Treino é tudo

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É importante criar dificuldades para os que têm talento. As facilidades os limitam. (Bernardinho)

O jogo cria o treino, que por sua vez cria o jogo. Um ciclo recursivo, onde o início e fim tem o mesmo lugar. Podemos enxergar no treino um processo de ensino-treino (repetição), um lugar especial onde a prática se torna mais “construtivista” que as palavras. Onde o fazer diz muito mais que muitas palavras. Onde o subconsciente precisa ser exercitado. Julio Garganta relata que o treinador precisa acreditar no treino, no processo de aquisição, na repetição de ideias, nos comportamentos, etc.

O treino pode ser caracterizado como um período temporal que foi criado para construir uma forma de jogar, o que deve ser estruturado/criado com base nas ideias de cada treinador. Este processo de ensino-treino tem como objetivo aperfeiçoar as diferentes capacidades e competências dos atletas e da equipe. Porém, ainda algumas práticas vêm limitando e polindo o desenvolvimento individual e coletivo.

Um treino desajustado que, com frequência, os jogadores são enquadrados num processo de treino onde dificilmente podem expressar as suas aptidões criativas através do gesto ou ação. O que infelizmente reflete em uma característica constantemente observada no nosso futebol, uma inoperância da criatividade decisiva nas soluções de algumas dificuldades que o jogo apresenta.

Aprender futebol à base de repetições debilita as possibilidades criativas dos jogadores. Este tipo de treino, onde se propõe ou impõe o mesmo, um treino analítico, tarefas fechadas e práticas físicas, dirigidas todas elas ao único aspecto que se tem por relevante. Daqui resulta em jogadores que passam anos se exercitando, a sua técnica melhora, mas eles não jogam necessariamente melhor (o que podemos observar atualmente). Isto porque as tarefas que estimulam a repetição mecanizada e cega das ações são nefastas para o desenvolvimento dos jogadores, hipotecando a sua inteligência, criatividade e adaptabilidade.

Como já referi em outras colunas, existem concepções diferentes sobre a mesma realidade. Porém, faço aqui algumas justificativas para a minha. Sabe-se que na literatura já é consensual em considerar que, o desempenho dos jogadores e das equipes, está vinculado diretamente à interação (individual e coletiva) de competências cognitivas, perceptivas e motoras.

Considerando que os grandes jogadores se distinguem dos demais em virtude do seu maior conhecimento especifico, ou seja, da interação de suas competências cognitivas e motoras, sou da crença que o processo de ensino-treino deve ter como preocupação central promover a aquisição, desenvolvimento e interação dessas habilidades (tomada de decisão e cognição de jogo). Nesta perspectiva, o treino, embora seja um espaço para exercitar-se, é principalmente um contexto de aprendizagem com o objetivo de criar um repertório de proficiências que permitam que os jogadores e as equipes consigam resolver eficaz e eficientemente os múltiplos e variados problemas que surgem quando se joga.

Há que devolver qualidade técnica/cognitiva ao jogo pois a alma do futebol reside essencialmente em: ter a bola e saber o que fazer com ela; fazer com que o adversário falhe na sua tentativa de ter a bola e saber o que fazer com ela. E não na vertigem de fazer tudo rápido, roubar rápido e atacar rápido (“vertigem da pressa”). Segundo Cruyff, a única solução para este deficit técnico, está na formação dos futebolistas, daí o importante papel da “formação”, para um futuro “como” queremos jogar.

Até porque, qualquer decisão tendo em conta o contexto e teoria de jogo, só se torna válida se puder ser transformada de uma forma eficiente em ação, o que implica que o jogador tenha ao seu dispor o leque de respostas correspondentes (técnicas individuais ou coletivas). Torna-se também importante para a evolução futura do jogador, não só saber como executar uma determinada técnica, mas fundamentalmente saber quando, onde e porquê executá-la (um tal “saber sobre o saber fazer”). Daí que na aprendizagem do jogo, o ensino da “técnica” e da “tática” deverão ser articulados e não apontar para a simples aquisição mecânica de automatismos técnicos. Porque, ou se faz um ditado (geralmente grita-se na beira do campo de treino ou de jogo) ou se dão as ferramentas conceituais aos jogadores para que estes saibam ler um desafio e se deem ao trabalho de pensar.

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