Três não é demais

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Nem todo esquema com três na zaga é defensivo. Nem todo time com três na frente é eficiente ofensivamente. Muito menos todos os esquemas com três atrás são o tal “3-5-2” que costumamos simplificar. Isto é, usualmente rebaixamos ao simplismo barato.
 
O primeiro 3-5-2 (puro, puríssimo) é lavra da prancheta do treinador alemão Sepp Piontek, já na Euro-84. No México-86, ele aperfeiçoou a defesa a três e fez bonito até ser destronado e destroçado pelo espanhol Butragueño, na goleada por 5 a 1.
 
Apesar do tombo, o 3-5-2 (simplismo que esconde a versatilidade do esquema) fez fama e deitou na grama na Copa-90 (a pior de todas). Dezessete das 24 seleções (o Brasil lazarento, inclusive) atuaram com três na zaga. Ou até cinco.
 
A base lógica para adotar o esquema com três atrás era uma questão numérica: para que uma linha de quatro defensores se bastariam três para marcar dois atacantes rivais? A partir daí, um do meio foi recuado para a zaga, e os laterais avançaram como alas – muito mais jogadores de meio-campo do que defensores, nos primórdios, e em quase toda a Europa.
 
Muitas variações táticas e matemáticas foram feitas: os treinadores montaram times com apenas um volante e dois meias (o 3-3-2-2, a base dinamarquesa), dois volantes e um meia (o 3-4-1-2 bicampeão brasileiro pelo São Paulo), dois volantes e dois meias (o 3-4-2-1 pentacampeão mundial de Felipão), um volante, um meia, e três atacantes (o 3-3-1-3 do Ajax-95), um volante e três meias (o 3-3-3-1 de Marcelo Bielsa, na Argentina 1999-02), e outras menos usadas.
 
Mas, poucos, no Brasil, foram “puristas” como o original de Piontek. Aqueles que usaram meias ou atacantes como alas, e não apenas laterais avançados. Luxemburgo lembrou que, no Brasil, raras foram as equipes que atuaram assim: O Coritiba-01, de boa campanha com Ivo Wortmann, foi uma delas: o meia-atacante Juliano virou ala pela direita; o armador Fabinho foi convertido em ala pela esquerda. E o Coxa jogou muito.
 
O São Paulo do ano passado é outro belo exemplo: os meias Souza e Jorge Wagner transformaram-se em alas. E ajudaram a fazer uma defesa histórica, marcando e cercando mais do que sabiam.
 
Luxemburgo é taliban na matéria. Para ele, qualquer esquema com dois laterais nas alas significa um 5-3-2. Nem sempre. O Brasil de Felipão que o diga, com Cafu e Roberto Carlos espetados nas pontas. Era o melhor modo de usá-los (em 2002, os dois ainda tinham deficiências defensivas visíveis). Não era um sistema defensivo, como ainda querem acreditar. Como ainda insiste Luxemburgo.
 
O botafoguense Cuca é um dos que melhor sabem usar o esquema com três zagueiros. Ou (muito) melhor: com três atrás. Não necessariamente zagueiros. E, também, não necessariamente volantes recuados para a zaga. Como fez, por exemplo, com eficiência, Jair Picerni no Palmeiras da Série B, em 2003: os volantes Alceu (e depois Marcinho Guerreiro) faziam a função do zagueiro pela esquerda. Por vezes, saíam e compunham o meio-campo como volantes que são. Mas não eram.
 
No Botafogo, desde 2007, Cuca usa como o terceiro atrás um lateral-esquerdo. Na bela campanha do Brasileirão foi Luciano Almeida. Agora, em 2008, Triguinho é o zagueiro-lateral. Ou lateral-zagueiro. Mas não para sempre.
 
Como explica o próprio treinador: “Não preciso jogar sempre com três na zaga. Quando o adversário só tem um atacante, posso liberar o Triguinho como lateral para fazer o lado esquerdo com o Zé Carlos. Jogamos com dois zagueiros e dois laterais. Isso só é possível porque tenho atletas polivalentes como os dois. Mas quando enfrentamos equipes com dois na frente, um jogador de área mais fixo e o outro mais rápido, que se mexe bastante, prefiro atuar com três lá atrás. E não necessariamente três zagueiros”.
 
É mais uma evolução tática e técnica. Voltada para o ataque. E diferente do que constata Luxemburgo. O Botafogo joga com três atrás, três alas que eram laterais, e é um time muito melhor que a soma das individualidades.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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