais alguém para me ajudar no estudo das equipes e materiais mais voltados para a individualidade dos jogadores.
No início da semana fazemos uma reunião para definirmos as prioridades da semana. Vemos em nossa grade quais são os principais jogos que serão transmitidos e damos uma grande atenção a eles, para enriquecer ainda mais os “esquentas” durante a programação e trazer conteúdo diferenciado nos momentos pré-jogo. Tentamos sempre balancear entre partidas internacionais e nacionais, para atingir todos os gostos.
Definidos os jogos que iremos atacar e preparar análises, começo a estudar equipe por equipe. Normalmente assisto três ou quatro jogos de cada uma delas, onde vou observando padrões ofensivos, defensivos, de bolas paradas e transições… Conforme estes padrões vão ficando mais claros, vou separando imagens para trabalhar as ilustrações que deixam a ideia ainda mais didática para o fã de esporte. É um trabalho muito parecido com o de um analista de desempenho de clube. A grande questão é ter a noção que o público que vai ter acesso ao meu conteúdo é diferente. Não se trata mais de atletas, comissão técnica e afins, mas sim de pessoas que não têm um conteúdo futebolístico diferente. A grande chave disto é deixar o conteúdo sempre direto.
Com o conteúdo pronto, vem a parte de como passá-lo ao telespectador, que é através do comentarista. Por exemplo, fiz uma análise de uma equipe que em três jogos marcou escanteios defensivos das três diferentes maneiras: individual, zona e mista. Trago o comentarista até minha sala e tento explicar, da forma mais clara possível, as diferenças dos três diferentes conceitos de marcação na hora da bola parada. É de extrema importância que estas ideias estejam bem alinhadas, para que o vídeo e a explicação ao vivo se encaixem e criem um entendimento novo à pessoa que está do outro lado da tela. Até então a relação com os comentaristas tem sido bem legal e de uma maneira geral, todos têm entendido e apoiado a causa. Tem situações em que mostramos um padrão bem definido da equipe e momentos depois, durante o jogo, ele acontece e resulta em gol, por exemplo. Digamos que é o momento do “nosso gol”.
O volume dos materiais também muda de acordo com a relevância das partidas e equipes que estão em jogo. Para as finais da Copa do Brasil, por exemplo, usamos uma câmera panorâmica para fazer as análises. Algo pouco usado pela mídia. Também implantamos o estudo de pênaltis durante a transmissão… O grande barato de tudo é a liberdade para criar que a empresa me dá e a confiança que todos têm em mim para tocar essa ideia.
Todas estas análises também vão para o nosso site e, uma vez por semana, tento fazer uma coluna abordando de forma ainda mais aprofundada, um dos materiais produzidos. Estes textos, inclusive, estão tendo uma boa audiência. Sinal de que existe gente buscando este tipo de entendimento.
Universidade do Futebol – Como as informações obtidas pelo DataESPN podem contribuir com as análises dos jornalistas nos diversos programas da empresa? É realizada somente a análise quantitativa dos jogos ou o departamento também faz análises qualitativas das equipes?
Renato Rodrigues Creio que neste momento estão contribuindo muito. Com a minha chegada e a implantação do departamento, deixamos de lado as análises somente de lances pontuais – muitas vezes aleatórias, inclusive. Deixamos de analisar um gol só porque ele foi bonito, qual a velocidade da bola, a velocidade do atleta… Claro que tudo isso também é usado e tem sua curiosidade, mas a ideia é levar mais que isso para o telespectador. Por isso a minha busca é sempre por padrões dentro do modelo de jogo de cada equipe analisada. Buscamos sempre que a análise não seja apenas de “linhas e bolinhas desenhadas na tela”, mas que elas tenham conceitos e ideias de jogo dentro delas. Tentar mostrar que para a bola entrar no gol, existe toda uma estrutura e um trabalho até este ato final. Como a iniciação de jogo de uma equipe na 1ª e 2ª etapa de construção, tão importante quanto a entrada no último terço do campo e o momento alto da finalização.
A minha busca é sempre qualitativa. Obviamente que um padrão só é um padrão depois de aparecer por vezes na mesma situação. E cabe a mim observar estes momentos. Mas a minha ideia é de nunca cravar o certo e o errado dentro de um modelo de jogo. Claro que tenho opiniões sobre as diversas situações que analiso durante o meu dia a dia. Mas acredito que no futebol tudo se trata de escolha. E elas podem te trazer coisas boas e ruins dentro de uma só partida ou temporada. A grande chave é como você vai potencializar as coisas boas e como vai resolver os problemas que esta escolha te trouxe na hora da adversidade. Isso que é realmente decisivo em um jogo ou campeonato.
DataESPN se notabiliza por fazer análises qualitativas
DataESPN se notabiliza por fazer análises qualitativas

Por isso nada de ficar apontando se é melhor jogar com a linha defensiva alta ou baixa, por exemplo. A ideia é achar o padrão e mostrar o que está acontecendo. Sempre buscando bons argumentos e uma maneira didática para quem estar assistindo tirar sua própria conclusão e passar a ter suas próprias escolhas do bom ou ruim.
A questão quantitativa têm relevância em poucas situações do meu dia a dia. Usamos números, mas tentamos fazer isso no momento certo e buscando alguma relevância dentro de um confronto. Por exemplo: uma determinada equipe tem uma média de 525,7 passes certos por jogo. Bom, para mim, isso não quer dizer nada. Neste momento, prefiro qualificar esta estatística e ver qual foi a porcentagem de passes para frente e que furaram linhas. Quantos deles foram para o lado? E quantos foram para trás? Quantos destes passes dados o portador da bola estava pressionado? Aí sim já seriam números que eu daria uma maior relevância. Tenho uma certa resistência quanto a isso.
Universidade do Futebol – Em geral, as análises gerais do jogo realizadas pela mídia reforçam a tese de que olhamos apenas para a parte, sem compreender o todo e a complexidade da integração entre todos os fatores do desempenho esportivo? Como o DataEspn pode contribuir para esta mudança?
Renato Rodrigues Sem dúvida alguma. De modo geral, falta qualidade nos comentários e nas análises da mídia esportiva. A grande questão é que os formadores de opinião precisam se qualificar minimamente antes de falar para milhões de pessoas sedentas por conhecimento. Uma palavra mal colocada pode induzir milhares de pessoas a pedir a saída de um técnico, muitas vezes com poucas semanas de trabalho, não? Isso pode virar uma verdade absoluta. Tratam-se de situações muito perigosas e de difícil reversão. Por isso sou totalmente a favor de que estes profissionais, e eu me incluo nisso, busquem conteúdos que são estudados por treinadores, auxiliares, preparadores físicos, analistas de desempenho como eu…
A minha grande motivação com o DataESPN é tentar quebrar estes paradigmas. Não quero que sejamos “apenas” o primeiro departamento de análise de desempenho dentro da televisão brasileira. Quero que aqui seja referência em estudo de futebol e uma ferramenta que ajude na mudança cultural do futebol brasileiro. Ao colocar conteúdo aprofundado no ar, queremos atingir o torcedor e o dirigente (muitas vezes torcedor também). O Brasil só terá um futebol melhor quando os brasileiros entenderem o futebol melhor.
Universidade do Futebol – Em sua opinião, de que forma os jornalistas que não foram atletas fazem para compensar a falta de conhecimento prático? Qual é a importância da teoria e da prática para a capacitação profissional do jornalista esportivo?
Renato Rodrigues – Acredito que quem jogou futebol não necessariamente entende de futebol. E que também quem entende de futebol também não precisa ser um bom praticante de futebol. Temos ex-jogadores que, além da experiência de grande parte de sua vida dentro do campo, também buscam o conhecimento teórico que tem sido cada vez mais importante dentro do Brasil. Já outros se acomodam em seus nomes e os conteúdos abordados não passam de histórias curiosas que viveram em sua carreira. Assim como tem jornalistas que nunca foram em um treino e que cobram um treinador com o mês de trabalho.
Existem bons e ruins nos dois seguimentos. O que diferencia uns dos outros é o quanto eles se interessam em explicar futebol e não só contar de futebol em rede nacional. O quanto eles buscam de conhecimento para o seu dia a dia. Aqui na ESPN mesmo temos ex-jogadores que, mesmo em seus tempos de campo, buscavam entender melhor o funcionamento da engrenagem que participavam. Por isso, estes caras já trazem um conteúdo diferente para quem os assiste. No caso de jornalistas, temos um grande exemplo aqui dentro. Quem frequenta cursos voltados para profissionais do futebol como os que fiz quando eu estava no Corinthians, vira e mexe encontra com o Paulo Calçade, um dos nossos comentaristas. É um dos caras que tem profundidade ao analisar uma partida por entender que precisa se especializar cada vez mais. Ele, inclusive, tem sido o grande apoiador do DataESPN deste o início da ideia. É um cara que vive e luta por mudanças no nosso futebol e um dos “soldados” do DataESPN.
Universidade do Futebol – A cobertura jornalística esportiva tem um formato predefinido, seja no rádio, TV ou internet, e geralmente temas mais complexos não são abordados no dia a dia. É possível quebrar esse paradigma para que o grande público tenha acesso a uma informação mais analítica e qualificada, ampliando, dessa forma, a cobertura tradicional?
Renato Rodrigues – Claro que é possível. Estive há alguns dias rapidamente com o professor Roger Machado, técnico do Grêmio, e lhe contei sobre o DataESPN. Ele me disse: “Joga análise e conceito de futebol para o povo ver! Na primeira ele pode não entender, na segunda também… Mas na terceira você faz com que ele entenda e melhore seu olhar crítico”. Então, tem que haver uma quebra de cultura, não tem jeito. E claro que não adianta somente a ESPN fazer isso. Precisamos ver rádios, sites e jornais também remando para o mesmo lado.
Os veículos vivem muito dentro de um regime de buscar audiência e por vezes se perdem na qualidade que está oferecendo ao seu público. Por isso é uma mudança que tem que atingir todos os seguimentos. Assim tudo tende a melhorar e atingir nosso bem maior, que é o futebol.
Apesar das minhas críticas, vejo que este cenário tem mudado. Dentro dos clubes já vemos treinadores dessa nova geração ganhando espaço. Analistas de desempenho mais valorizados, preparadores físicos novos, fisiologistas com espaço e poder de decisão no dia a dia. E já começo ver a imprensa vindo para o mesmo lado. Caras como Paulo Massini e Mario Marra no rádio, Rafael Oliveira, Gustavo Hofman e Leonardo Bertozzi aqui mesmo na ESPN… Todos caras que eu já vejo que buscam um entendimento do jogo para ajudar nesta revolução tão necessária. A própria Universidade do Futebol hoje é um espaço de referência para todos. Para mim, a tendência é de melhora…
Universidade do Futebol – Quais são as formas possíveis de atualização para jornalistas esportivos? É importante conhecer ciências atreladas ao esporte?
Renato Rodrigues – Quem se propõem a falar de futebol, tem que entender de futebol. Pelo menos o básico. Entender os princípios ofensivos e defensivos, conseguir enxergar um sistema tático, entender um erro coletivo e não individual… E quem melhor se prepara, melhor vai passar a informação e argumentar. É preciso ter um pouco mais de convívio no futebol, assistir treinos, acompanhar in loco um pouco do trabalho do treinador antes de criticá-lo. Literatura, cursos, palestras, seminários… Tem muita coisa acontecendo por aí que pode ajudar nesta evolução.
Nós jornalistas às vezes reclamamos muito que os técnicos e jogadores falam sempre a mesma coisa em suas entrevistas. Mas nós só perguntamos a mesma coisa, oras! Em minha experiência como repórter vi várias situações em que perguntas mais técnicas/táticas, com um pouco mais de profundidade, foram bem respondidas por treinadores. E vi prazer neles em respondê-las, inclusive.
Resumindo, um jornalista não precisa ter licença do curso da UEFA para comentar sobre futebol. Mas existem várias maneiras de se aprofundar e elevar o nível dos debates. Estamos todos acostumados e acomodados em cima dos nossos rabos. É mais fácil ficar apontando para os rabos dos outros. Quando todos entendermos que somos parte importante para uma grande mudança do futebol brasileiro, que tanto cobramos, o cenário vai melhorar.
Universidade do Futebol – O Sócrates costumava dizer que se as pessoas acharem que o futebol é aquele da TV, o mesmo iria paulatinamente acabar. Você concorda com esta opinião?
Renato Rodrigues – Nunca concordei tanto. Comecei deste lado do futebol, fui para dentro dele e hoje volto com outra cabeça para a imprensa. Acho, inclusive, que tem muito a ver com política. Muita gente diz não gostar e por isso não entender de política. Se não entendermos minimamente de um assunto, como vamos cobrar melhoras em cima dele? Ou então vamos cobrar errado, que é o que fazemos para os dois seguimentos.
O torcedor precisa ser reeducado. O futebol que ele se acostumou, mudou. Quando quem gosta de futebol entender melhor dele, vai conseguir cobrar melhor e apontar os erros de forma mais justa e clara. Vai muito da nossa cultura no Brasil. Aqui reclamamos muito e fazemos pouco. Esta crítica precisa ser melhor apontada e, de preferência, buscando soluções. Acredito que a TV é o maior canal para isso. Se mudarmos o futebol e a mídia esportiva, também mudamos a quem formamos opinião.
E acho que uma nova geração de torcedores já buscam esse entendimento. Cabe a nós, dar isso a eles.

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