Seleção, formação e detecção de talentos no futebol: quando a iniciação precoce pode atrapalhar

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Continuando nossa discussão sobre os mecanismos envolvidos no processo de seleção, promoção e detecção de talentos no futebol, esta semana abrimos espaço para a iniciação precoce.

Alguns estudos apontam que para se tornar um expert em qualquer área são necessárias, em média, dez mil horas de dedicação. No esporte e mais especificamente no futebol, não deve ser diferente e, portanto, quanto mais tempo de qualidade o atleta tiver para praticar, mais chances ele terá de se desenvolver.

Um estudo realizado por Vayens et. al., (2009) demonstrou que o período de iniciação esportiva de atletas olímpicos varia em média dos sete aos 12 anos de idade e, em algumas modalidades, a iniciação ocorre antes mesmo dos sete anos. Outro estudo feito por Marques e Samulski (2009) em jogadores brasileiros aponta que a idade média de início de 186 jogadores profissionais foi de 8,95 anos e que dos 13 aos 20 anos tiveram carga horária de treino por volta de 5.555 horas (793 horas por ano de vida).

Esses dados mostram claramente que o problema não é começar cedo demais, e sim como se começa. Se, por exemplo, uma criança passa a jogar futebol como experiência para desenvolvimento de suas habilidades e capacidades motoras, sem exigências de desempenho e até participa de competições, mas sem a cobrança imposta a um atleta profissional, provavelmente ela poderá participar de momentos especiais que preparem seu físico e sua mente para a exigência futura da modalidade.

Do contrário, a exigência por padrões motores pré-estipulados, excesso de treinamento físico-técnico-tático em conjunto com a pressão de familiares e do clube por máximo desempenho, podem gerar um estado estressor e sobrecarga excessiva que ao invés de possibilitar o desenvolvimento pleno do jogador poderão causar afastamento tanto por lesões quanto por desmotivação.

Já que diversos aspectos culturais em nosso país promovem massificação de praticantes de futebol em idades bem baixas, uma política formativa embasada em parâmetros físicos, motores, cognitivos, psicológicos, afetivos e sociais poderia aumentar as chances não só de formar mais e melhores jogadores, mas também de alongar a carreira de cada um deles.

Mas como é difícil prever o que pode ocorrer com cada jogador durante o período de formação, o ideal seria que os clubes tivessem o maior número possível de praticantes com chances de sucesso e construíssem políticas de formação nas categorias de base com critérios bem definidos para avaliar as reais condições de cada jogador para evitar perdas de qualquer natureza. Além disso, deveriam ser inseridos num modelo educacional adaptado às viagens e concentrações, mas com qualidade suficiente para colocá-lo no mercado de trabalho, pois aos que não se tonarem jogadores por qualquer razão, teriam condições de continuar suas vidas mesmo fora do futebol, já que este é um outro problema social daqueles que nem se profissionalizam e nem aprendem outra atividade.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br  


Referências bibliográficas

Marques, M P, Samulski, D M. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, 2009 abr/jun 23 (2): 103-19.

Vaeyens R, Güllich A, Warr CR, Philippaerts R. Talent identification and promotion programmes of Olympic athletes. J Sports Sci. 2009 Nov;27(13):1367-80.

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