Utopia da mudança

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Os dias estão passando, o futebol no Brasil segue com seus vícios históricos, sua vaidade e sua mania de grandeza. Uma grande parcela de profissionais contribui com isso, pois ocupam seu dia a dia fabricando ações que pouco cooperam para evolução do esporte, preocupando-se demasiadamente com fatos prontos, fatos pessoais, não aproveitando esse fenômeno expansivo para se localizar, desenvolver internamente e se reconstruir individualmente de possíveis precipitações interpretativas. São informações supérfluas e pouco fundamentais, ou fundamentais em quase nada.

O problema é que qualquer episódio que vai contra essas informações, contra a ordem estabelecida, o sistema criado gera um medo avassalador. Muitos que estão no futebol fazem uma ditadura de seus medos. Então, qualquer mudança gera um desconforto interno, ou desprezo, que carrega barreiras quase intransponíveis. As pessoas se sentem seguras, por que desprezam o que não compreendem, mas na verdade, desprezam aquilo justamente para não se desprezarem individualmente. É uma espécie de consolo.

Está claro que a mudança não é bem vinda num processo tão viciado como o futebol. Quem está nele, como nós, deve estar ciente que uma tentativa de mudança de paradigma pode gerar conflitos que precisam ser relevados e administrados para um andamento normal do processo. Abaixo algumas tendências:

A história do ex jogador e os profissionais das novas gerações: No futebol, ainda existe essa divisão de quem jogou e quem não jogou. Evidente que todo jogador, que esteve sentindo a longo prazo o futebol, internamente, na sua essência, pode contribuir, e claro, contribui muito com sua experiência. Mas apenas usar essa experiência, pode-se negligenciar alguns fatores evolutivos que o futebol vem evidenciando. Mais que isso, os pré-julgamentos que surgem do ter jogado e não ter jogador, do estudar ou do “termo cientistas da bola”, é um fator ainda existente. Claro, muitos ex-jogadores estão construindo carreiras de sucesso, pois aliam sua prática que tem um valor incalculável com atualizações e busca por conhecimento. Independentemente de ter jogado ou ter apenas estudado, o futebol precisa de sensibilidade contextual. Gerir essa relação é uma arte necessária para os dias atuais, muito ainda pautadas por egos inflados de ambas as partes.

Protagonismo do treinador: Aquela velha e atual frase que o futebol é dos jogadores, ainda não foi entendida pelos treinadores. Muito do que acontece no futebol atualmente é pelo excesso de protagonismo que o treinador quer e determina no jogo. O treinador necessita aparecer mais que o jogador, será? Não seria tarefa do treinador apenas facilitar os contextos de atuação dos jogadores e não engrandecer sua atuação, ser soberbo e mais influente no jogo que o jogador? O treinador precisa ser valorizado e desvalorizado ao mesmo tempo para o futebol crescer novamente.

A mentira da formação: Atualmente vem se falando muito em formação, em como formar jogadores e como melhorar os aspectos metodológicos. Como treinador, acredito muito na formação do jogador e na possibilidade que ele tem de aprender novos ideais de jogo. Mais que isso, acredito na formação do jogador em qualquer idade, até ele se aposentar. Mas nas idades menores, na base, o grande problema desse termo, ou a interrogação desse termo, surge quando o resultado não vem, quando acontecem as finais das competições, quando um processo é viciante em ganhar de qualquer forma, quando alguns dirigentes procuram a formação apenas na vitória, quando treinadores querem se promover a qualquer custo; aí a formação vira a formatação para a vitória a qualquer custo em função de algum interesse pessoal. Essa mentira de formação está visível na grande maioria das equipes, evidente, há sempre algumas raridades.

Ir para o treino e não ir treinar: Ainda mora a ideia no futebol que treinar é ir para o treino jogar uma bolinha todos os dias, brincar e se divertir. Claro, são faces do futebol, e acredito que o futebol se joga, pois é um jogo. Mas a forma como o futebol evoluiu, obriga uma comissão técnica a criar cenários que contenham conteúdos do jogo, das mais diversas formas, em níveis organizacionais diferentes e exigências diferentes, e não simplesmente ir ao treino brincar e jogar uma peladinha todo dia.

Jogadores viciados: À medida que o jogador vai crescendo, vai adquirindo vícios processuais que não são fáceis de serem retirados, especialmente se o histórico anterior é pautado em processos simplistas, seja quanto a treinamento, perfis de jogo, ideias pré-estabelecidas, perfil de jogador, glamour, status, dinheiro e outras questões. Isso gera uma limitação evolutiva e dificulta o trabalho de uma comissão técnica que quer mostrar a face intrínseca do futebol que ultrapassa o campo de jogo. É uma epidemia social.

Olho de corvo envolta do jogador: Sendo o futebol algo que vai além do jogo e já ultrapassa um sem fim de áreas e pessoas, o estado frenético que alguns degustam, tem tornado esse esporte uma mina de dinheiro. Crianças com 10, 11 anos já com empresários, já valorizadas, pessoas deixando de trabalhar para se tornarem agentes esperando pela primeira transferência internacional, empobrecem esse esporte na famosa tese do “corvo na carniça”.

Bem, nenhuma mudança acontece do dia para noite, ainda mais nesse mundo individualista e imediatista que vivemos. Quem vive do jogo de futebol, e acredita na sua essência, sofre um pouco com esses vícios processuais, mas cria esperanças, vendo algumas pequenas mudanças, vistas até certo ponto por aqui nos últimos anos. Mas entra dia e sai dia, a realidade vai aparecendo: o sistema é mais forte e faz entender que toda transformação é uma grande utopia que não tem data para acontecer, pois o contágio ainda é grande.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

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