Brasileiro Série B

Foto: terra

Emergentes da Série B lutam contra estádios vazios

24 set 2011
08h21
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André Donke
Emanuel Colombari

Nas últimas edições da Série B do Campeonato Brasileiro, o Duque de Caxias registra um fenômeno curioso: é sempre o mandante dos piores públicos da competição. Foi assim em 2010, quando 32 pessoas acompanharam Duque 0 x 1 América-RN pela sexta rodada. E no ano anterior, foi ainda pior: cinco testemunhas assistiram à vitória por 4 a 1 sobre a Ponte Preta na última rodada do torneio de acesso.

Mas se pode ser motivo de piada para alguns, a situação tricolor serve de alerta para os clubes da Série B. Sejam eles tradicionais ou emergentes, os times da divisão de acesso à Série A passaram a encarar partidas em estádios esvaziados - um problema a mais, que se soma aos patrocínios menores e às cotas de televisão reduzidas. E os clubes considerados pequenos passaram a ser os vilões da Série B, que briga para se manter competitiva, mas que se depara com clubes pouco preparados para o certame.

O sempre apaixonado torcedor, que se acostumou a ver clubes como Paysandu, Remo, Santa Cruz e Londrina na Série B, passou a ver seu time enfrentar Americana, Boa Esporte, Duque de Caxias, Grêmio Barueri e Salgueiro para brigar pelo acesso. Antes afastadas do futebol nacional, cidades como Varginha (MG) e Paulista (PE) passaram a figurar com destaque na Série B do Campeonato Brasileiro. E o torneio passou a ser, em boa parte, uma briga para se manter e pensar no futuro.

Os "emergentes", porém, não querem o estereótipo. Contra a fama de prejudiciais à tradição e de terem torcidas reduzidas, os pequenos clubes da Série B querem mostrar organização, estruturação e bons resultados. E mesmo com pequenos públicos nos jogos em casa, querem provar que podem, sim, atrair torcedores aos estádios. Para isso, em geral, a conta é simples: bons resultados trazem bons públicos.

"A gente sabe que o torcedor gosta do Barueri e vai (aos jogos). Mas se a gente estivesse no G-4, a gente colocaria 10 mil, 12 mil no estádio", afirma Domingos Brito, presidente do Grêmio Barueri, que recebeu 5.446 torcedores na derrota em casa para o Sport por 3 a 2 pela 22ª rodada.

A conta é simples, mas com um cálculo de difícil execução. Como montar bons times e conquistar bons resultados sem apoio de torcida e com pouco dinheiro? Como atrair patrocinadores sem um público consumidor composto por uma torcida grande? "Hoje, estamos pagando o preço pela falta de estrutura", diz Alan de Paula, gerente de futebol do Duque de Caxias. "Se você parar para olhar nosso elenco, não é um elenco ruim. Mas essa é uma coisa que procuramos dentro das nossas possibilidades. É uma coisa meio que inexplicável. É como aconteceu com o Santos mais ou menos: um p... plantel, mas que não vinha ganhando jogos", compara.

Boa: pequenos passos longe de casa

Ninguém sabe ao certo se a casa do Boa Esporte Clube é Ituiutaba ou Varginha. Fundado como Boa Vontade Esporte Clube, o antigo Ituiutaba mudou de nome em 20 de junho. E como não podia disputar seus jogos na cidade natal, onde o Estádio da Fazendinha não tinha a capacidade exigida, passou a mandar seus jogos em Varginha, no Estádio Dilzon Melo.

Os planos são de que o Estádio da Fazendinha, em Ituiutaba, seja ampliado até 2013 - desta forma, o Boa poderia voltar. Por isso, o clube evita comentar por enquanto sobre estratégias de marketing para atrair torcedores aos jogos em Varginha. "Sobre isso, não quero falar", resume Rildo Moraes, diretor de futebol do clube, em contato por telefone.

Por enquanto, o clube mineiro pensa apenas nos planos para dentro de campo. A meta é evitar o rebaixamento em 2011 para poder pensar em brigar pelo acesso à Série A no próximo ano. Nesta temporada, até agora, os resultados estão dentro dos planos: rebaixado no Campeonato Mineiro em 2010, o então Ituiutaba - jogando em Varginha - foi campeão do Módulo II, segunda divisão local.

"Em relação aos campeonatos que disputamos, tem sido (um ano) positivo. Disputamos o Módulo II e conseguimos voltar para a primeira divisão. No Campeonato Brasileiro, a gente pensa também em somar mais 15 ou 16 pontos para estar na Série B em 2012. Aí sim, quem sabe, brigar pelo acesso à Série A", comenta Rildo Moraes. Após 23 rodadas, o time tinha 32 pontos e era nono colocado. Em 2010, o Guaratinguetá foi 15º com 47 pontos em 38 jogos.

Por enquanto, porém, o Boa se mostra à vontade em Varginha, onde a estrutura está "de acordo com o previsto". "A cidade recebeu a gente bem e a estrutura é muito boa. A expectativa é boa e temos um apoio bom da torcida", diz Rildo Moraes. Agora, é esperar por 2013 - e talvez pela Série A.

Duque de Caxias: jovem demais para a Série B

Deu tudo errado para o Duque de Caxias na Série B de 2011. Com boas campanhas na história recente da competição (foi 8º em 2009 e 11º em 2010), a equipe fluminense somou míseros nove pontos em 23 rodadas no torneio deste ano. A volta para a Série C parece inquestionável.

"O que acontece é o seguinte: pela falta de estrutura que nós tempos, temos que fazer parceiras. Todos os anos, a gente sempre começou muito mal na competição. O que acontece? Geralmente, eu tenho um time do (Campeonato) Carioca, e quando esse time chega ao fim do Carioca é desfeito para montarmos um novo time. Você sempre precisa montar um time para uma competição e outro para outra competição. Ou seja: somos um time pequeno, com estrutura de pequeno e calendário de grande", explica o dirigente.

Para 2011, o Duque bem que tentou. Buscou jogadores que se destacaram no Campeonato Estadual pelo Boavista, como Thiago (goleiro), Bruno Costa (zagueiro) e Tony (meia), e contratou reforços conhecidos, como Túlio Souza, Erick Flores e Abedi. Mas segundo o dirigente, o elenco não deu "liga".

A 13 pontos do vice-lanterna, o Salgueiro, o Duque de Caxias parece fadado a voltar à Série C. Mas se o resultado é ruim para o clube, pode ser positivo para uma reaproximação com a comunidade, uma vez que a pequena torcida tem se deslocado a Macaé ou Volta Redonda para acompanhar os jogos. Na Série C, "não há capacidade mínima exigida" para os estádios nas duas primeiras fases, segundo a CBF, e os 7 mil lugares do Estádio Romário de Souza Faria poderiam receber torcidas para os jogos.

O apoio, porém, está em segundo plano no clube. "Vou ser sincero: não tenho esse tipo de preocupação (com torcida). O clube é muito novo. Todo mundo divulga se é o menor público, se é a menor média... Mas ninguém leva em consideração que o clube é novo. Estava criando uma empatia quando subiu e foi proibido de jogar em seu estádio", analisa Alan de Paula, com um viés otimista de um eventual rebaixamento. "Acho até que a torcida vai aproximar mais porque a gente pode jogar (em casa), mas não é que o rebaixamento vai ser bom para a gente. Na verdade, vai ser uma mancha no clube, que tem uma história legal. Mas eu não sinto vergonha disso. Estou muito consciente da nossa situação. Tenho muita esperança de a gente conseguir dar essa guinada", completa.

Grêmio Barueri: a torcida quer, mas está esperando

O clube de Barueri virou uma espécie de patinho feio da Série B. Fundado em 1989, contava com o apoio político local, até que uma briga fez com que tivesse que se mudar para Presidente Prudente. Após o Campeonato Paulista de 2011, no qual foi rebaixado, acabou recomprado por empresários de Barueri. Aí, surge a desconfiança: os torcedores voltarão à Arena Barueri?

Segundo Domingos de Brito, presidente do clube, sim. E apesar das arquibancadas quase sempre vazias, o estádio local registra bons públicos oficiais - no 0 a 0 contra o Criciúma, mais de 11 mil ingressos foram vendidos. "Temos a arena aqui, um lugar muito importante para futebol. A torcida sentia falta de um time. As empresas daqui, mais de 3 mil em volta da cidade, se interessaram em ajudar, e pediram ingresso antecipado para funcionário", argumenta o dirigente.

Domingos de Brito acredita que uma boa campanha pode trazer de volta a torcida ao estádio. E até mesmo provoca: "a gente tem time na Série B que não tem torcedor, caso da Portuguesa. Aqui em Barueri, o torcedor gosta da Arena, gosta do time. Esse foi o meu interesse como empresário de trazer o time de volta para Barueri. A gente sabia que a dificuldade ia ser grande. O torcedor, vendo o time perder, vai se afastar, isso é natural", assegura.

E assim como em outros clubes emergentes, o plano é o mesmo: permanecer na Série B em 2011, para conquistar bons resultados em 2012. Desta forma, a torcida voltaria e o acesso seria possível. "O projeto era fazer 30 pontos na virada (de turno), faltou pouquinho (foram 23). Hoje, nós estamos na condição de se manter, nada de pensar 'vamos subir'", diz. "Sei que ano que vem pode ser mais difícil que esse ano, mas a gente vai estar mais preparado do que nesse ano", completa, em tom de certeza.

Salgueiro: longe de casa, mas com apoio

Profissionalizado somente em 2005, jogando em outra cidade e participando pela primeira vez em sua história da Série B do Campeonato Brasileiro. As condições para o Salgueiro ter uma boa média público são adversas - porém, mesmo assim, o time tem contado com o apoio vindo das arquibancadas quando atua como mandante.

Sem poder atuar em Salgueiro devido às reformas pelas quais o estádio da cidade passa, o caçula da segunda divisão têm mandado os seus jogos em Paulista, a 527 km de distância de sua cidade de origem. Ainda assim, a média de público do time até a 23ª rodada chega a 4.810, ficando muito próximo da média do campeonato (5.586), que é composto por uma grande maioria de clubes que já disputaram a elite do futebol brasileiro.

Para o presidente do clube, Clebel Cordeiro, dois fatores são fundamentais para essa questão. "O programa do Governo e a torcida do Salgueiro, que acompanha o time", afirma. O Salgueiro conta com uma iniciativa com a prefeitura para atrair o torcedor. A cada R$ 100 em nota fiscal, a pessoa pode trocar na Receita Estadual por um cupom, que dá direito a um ingresso para a partida do clube. Apesar dessa campanha, o time pernambucano não tem um projeto de marketing específico visando o aumento da média de público nos jogos da equipe.

Mesmo com o apoio que tem recebido dos torcedores, o presidente diz que o fato de atuar em outra cidade é prejudicial ao clube, que hoje está na zona de rebaixamento da Série B. "Jogando fora de casa os jogadores podem relaxar, pois ficam sem pressão. É maior a pressão jogando em casa. Time pode perder a identidade, não é a realidade dele. Isso atrapalhou muito".

São Caetano: "pequeno gigante" encara arquibancadas vazias

Vice-campeão da Copa João Havelange em 2000, do Brasileiro em 2001, da Copa Libertadores em 2002 e campeão paulista em 2004. Em pouco tempo de história, o São Caetano conseguiu grandes feitos no futebol sul-americano. Mesmo assim, o clube, que hoje vive uma difícil situação na Série B do Nacional, não conseguiu cativar uma numerosa torcida.

Na atual edição da segunda divisão do Brasileiro, o clube possui a média de pouco mais de 500 pessoas por partida como mandante, após os 11 primeiros jogos no qual atuou em casa pela Série B. O time conseguiu ter um público acima de mil pessoas em apenas uma oportunidade: diante do Goiás, pela 14ª rodada, 1.475 pessoas assistiram à partida no Estádio Anacleto Campanela.

Para o diretor de futebol da equipe do ABC, Genivaldo Leal, a proximidade da capital paulista e o fato de o clube ser recente (foi fundado em 1989) são os principais fatores por se ver o Anacleto Campanela tão vazio em dias de jogo. "Faz dez anos que a gente mudar isso. Estamos fazendo um trabalho com a prefeitura. A gente convida o pessoal das empresas, diminui o preço do ingresso...", explica sucintamente o dirigente.

Além do pouco apoio que recebe das arquibancadas, o time paulista também tem enfrentado dificuldades dentro do campo, já que está na zona de rebaixamento da Série B. Genivaldo acredita que uma situação está relacionada com a outra. "Com certeza, é só o time dar uma melhorada que isso (média de público) melhora", declara.

Americana: jovem demais para ter torcida

O Guaratinguetá vinha de uma ascensão meteórica no futebol paulista nos últimos anos. Após ser promovido à elite do Estadual em 2006, o time conquistou o título do Torneio do Interior em sua temporada de estreia no Paulista. Em 2008, a equipe do Vale do Paraíba terminou como líder na primeira fase da competição e acabou eliminada nas semifinais para a Ponte Preta.

No ano seguinte, o sucesso da equipe se ampliaria ao âmbito nacional, quando conquistou o acesso à Série B. Em outubro de 2010, em meio à disputa da segunda divisão veio a questão que gerou muita contestação em relação ao time: o Guaratinguetá anunciou que se mudaria para Americana.

Buscando sucesso em uma cidade que fica a 290 km de distância de seu "berço", o Americana manteve os bons resultados que havia obtendo nos últimos anos. Na atual edição da Série B, a equipe briga pelo acesso à elite do futebol brasileiro. Porém, ainda sem identificação no cenário nacional, a equipe possui uma média de público baixa (pouco superior a mil pessoas).

Para o auxiliar técnico da equipe, Evair, o importante para o clube agora é manter o foco em conseguir resultados e feitos expressivos. Assim, o time paulista irá conseguir ganhar representatividade e torcida.

"Só dessa maneira que você vai ser reconhecido. Se conseguir levar a cidade para a primeira divisão. Será um grande passo para o reconhecimento da cidade e a para a aceitação na cidade. Aí sim vai ter um por que para cobrar (um público maior no estádio)", afirmou o ex-jogador do Palmeiras. Sobre a questão da torcida, ele complementou: "está cedo ainda. Por enquanto, o time é novo na cidade. Está galgando a Série A. Acho que está tudo dentro do normal".

Na cidade do interior paulista, o tradicional Rio Branco já possui essa identificação. Evair acredita que "a rivalidade (entre as duas equipes) vai crescer com o tempo". Esse "tempero" no confronto poderá ser um dos pontos para trazer carisma ao time, que possui futebol, mas não tem ainda uma identidade.

Itaqui e Dinelson comemoram gol do Paraná na vitória contra o Náutico, no Estádio Durival de Brito
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Foto: Giuliano Lopes / Gazeta Press
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