Em tempos de grandes e importantíssimas manifestações por todo o país, tudo ganha grande proporção, sejam causas corretas, quanto equivocadas, vandalismo, como boas e geniais posturas. É a situação que a nossa comunicação atual, por meio de mídias sociais sem fontes e repleta de ‘achismos’, veículos jornalísticos parciais e pela velocidade das informações, que os pensamentos em massa naturalmente se disseminam.
Durante a maioria das manifestações a Copa do Mundo foi mencionada como um evento descartável pela população. Justo! Ao menos do ponto de vista de que temos urgências muito maiores no país e que todos conhecem. Eu mesma nunca achei o país preparado para um evento destes, mas o Brasil queria – ao menos os políticos. E depois vieram as Olimpíadas! Não podia! É muita coisa para uma população e governo despreparados.
A Copa tem seus benefícios pois junto vêm investimentos particulares interessantes para o desenvolvimento do país. Inegável, mas temos nossa tradicional corrupção. Um comitê de transparência era divulgado logo que o Brasil foi escolhido como sede, mas os custos dos estádios foram aumentando exorbitantemente, sem pudor.
Lembro-me muito bem no fim de Outubro de 2007, muitas pessoas comemorando, outras reclamando – eu era uma dessas. Eis que a FIFA anuncia. Está feito, o Brasil implorou pelo evento da FIFA. Ele conseguiu. E assinou um termo de cumprimento das ‘regras’ e padrões de qualidade do evento. Que façamos o melhor então. Que possamos tirar o maior proveito possível em todas as áreas. Afinal, com o evento, o Brasil poderia se projetar como um país sustentável (lema), hospitaleiro, atrair investimentos, baratear tecnologias. Mas temos nossa política, aquela, corrupta.
Era a hora! Outubro de 2007, o momento de uma manifestação do porte da que temos hoje nas ruas. Nada!
São tantos os benefícios que um país pode ter com um evento desse porte, até mesmo uma reformulação urbana, como fez Barcelona com as Olimpíadas. Só dependia do país aproveitar essa visualização mundial para atrair investidores internacionais, desengavetar projetos, criar concursos nacionais e/ou internacionais que trouxessem novas posturas e iniciativas e soluções para a cidade e para o país.
Mas temos a nossa tradicional corrupção. Desde escolhas de cidade-sede estranhas como São Lourenço da Mata, PE, ou projetos de estádios trocados repentinamente como em Cuiabá já levantavam suspeitas. E então os custos de todas as obras aumentavam, dobravam, enquanto víamos projetos sendo realizados mais rapidamente em outros países por custos muito menores. Temos o problema dos altíssimos impostos e de estar longe de vários fornecedores de materiais contemporâneos e tecnológicos que transformariam nossos estádios e cumpririam o que o Brasil prometeu à FIFA, mas os custos superam tudo isso.
Veio Romário como uma surpresa com a exposição de Teixeira, mas não passou muito disso. O dinheiro foi embora, os investimentos privados vieram e ainda virão, mas poderiam ser muito maiores em valor e quantidade. Mas os investimentos públicos que teriam que ser feitos ainda estão parados, outros nem começaram. Se começarem, terão verbas extrapoladas novamente. É a nossa tradicional corrupção.
Várias manifestações se dirigiram às portas dos estádios durante os jogos da Copa das Confederações mobilizando-se contra inúmeras causas e contra a Copa. Teve até manifestação na cerimônia de encerramento.
A Copa do Mundo trouxe, sim, pequenos investimentos em educação através de instrução de prestadores de serviço através do Secopa, trouxe cursos de idiomas iniciais, mas mostra a esses profissionais a importância em se educar e a atender diversos públicos e culturas. Trouxe investimentos em pesquisa de empresas privadas, como, por exemplo, a Giroflex-forma, que desenvolveu através de pesquisa própria um material de garrafas PET recicladas que cumpre e supera as exigências da FIFA, mantendo durabilidade e resistência que antes não cumpriam. Este tecido foi utilizado em cadeiras VIPS do Maracanã e se o governo souber aproveitar, pode ser estendido a equipamentos públicos, incluindo ônibus, diminuindo custos e mantendo a segurança já que não é inflamável – é avanço, desenvolvimento, inovação. Selos LEED de sustentabilidade foram conquistados e agora projetos privados também buscam sustentabilidade por todo o país – é conscientização ambiental.
Mais um engano da massa é o incentivo fiscal do projeto do Corinthians, também polemizado. O projeto de equipamento esportivo se beneficiou de um incentivo previsto em lei, assim como outras leis viabilizam e incentivam o restauro, os investimentos em cultura de grande, e principalmente, pequeno porte. São leis que incentivam o privado a investir em regiões ou serviços estratégicos. São benefícios que estão lá previstos, para qualquer um que queira investir, basta seguir as exigências e zoneamento. No caso de Itaquera, tem que ser feito o serviço de iluminação, pavimentação e acesso do entorno. Se não fosse o projeto, deveria ser responsabilidade do governo e sabemos muito bem que o governo não tem interesse em investir na Zona Leste. A escolha dessa região para o estádio jogou o interesse para o setor privado. Cabe agora a nossa política fiscalizar e não deixar que se faça mais obras como o shopping JK Iguatemi, em SP, com promessas de entorno sem ser cumpridas e inaugurado mesmo assim.
É a nossa tradicional política corrupta ‘aceita’ por anos a fio que geraram inúmeras obras e licitações fraudulentas, direcionadas e/ou superfaturadas como pontes, estradas, transposição do rio São Francisco, tarifas e também outras obras públicas como hospitais e escolas, compra de equipamentos hospitalares e policiais, ambulâncias, contratação de funcionários fantasmas, serviços não prestados, mas pagos. A Copa do Mundo, ou melhor, os estádios, foram só mais instrumentos para a corrupção. A Copa tem benefícios, talvez não diretamente a você, mas ele viria diretamente a comerciantes, restaurantes, hotéis, companhias aéreas, empresas locais que fornecem tecnologia ou serviços de manutenção, pedreiros e vários profissionais da construção civil, ambulantes, todo o turismo (incluindo artesãos), motoristas, taxistas, tradutores, pesquisadores, fotógrafos, designers, entre muitos outros. Tudo isso desenvolve o país, faz com que cada um aprimore sua área, melhorando a cidade como um todo. Indiretamente chega a você. A Copa traria, se não fosse a corrupção, investimentos urbanos de primeira, não passaria por cima de direitos humanos como no caso das desapropriações próximas ao estádio de Itaquera, afinal, a FIFA não pediu essa solução específica, nem mesmo tinha pedido em Itaquera, só não concordou com o absurdo do Morumbi. A cidade é responsável pela sua posição. A Copa ainda vai trazer benefícios ao país indiretamente, caso aconteça com sucesso e empresas consigam trazer fábricas para cá, barateando custos para o nosso desenvolvimento tecnológico e da construção civil. Trará turistas por anos e anos graças a nossa hospitalidade. Isso é importante, a Itália, por exemplo, tem grande parte do seu PIB proveniente do turismo, e o Brasil, do tamanho que é, com a diversidade que tem, lucra pouco com o setor.
Você não é contra a Copa! Você é contra a corrupção, mais uma vez.
Seja contra o aumento de tarifas, contra os custos da Copa que foram muito além do previsto, contra o mensalão, contra o nosso atual sistema político e impunidade. Não é contra um evento esportivo, não é contra a FIFA, não é ela a vilã. Não é boicotando o evento que se corrigirá a moral na política. Manifestar no evento é um tiro no pé, não necessariamente no seu, mas no país, nos que lucrarão durante o mês do evento como nos anos seguintes com retorno do público e com as Olimpíadas. Devemos continuar com as manifestações com ordem, ou seja, não nos eventos, isso não pune políticos.
Não estou aqui para botar as mãos no fogo pela FIFA, mas ao ler o manual de requerimentos da FIFA, vemos que hospitais de qualidade são requeridos nas proximidades dos estádios, segurança e iluminação pública são exigidas, assim como o acesso aos estádios, ou seja, investimentos públicos ou privados (tanto faz) em aeroportos, calçadas, rodoviárias, trens, metrôs, avenidas – mas a FIFA quer ver a cidade funcionando, para seu evento e para legado. Porém, apesar de firmar o acordo com a FIFA, o país se limitou aos estádios, fazendo pouco caso do investimento urbano, mesmo com discussões proveitosas ao longo dos anos. Não é culpa da FIFA, ela nem mesmo requer tanto, ela sugere muito, em benefício do país e do evento. É isso que faz aumentar o interesse dos países em sediar o seu evento. A Copa é o produto, e o nosso país lutou para conseguir essa oportunidade que há anos tem sido jogada fora. Adivinhe por quem?
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