Ruim, mas muito bom

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A Fifa concluiu hoje a inspeção da proposta da Inglaterra para hospedar a Copa do Mundo de 2018. A conclusão foi que a proposta é quase perfeita. Na cabeça dos inspetores, outra conclusão, imagino, é que a Inglaterra está mais pronta hoje pra receber uma Copa do que o Brasil, ainda que exista uma diferença de quatro anos entre um e outro.

Isso porque, diferente do Brasil, a proposta da Inglaterra se baseia principalmente em estádios prontos. Das doze cidades que fazem parte da proposta inglesa, cinco (Londres, Birmingham, Sunderland, Manchester e Newcastle) já tem estádios que poderiam ser sede da Copa no próximo final de semana. Outros cinco precisam passar por reformas em diferentes proporções (Liverpool, Leeds, Milton Keynes, Sheffield e Plymouth) e apenas dois novos estádios precisarão ser construídos do zero (Nottingham e Bristol). Com distâncias bastante curtas entre as cidades e uma malha de transporte bem desenvolvida, o problema, por enquanto, é apenas hotelaria, já que Newcastle, Leeds e Sunderland não são lá grandes pólos turísticos.

Obviamente, não dá pra comparar uma coisa com outra. São duas realidades financeiras e, principalmente, organizacionais completamente diferentes. Mas também é óbvio que não dá pra fechar os olhos pro atraso absurdo da Copa de 2014. O atraso é tão grande, mas tão grande, que parece que ninguém tá acreditando muito que a Copa vai ser por aqui. Porque uma coisa é começar, a outra é acabar um estádio. Nesse ínterim, um oceano de outros atrasos podem e irão ocorrer. Muito do que foi visto na África do Sul deve se repetir, principalmente, as greves de trabalhadores dos estádios. Eu, se fosse trabalhar na construção dum estádio, faria greve. Afinal, com prazos apertadíssimos, o poder de barganha está todo em minha mão. Um líder sindical mais esperto conseguirá grandes aumentos de salário e benefícios para a classe por conta da ameaça de paralisação das obras. Ou conseguirá grande aumento na conta bancária própria para não começar um movimento de ameaça de paralisação das obras.

Fora isso, as obras poderão ficar dependentes da justiça brasileira, o que normalmente é um baita problema. Ações deverão aparecer de todos os lados. Funcionários, construtoras, fornecedores e governos acionarão um ao outro na justiça. Os períodos pré e pós Copa deverão testemunhar enormes batalhas jurídicas.

Em outros tempos, isso talvez não fosse um problema. Em 1950, por exemplo, essas coisas não devem ter incomodado muito. O país ainda caminhava no estabelecimento de suas instituições, o que criava um cenário mais livre para o governo fazer o que bem entendesse. A Copa foi enfiada goela abaixo na sociedade. No boom de estádios dos anos 60 e 70, a mesma coisa deve ter se repetido. Para o azar da Copa e da Fifa, o Brasil evoluiu bastante de lá pra cá. Hoje, ao que tudo indica, o cidadão consegue ter muito mais voz do que tinha antes, e a sociedade civil consegue ao menos criar obstáculos, ainda que mínimos, aos desmandos governamentais. E isso, ao que tudo indica, pegou todos aqueles que planejaram a Copa no Brasil meio que de surpresa.

A lentidão no início da construção dos estádios brasileiros pode ser vista por muitos como sinal de incompetência da sociedade brasileira. Não ter a estrutura minimamente pronta, de fato, é incompetência das grandes. Que ela esteja demorando a começar a ser construída, porém, é um sinal de maturidade social. Aparentemente, o governo e os governantes não conseguem fazer mais o que querem com o país. E isso é extremamente louvável. A demora e a lentidão no início da construção de estádios e estrutura para a Copa do Mundo pode ser visto como algo muito, muito positivo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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